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Capitais desperdiçam metade da água que retiram dos mananciais e a falta de saneamento afeta praticamente um terço dos moradores

A água perdida em vazamentos, fraudes e submedições nas 27 capitais brasileiras seria suficiente para atender o consumo diário de 38 milhões de pessoas. Os números são de estudo do Instituto Socioambiental (ISA) que será divulgado na quarta-feira (21). As perdas atingem, em média, 45% do volume retirado dos mananciais que abastecem os centros urbanos.

Para Marussia Whately, coordenadora da campanha De Olho nos Mananciais, promovida pelo ISA, os números reacendem a necessidade de um trabalho de conscientização sobre o uso racional de um bem cuja escassez pode trazer grandes transtornos à humanidade. Segundo ela, o cidadão precisa entender que pequenas atitudes fazem grande diferença na economia de água.

“Fechar a torneira ao escovar o dente ou fazer a barba e consertar rapidamente pequenos vazamentos que surgem em casa podem gerar grande economia e ajudar a preservação da água”, afirma Marussia. “Tudo é uma questão de mudança de hábitos.”

No ranking do desperdício, duas capitais distantes e de perfil distintos se destacam. Em volume, o Rio de Janeiro lidera as perdas diárias, que equivalem a 618 piscinas olímpicas. Em percentual, no entanto, a primeira posição fica com Porto Velho (RO), que joga fora 78% do que retira dos mananciais.

Na maior cidade do país, é o consumo per capita que impressiona. O valor médio de 221 litros diários consumidos por habitante em São Paulo é o dobro do nível considerado ideal pela Organização das Nações Unidas.

Segundo Marussia, além de promover campanhas de conscientização, o Poder Público deve adotar instrumentos de compensação para os moradores que protegem e contribuem para a produção de água de boa qualidade. “Um bom exemplo é o município de Extrema, em Minas Gerais, onde uma legislação municipal permite que a prefeitura pague pela proteção de áreas, dando benefício para proprietários com a isenção de impostos”, ressalta.

Além de desperdiçarem a água que sai das torneiras, os brasileiros deixam um rastro de sujeira nos rios. O estudo do Instituto Socioambiental (ISA) que traça um panorama do desperdício de água nas capitais do país também mostra uma realidade preocupante em relação à falta de acesso ao saneamento, que afeta quase um terço da população dessas cidades.

O documento revelará que o saneamento básico segue inacessível para milhões de brasileiros. Mesmo nas maiores cidades, o problema persiste.

De acordo com o estudo, 30% dos moradores das capitais, o que equivale a pelo menos 13 milhões de pessoas, vivem em moradias sem rede de coleta de esgoto. O quadro é mais grave na região norte, onde apenas 3% dos moradores de Manaus (AM), Belém (PA) e Rio Branco (AC) contam com saneamento.

A coordenadora da campanha De Olho nos Mananciais, do ISA, Marussia Whately, afirma que a conseqüência da falta de coleta adequada de esgoto aumenta a poluição ambiental. “Uma das principais causas de poluição dos rios é o esgoto lançado sem tratamento. O descaso com a questão nas cidades provoca enchentes e contaminação de mananciais”, destaca.

Para Marussia, a escassez de saneamento também representa um problema de saúde pública, à medida que aumenta o risco de várias doenças associadas à água. “Cerca de 70% das doenças são de veiculação hídrica, como diarréia dengue e malária, responsáveis pela morte de muitas crianças”, explica.

A especialista defende a ampliação dos recursos destinados à instalação de redes de esgoto e de estações de tratamento de água. “É preciso encarar o saneamento não como gasto, mas como investimento prioritário”, ressalta.

A campanha De Olho nos Mananciais tem um ato público previsto para 2 de dezembro em São Paulo – na Praça Buenos Aires, no bairro de Higienópolis. O local, salienta Marussia, registra um dos maiores consumos per capita de água da capital paulista.

Segundo Marussia, a idéia é levar às pessoas informações sobre a precariedade dos mananciais e conscientizar a população a mudar os hábitos de consumo e a desperdiçar e poluir menos. A iniciativa já ganhou um reforço importante. Segundo o ISA, a modelo Gisele Bündchen cedeu a imagem para peças de divulgação.

matérias de Marco Antônio Soalheiro, repórter da Agência Brasil, publicadas pelo EcoDebate.com.br