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A mangueira como elemento de arborização urbana, por Nelson Batista Tembra

[EcoDebate] A mangueira é um dos símbolos históricos de Belém, mas devemos considerar que, à época em que foi efetivamente empregado como elemento de arborização urbana, não havia ruas asfaltadas, calçadas, linhas de transmissão de energia elétrica e telefonia, elevado número de construções civis e fluxo intenso de veículos. Nos dias atuais, com todos esses elementos presentes, há necessidade de podas drásticas que descaracterizam as mangueiras completamente, pois nossos administradores sempre entenderam que a natureza deve se adequar às obras dos homens, quando correto é as obras dos homens se adequarem à natureza. Um agravante é o fato das raízes das mangueiras serem do tipo tabular, ou seja, são mais superficiais do que profundas, crescendo para os lados e ficando expostas na superfície do solo, estabelecendo-se aí uma verdadeira disputa por espaço entre as árvores que arrebentam as calçadas e o homem que corrige o calçamento.

Existem regras técnicas que estabelecem diferentes tipos de arborização conforme a situação na paisagem urbana. Os solos, responsáveis pelo suporte físico das árvores e pelo substrato nutritivo do qual depende seu desenvolvimento, na cidade, apresentam-se compactados devido ao grande número de pavimentações que não permitem o escoamento das águas. Resíduos sólidos, despejos residenciais e industriais poluem e comprometem o solo urbano. A qualidade do ar fica comprometida pela combustão de veículos automotores e pela emissão de poluentes advindos de atividades industriais.

O cadastramento e controle das ruas e praças quanto a dimensões, localização das redes e outros serviços urbanos, identificação das árvores, data do plantio e época de poda, constituem-se importante ferramenta e possibilitam melhor planejamento, implantação e monitoramento da arborização urbana.

A rede de energia elétrica deve ser implantada preferencialmente nas calçadas oeste e norte, e sob elas árvores de pequeno porte. Nas calçadas leste e sul devem ser plantadas árvores de porte médio, observando-se as dimensões da via pública e o paisagismo local. Esta distribuição visa aperfeiçoar a utilização do sol como forma de iluminação.

Nas avenidas com canteiro central o posteamento deve ser implantado nas calçadas laterais. O canteiro central deve ser arborizado, podendo ser utilizadas espécies de médio a grande porte, aí inclusive a nossa querida e respeitada mangueira. Nas quadras reservadas para áreas verdes os passeios devem ser isentos de vegetação e postes, exceto de iluminação pública, ficando para o uso de pedestres.

Nas calçadas onde existe rede elétrica as árvores devem ser espécies de pequeno porte, obedecendo aos recuos necessários, enquanto nas calçadas onde não existe a rede elétrica podem-se utilizar espécies de médio porte, adequadas à paisagem local e ao espaço disponível.

Nos locais onde os postes estão instalados no lado correto das calçadas, porém as árvores existentes estão sob a fiação, é necessária a substituição por espécies de porte adequado, mas isso deve ser efetuado intercalando-se as novas às velhas, que somente devem ser retiradas após o completo desenvolvimento das novas. Nos locais onde os postes estão instalados no lado não recomendado das calçadas, e sob a fiação há árvores de médio e grande porte, deve ser realizada a substituição por espécies de porte menor e feitas podas permanentes ou encontradas alternativas para a iluminação.

Podem-se utilizar espécies nativas ou espécies exóticas, observados os critérios citados e as características das espécies. É importante a escolha de uma só espécie para cada rua, ou para cada lado da rua ou para certo número de quarteirões. Isso facilita o acompanhamento de seu desenvolvimento e as podas de formação e contenção, quando necessárias. Nos passeios, devem-se plantar apenas espécies com sistema radicular pivotante – as raízes devem possuir um sistema de enraizamento profundo para evitar o levantamento e a destruição de calçadas, asfaltos, muros de alicerces profundos, com preferência a espécies que não dêem flores ou frutos muito grandes, que sejam rústicas e resistentes a pragas e doenças, pois não é aconselhável o uso de fungicidas e inseticidas no meio urbano; e que sejam de crescimento rápido, pois em ruas, avenidas ou nas praças ainda estão muito sujeitas ao vandalismo, sobretudo quando ainda jovens.

É preciso coragem e determinação para reconhecer que a mangueira não é a espécie ideal para arborizar em muitas ruas e avenidas de nossa querida Belém, e substituir a tradição e a emoção pela boa técnica.

Nelson Batista Tembra, Engº Agrônomo, CREA/PA 4.765-D
Engenheiro Agrônomo e Consultor Ambiental, com 27 de experiência profissional

artigo publicado pelo EcoDebate.com.br