Cadê o pau-brasil? artigo de Frank Guggenheim e Luis Piva
[O Globo] O Brasil é o único país batizado com o nome de uma árvore, mas fez muito pouco para honrar esse privilégio. O pau-brasil, abundante nos tempos do Descobrimento, hoje figura na lista de espécies ameaçadas de extinção e revela de forma emblemática nosso pouco-caso com o meio ambiente.
Quando falamos da destruição do pau-brasil, em tempos de discussões internacionais sobre mudanças climáticas, sinalizamos que o menosprezo do país em relação à questão ambiental poderá cobrar em breve um alto preço.
Os resultados tímidos da reunião em Bali demonstram que o Brasil e os demais países ainda relutam em assumir suas responsabilidades para resolver a crise climática do planeta.
O governo brasileiro vem afirmando sistematicamente que a questão ambiental não pode atravancar o direito de alcançarmos o mesmo padrão de desenvolvimento dos países desenvolvidos, numa reedição do discurso adotado na Conferência da ONU em Estocolmo, em 1972 (que precedeu a Eco-92), quando “convidou” empresas de todo o mundo a investir no país mesmo que implicasse trazer, a reboque, sua poluição.
Na década de 1970, o ambientalismo ainda engatinhava, bem como o conhecimento dos problemas causados por desmatamento, poluição dos mares, rios e ar; hoje essa questão move líderes mundiais de lá para cá e impulsiona a mudança de atitudes até mesmo no setor empresarial, cada vez mais atento à necessidade de associar seu negócio a práticas sustentáveis.
O meio ambiente não é entrave para o desenvolvimento e o Brasil tem todas as condições de crescer preservando. Na Amazônia, por exemplo, existem mais de 100 milhões de hectares abandonados, que podem suportar a expansão da fronteira agrícola na região. Zerar o desmatamento da Floresta Amazônica é, portanto, perfeitamente possível.
A inserção geopolítica do Brasil no mundo se faz hoje pela questão ambiental. É a Amazônia que garante nosso passaporte para o debate das grandes questões mundiais. Mas o Brasil tem evitado se comprometer com políticas que promovam a redução de suas emissões de gases do efeito estufa, boa parte delas provenientes do desmatamento na região.
Destruímos a árvore-símbolo do país e, se não alterarmos logo nossa relação com o gigantesco patrimônio ambiental que temos, pouco restará desse legado às próximas gerações. O Brasil precisa superar um modelo ultrapassado de desenvolvimento, que vem sendo adotado desde que Cabral chegou às nossas praias e derrubou o primeiro pé de pau-brasil.
FRANK GUGGENHEIM é diretor-executivo do Greenpeace Brasil. LUIS PIVA é coordenador da campanha de Clima do Greenpeace/Brasil.
(EcoDebate) artigo originalmente publicado pelo O Globo, 21/12/2007