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Usina de Balbina é dez vezes pior para efeito estufa que termelétrica, estima pesquisador

Luana Lourenço

Inaugurada no final da década de 80, a Usina Hidrelétrica de Balbina, no Amazonas, é citada como um erro histórico por cientistas e gestores pela baixa geração em relação à área alagada, e pelas conseqüências disso. Balbina é apontada como problemática também no que diz respeito à emissão de gases de efeito estufa, considerados causadores do aquecimento global. A liberação de dióxido de carbono e metano é superior à de uma usina térmica de mesmo potencial energético.

“O índice de emissão de Balbina é dez vezes maior que o de uma termelétrica a carvão. Ela emite 3 toneladas de carbono por megawatt-hora; em uma térmica esse índice é de 0,3 tonelada de carbono por megawatt-hora”, compara Alexandre Kemenes, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Os valores de carbono consideram tanto o dióxido de carbono (CO2) quanto o metano (CH4).

Segundo Kemenes, que durante quatro anos estudou as emissões na represa e a jusante dela (rio abaixo), os altos níveis de gases do efeito estufa da usina podem ser explicados por três motivos principais: a grande área do reservatório, o não-desmatamento da área antes do alagamento e a estabilidade climática da região amazônica – que cria extratos de diferentes temperaturas na água, com diferentes concentrações de gases. “Em Balbina, só 8% da área total [da represa] foi desmatada. Antes de ser alagada, a floresta estava absorvendo carbono, depois, morreu. Além de deixar de absorver, passou a emitir carbono. O problema é duplo”, comenta.

Balbina é responsável por 3 milhões de toneladas de carbono por ano, segundo o pesquisador. O diretor da Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) questiona os números e afirma que Kemenes errou na metodologia, o que extrapolou os dados. “Ele errou porque pegou metano do lugar errado, muito fundo”, pondera. Kemenes coletou metano ao longo do rio, cerca de 30 metros. Para Pinguelli, o correto seria captar entre 15 e 30 metros. Como a concentração do gás aumenta com a profundidade, os resultados teriam sido superestimados.

“Não há consenso. Eles estão questionando, mas também não certeza; não têm trabalhos sobre isso”, responde Kemenes. Apesar das divergências numéricas, estudos da Coppe também confirmam que Balbina emite mais gases de efeito estufa que uma termelétrica.

Na avaliação do presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, a usina é um caso isolado no cenário energético brasileiro. “Balbina é só uma exceção que confirma a regra. Não pode ser tomada como referência para se supor que hidrelétricas emitam gás metano de maneira significativa”.

De acordo com o relatório Emissões de Dióxido de Carbono e de Metano pelos Reservatórios Hidrelétricos Brasileiros, da Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima, além de Balbina, outras duas hidrelétricas brasileiras, Samuel (RO) e Três Marias (MG), têm emissões maiores que termelétricas de mesmo potencial.

Com um lago de 2.360 quilômetros quadrados, o potencial energético da usina é de 250 megawatts. Com uma área semelhante, a Hidrelétrica de Tucuruí, também na Amazônia, produz cerca de 4.240 megawatts, por exemplo. “Balbina é a pior usina brasileira”, avalia o professor Luiz Pinguelli Rosa, da Coppe.

Brasil não corre o risco de “novas Balbinas” na energia, avalia presidente de estatal

Para o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE, estatal responsável por estudos para o setor de energia), Maurício Tolmasquim, as novas usinas hidrelétricas previstas para o país – 92 estão listadas no Programa da Aceleração do Crescimento (PAC) – não correm o risco de repetir os problemas da Usina Hidrelétrica de Balbina, no Amazonas, que além de baixo potencial energético, emite grandes quantidades de gases de efeito estufa.

O relatório Emissões de Dióxido de Carbono e de Metano pelos Reservatórios Hidrelétricos Brasileiros, aponta que “o risco de emissões de gases dos efeitos estufa [em hidrelétricas] pode ser reduzido: evitando-se a baixa densidade de potência na escolha dos reservatórios (watts/metro) e desmatando-se o reservatório antes da inundação”.

De acordo com o presidente da estatal, a preocupação com influência nas mudanças climáticas é levada em conta nos projetos, e novas hidrelétricas, como as de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira (RO) não correm o risco de se tornarem “novas Balbinas”. “Para cada megawatt gerado nas usinas do Madeira será alagado apenas 0,08 quilômetro quadrado [em Balbina, a área alagada é de 0,57 para cada megawatt]. Além disso, não implicará submersão de vegetação”, afirma.

Apesar de concordar com o prognóstico, o diretor da Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), Luiz Pinguelli Rosa, avalia que “a questão das emissões tem que ser tratada [pelo governo] com maior relevância ao se pensar em novas usinas”.

Para Pinguelli, investir em hidrelétricas ainda é a solução energética mais viável para o país, “desde que sejam tomados cuidados para não repetir erros”. Ele exemplifica com um deles: “Ao decidir a usina, deve-se levar em conta que área vai ser inundada e a biomassa já existente”.

“As hidrelétricas são uma ótima forma de obtenção de energia, mas tem que ser bem pensadas”, comenta o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Alexandre Kemenes. “Têm que ser feitas de forma racional, com geração de energia ambientalmente viável.”

matérias da Agência Brasil, publicadas pelo EcoDebate.com.br