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Artigo

Lambe-lambe, por Nelson Batista Tembra

[EcoDebate] Agência Estado publicou, no último dia 20, que “Lula quer inaugurar substituta da Ceará Steel até 2010”. A companhia Siderúrgica de Pecém será construída pela Vale do Rio Doce e a coreana Dongkuk. “O LIBERAL” também publicou a notícia mais completa, pois informou o que nesta mesma ocasião, coube a Agnelli e ao Governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), a fervorosa defesa do uso do carvão mineral, que ambientalistas classificam como altamente poluente.

“Tivemos toda a preocupação com a questão ambiental e visitei unidades que utilizam carvão”, disse o governador. “Nesses lugares você é capaz de lamber o chão”, disse, provocando risos na platéia onde estavam quatro ministros, empresários do setor, e muitos parlamentares cearenses. Lamentavelmente, gente graúda literalmente “lambe o chão” por onde passam os projetos da giga-mineradora.

O impacto radiológico resultante da queima do carvão para gerar energia elétrica vem sendo investigado no Reino Unido pelo National Radiological Protection Board (NRPB), considerando várias formas de exposição: liberação de cinzas e radônio para atmosfera, descarte de cinzas, uso desse material como subproduto industrial e outras. Resultados preliminares indicam que as exposições mais elevadas resultam do emprego das cinzas na construção civil e que a liberação na atmosfera contamina a vegetação local.

Resta saber se o governador do Ceará pretende utilizar o volume gigantesco de cinzas na construção de casas populares para os queridos irmãos nordestinos, como forma de tratamento e destinação desses resíduos, o que chegou a ser ventilado aqui no Pará.

No Pará, o Ministério Público Estadual condenou a versão original do projeto e mandou a Vale refazer o “dever de casa” relativo ao licenciamento ambiental da Usina Termelétrica que a empresa deseja implantar no município de Barcarena. Enquanto há resistência no Pará, existe toda a receptividade no Ceará, e tudo indica que os neocolonizadores da Amazônia continuarão levando o minério paraense para beneficiamento e agregação de valor em outras praças, não ficando aqui nem o apito do trem. Enquanto os cearenses começam a lamber o chão, os paraenses continuam lambendo sabão…

Nelson Batista Tembra, Engenheiro Agrônomo e Consultor Ambiental, com 27 de experiência profissional, é colaborador e articulista do EcoDebate