Aquecimento global. A mãe de todas as ameaças, segundo Rubens Ricupero
“A maior ameaça que o mundo enfrenta é o aquecimento global. Como diria Saddam Hussein, é “a mãe de todas as ameaças”. As outras são limitadas – terrorismo, armas nucleares, Oriente Médio. O aquecimento global pode acabar com a humanidade”, afirma Rubens Ricupero, ex-secretário-geral da Unctad, em entrevista a Sonia Racy publicada no jornal O Estado de S. Paulo, 25-11-2007.
Segundo ele, “temos um horizonte curto, de oito ou dez anos, para conter a emissão de gases que provocam o efeito estufa. Os mais otimistas falam em 15 anos. Se não fizermos o necessário, nesse período, o processo torna-se irreversível. Desses 10 ou 15 anos para a frente, mesmo que se faça tudo direitinho, não adiantará mais. Haverá um encadeamento de efeitos, um engatando no outro”.
E Ricupero explica:
“A intensa emissão de gases poluentes, pelas fábricas, automóveis, queimadas, etc., aumenta a temperatura de toda a Terra. Nosso futuro depende de limitarmos esse aumento a 2 graus centígrados, no máximo 2,4 graus, nos próximos 50 anos”.
E continua:
“Digamos que nada se faça até o fim do século. A temperatura média do planeta subirá 3 ou 4 graus e entraremos em um território inexplorado, que as civilizações humanas nunca enfrentaram antes. Veja só: um aumento de cinco graus centígrados, em média, é o que nos separa da última era glacial, há uns 12 mil anos.
Segundo Ricupero, “os dois maiores poluidores do mundo são os EUA e a China. Se eles não aderem, tratado nenhum terá importância”.
Falando do papel do Brasil neste contexto, Ricupero atesta que o País “tem importância mundial em duas áreas. As negociações agrícolas, pois é um grande produtor, e a política ambiental. Nesta, temos tudo para um papel preponderante. Temos a maior floresta tropical, a maior reserva de água doce, a maior biodiversidade, uma matriz de energia limpa e a maior experiência mundial em etanol e álcool”. Mas, segundo ele, o Brasil não tem poder de influir nas regras “porque escolheu um papel incompreensível de solidariedade à China e à India, que são “países sujos” nessa matéria. E nem conseguimos pôr fim às queimadas na Amazônia. Perdemos a autoridade moral para exigir qualquer coisa dos outros”.
E ele conclui, afirmando esperar que o mundo tome juízo nos próximos 10 ou 15 anos. “É um ato de esperança. Pelas realidades atuais, o futuro é sombrio”.
(www.ecodebate.com.br) entrevista publicada pelo IHU On-line, 25/11/2007 [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]