Pesquisadora questiona o aquecimento global e diz que influência humana no clima do planeta é menor do que se imagina
“O homem tem mania de querer controlar tudo, e, quando se vê confrontado com a impossibilidade de controlar o clima, surge a idéia de que há um aquecimento global e de que ele é motivado pela ação humana”
Rodolfo Borges
Da Secretaria de Comunicação da UnB
O aquecimento global é o assunto da moda. Entre os indicados para receber o Prêmio Nobel da Paz 2007 estão inúmeras personalidades ligadas à causa ambientalista, que visa brecar o aumento da temperatura do planeta. O nome mais forte para receber o prêmio de US$ 1,5 milhões é o do ex-vice-presidente norte-americano (e ex-candidato à presidência) Al Gore, vencedor do Oscar 2006 de melhor documentário pelo filme Uma Verdade Inconveniente. Desde que perdeu as eleições de 2000 à Casa Branca para o atual presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, Gore se empenha em uma luta comovente contra o aquecimento global.
O tema está entre as maiores preocupações das mais importantes lideranças mundiais. Em dezembro, os países que ratificaram o Protocolo de Kyoto – que estabelece limites para a liberação de CO2 e outros gases na atmosfera – se encontram em Bali (Indonésia) para debater os desmembramentos do acordo e traçar os novos rumos da luta ambiental. A mobilização é tão grande, que não sobra tempo para se perguntar se, de fato, o planeta está passando por um processo irreversível de aquecimento, e se nós somos os culpados por isso. Mas, por incrível que possa parecer, entre os pesquisadores que estudam o clima existem os que consideram que a ação humana não é a principal razão para as mudanças climáticas do planeta. A especialista em Climatologia Juliana Ramalho é uma delas.
Juliana é pesquisadora do Laboratório de Climatologia Geográfica da Universidade de Brasília (UnB). Na entrevista abaixo, concedida à UnB Agência, a doutora em Geografia questiona o aquecimento global e diz que a influência humana nas mudanças climáticas do planeta é menor do que se imagina. “Se tivesse que estabelecer um percentual, eu diria que 60% das mudanças climáticas devem-se a ciclos naturais e apenas 40% decorre das ações do homem – e ainda estou valorizando muito a ação humana”, considera.
Segundo Juliana, as teorias que defendem o aquecimento global recebem mais atenção porque foram cunhadas por países do hemisfério norte e porque são mais apelativas do que análises ponderadas sobre as mudanças climáticas. A última das várias pesquisas que associam a ação do homem a um provável aquecimento global foi realizada na Universidade de East Anglia, na Grã-Bretanha, e publicada esta semana pela revista Nature. O estudo diz que a humanidade também afeta a umidade do planeta.
Apesar de dissociar a causa ambientalista das mudanças climáticas globais, Juliana destaca a importância de preservar o meio ambiente. “Essa discussão é válida para alertar as pessoas de que o problema ambiental é sério. Não necessariamente porque ele vai causar mudanças climáticas, mas porque, a cada dia, mais pessoas sofrem”, defende. Na conversa abaixo, a pesquisadora ainda afirma que a humanidade transfere para o clima seus problemas de organização, e que o homem consola seu sentimento de impotência ao acreditar que pode controlar a temperatura do planeta.
“Ainda que nós estejamos passando por mudanças climáticas, elas não significam necessariamente um aquecimento global, pois algumas regiões do planeta sofrem resfriamento”
UnB AGÊNCIA – É possível questionar o aquecimento global?
JULIANA RAMALHO – O aquecimento global não é um consenso, nem mesmo dentro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). E, ainda que nós estejamos passando por mudanças climáticas, elas não significam necessariamente um aquecimento global, pois algumas regiões do planeta têm sofrido queda de temperatura. Existe uma corrente, aliás, que considera que nós estamos passando por um período de resfriamento.
UnB AGÊNCIA – Quer dizer que, ao contrário do que se ouve falar todo dia, a temperatura do planeta não tende a aumentar?
RAMALHO – Não está necessariamente acontecendo um processo irreversível de aquecimento global. Isso não é algo que podemos afirmar com tanta certeza. Nós trabalhamos com modelos matemáticos que fazem previsões. Mas os modelos mais usados não levam em conta fatores como o relevo, nem conseguem simular o papel dos oceanos corretamente. Portanto, não temos como dizer precisamente que essa temperatura vai continuar aumentando. Se pegarmos os registros da estação do Instituto Nacional de Metereologia (Inmet) aqui do Distrito Federal (DF), vamos perceber que não houve crescimento. As temperaturas mais altas daqui foram registradas em 1963 e em 2007, sendo que o registro deste ano ocorreu no Recanto das Emas, e, nesse caso, é preciso levar em conta o fator urbanização.
UnB AGÊNCIA – Esse tipo de raciocínio relativiza o impacto da influência do homem sobre o clima. Se não é por nossa causa, por que as mudanças climáticas ocorrem?
RAMALHO – Algumas variações são conseqüências de ciclos naturais da Terra (existem ciclos que duram cinco anos, outros que levam 30 anos, 40 mil anos, etc), e tudo indica que nós estamos em um período de transição, que é sempre conturbado – com furacões, secas em alguns lugares e muita chuva em outros. De acordo com os nossos dados (do Laboratório de Climatologia Geográfica da UnB), nós estaríamos no final de um ciclo chamado Oscilação Decadal do Pacífico (ODP). Ele é similar ao El Niño e à La Niña, mas estes ocorrem em um período de seis meses a um ano, enquanto a ODP dura de 10 e 30 anos. Nós devemos estar no fim de um desses ciclos de 30 anos. Se você pegar matérias de jornais e revistas dos anos 1970, vai ver que as manchetes diziam que o mundo estava congelando. Logo na década seguinte, já começou o período de aquecimento.
UnB AGÊNCIA – O que define esses ciclos?
RAMALHO – Este ano, nós estamos passando pelo fenômeno La Niña, que provoca o resfriamento das águas do Oceano Pacífico e muda toda sua circulação. É um ciclo natural, que nós atribuímos à radiação solar. Pouco se fala nisso, mas o sol não emite energia de forma constante, essa emissão varia. É possível identificar isso em uma estação meteorológica. Existem manchas e tempestades solares. As tempestades acontecem quando o Sol emite radiação com muita força. As manchas representam o contrário. Então, como nós tivemos o resfriamento das águas do Pacífico, provavelmente este ano a quantidade de radiação esteve um pouco menor. É por isso que se identifica estiagem aqui e chuva no sul do país e na Ásia. Isso altera toda a circulação do planeta.
UnB AGÊNCIA – Se isso sempre aconteceu, por que nós só estamos dando tanta atenção às mudanças climáticas agora?
RAMALHO – Percebemos essas mudanças mais claramente porque a população do planeta nunca foi tão grande. Nós usamos os recursos como nunca e modificamos a superfície de um jeito que ela nunca foi modificada. Isso muda a repercussão dos fenômenos naturais. Uma chuva provoca alagamento e inundação porque nós tornamos o solo impermeável. Mais gente vai morrer por causa de um furacão porque existe mais gente morando na área por onde ele passa.
UnB AGÊNCIA – Quer dizer que nós transferimos as responsabilidades dos nossos problemas estruturais para o clima?
RAMALHO – Exatamente. Em 2004, eu fui, junto com a Defesa Civil, à Vila Cauí (no Núcleo Bandeirante), onde tinham caído três casas. Só que elas estavam na beira do córrego Riacho Fundo. Para construí-las, foi retirada a mata ciliar do local, e isso aumentou o assoreamento. Aí veio uma chuva, que de fato foi muito forte, e levou as casas. A culpa, aparentemente, é daquela água, que deveria ter caído ao longo de todo o mês, e veio em apenas um dia. Mas não. O problema é do governo, que permite que as pessoas construam suas casas ali. Se você construir a sua casa em um morro, a água da chuva vai derrubá-la.
“Sempre deu mais dinheiro para a pesquisa falar da catástrofe”
UnB AGÊNCIA – Não é todo dia que se ouve falar que as mudanças climáticas da Terra são naturais. São mais numerosos os pesquisadores que corroboram a tese do aquecimento global?
RAMALHO – Sempre deu mais dinheiro para a pesquisa falar da catástrofe. Aqui mesmo no Brasil existe um grupo de pesquisadores cujos órgãos ganham recursos porque alardeiam. Nós observamos isso nos congressos. Quem tem mais projetos aprovados e viaja para o exterior são aqueles que preservam essa visão catastrófica. Os mais ponderados não ganham nada. É curioso, porque, teoricamente, o governo deveria ter interesse nesse tipo de projeto, pois a situação não estaria tão ruim para ele. Só que nós propomos ações mais locais. Quando se fala no global, fica tudo meio solto, no plano das idéias, do “vamos ver, vamos fazer”.
UnB AGÊNCIA – Essa idéia de que as mudanças climáticas são um processo natural parece enfrentar muita resistência. Por quê?
RAMALHO – Por causa do senso comum. Os grandes jornais falam do aquecimento como uma coisa certa. Nem questionam. Quando alguns veículos de comunicação me procuram e ficam sabendo da minha opinião sobre o assunto, já desistem da entrevista. Dizer que o planeta vai acabar chama mais atenção do que falar que as mudanças climáticas são naturais.
UnB AGÊNCIA – Onde surgiu a tese do aquecimento global?
RAMALHO – Essa tese vem do hemisfério norte, onde estão os países com maior poder econômico, que conseguem fazer e divulgar suas pesquisas. O problema é que a maioria das estações meteorológicas de lá está sofrendo um efeito chamado “ilha de calor”. Quando foram construídas, por volta dos anos 1850, 1890, elas ocupavam terrenos descampados. Só que as cidades cresceram em volta das estações. O asfalto e o concreto, conseqüentemente, aumentaram a temperatura das cidades, que elevaram as temperaturas registradas pelas estações. Isso pode causar uma distorção dos dados, que dá a entender que o planeta todo está se aquecendo. Outra coisa importante é que os dados sobre a medição só foram padronizados pela OMM (Organização Meteorológica Mundial) depois da Segunda Guerra Mundial. Só então foram estabelecidos quais instrumentos devem ser usados e em que horas do dia. Além do mais, o que acontece no hemisfério norte pode não estar acontecendo no hemisfério sul.
UnB AGÊNCIA – Imaginar que existe um componente econômico envolvido na questão do aquecimento global é ir longe demais?
RAMALHO – Existe um grupo de meteorologistas que aborda o tema pelo lado econômico. Pode ser que haja um interesse dos países desenvolvidos em se apropriar dos nossos recursos naturais. Na Inglaterra, por exemplo, não existem mais esses recursos. E os Estados Unidos mantêm a prática de guardar o que é deles para consumir o dos outros. Então é possível que eles se interessem em alarmar para justificar a utilização dos nossos recursos e, talvez, barrar um pouco nosso potencial de crescimento. Parece uma paranóia, mas pode ter mais coisas envolvidas nisso.
UnB AGÊNCIA – De qualquer forma, já tem gente se aproveitando da questão climática para ganhar dinheiro.
RAMALHO – Os créditos de carbono simbolizam bem isso. Funciona da seguinte forma: se eu sou usuário compulsivo de carro, e você só anda a pé ou de bicicleta, eu posso comprar seus créditos, passando a usar o seu direito de poluir. Isso acontece entre países, mas a Bolsa de Chicago já negocia créditos de carbono entre empresas. É isso que os países estão fazendo pelo Protocolo de Kyoto. Já virou uma moeda de troca. Com o selo ambiental acontece algo parecido. Colocá-lo já agrega um valor ao seu produto.
“Se tivesse que estabelecer um percentual, eu diria que 60% das mudanças climáticas devem-se a ciclos naturais e apenas 40% decorre das ações do homem – e ainda estou valorizando muito a ação humana”
UnB AGÊNCIA – Apesar de considerar que as mudanças climáticas são processos naturais, você acha que a atuação do homem não interfere na temperatura?
RAMALHO – Nós estamos sempre tentando responder a isso. Se o homem não estivesse por aqui, provavelmente a variação de temperatura continuaria acontecendo, mas seria mais amena. Isso porque, sem concreto e asfalto, não haveria a impermeabilização do solo. Se tivesse que estabelecer um percentual, eu diria que 60% das mudanças climáticas devem-se a ciclos naturais e apenas 40% decorre das ações do homem – e ainda estou valorizando muito a ação humana. A partir disso, é possível dizer que, se nós continuarmos com esse padrão de ocupação, a temperatura vai aumentar, só que localmente. O desconforto na cidade vai ser sempre maior. Mas não se pode afirmar que o mesmo vai acontecer em escala global. Como eu disse, alguns dados mostram que o mundo passa por um período de resfriamento – o que, para a agricultura, por exemplo, é pior, porque diminui a quantidade de chuvas.
UnB AGÊNCIA – Pelo que você diz, parece haver um certo sentimento de impotência. Isso nos motivaria a imaginar que o planeta está sob o nosso controle?
RAMALHO – Existe uma questão filosófica por trás de todo esse assunto. O homem tem mania de querer controlar tudo, e, quando se vê confrontado com a impossibilidade de controlar o clima (e nós realmente não podemos), surgem essas idéias. Nós fazemos a previsão do tempo, mas não podemos impedir a chuva. Talvez isso se deva à tentativa de se livrar dessa sensação de impotência, sentindo-se um pouco mais no controle da situação. O segundo relatório do IPCC diz isso: “O que nós podemos fazer para reverter essa situação”. No primeiro relatório, a situação era irreversível. Já no segundo, nós podíamos fazer alguma coisa.
UnB AGÊNCIA – Essa influência limitada do homem no clima pode vir a se tornar mais significativa daqui a alguns anos?
RAMALHO – Pode, pelo menos em escala local e regional. Nós sentimos a temperatura do local em que estamos, não do planeta inteiro. De acordo com uma estimativa feita nos anos 1990, por essa proporção de CO2 que nós temos agora, já era para nós estarmos com uma elevação da temperatura de 6°C. E a temperatura aumentou apenas 0,4°C na média. Por essas e outras, vale a pena prevenir, pois a influência no clima local com certeza vai mudar. No global, talvez.
UnB AGÊNCIA – Um artigo publicado pela revista Nature no final de setembro apresentou uma possível solução para diminuir a intensidade do aquecimento global. Dois cientistas britânicos sugerem que espalhar milhões de grandes canos pelo oceano ajudaria a aumentar a absorção de CO2 pelas algas. Os dutos criariam um caminho mais rápido para que as águas frias, do fundo do oceano, dessem lugar às quentes, da superfície. Com isso, além de aumentar a absorção de gás carbônico pelas algas, os canos poderiam reduzir o número de furacões, que precisam de águas quentes para se formar. É possível amenizar as mudanças climáticas?
RAMALHO – Em se tratando do homem, eu não duvido de nada. Mas é muito difícil trabalhar com um sistema tão grande quantos os oceanos. Essas correntes marítimas dependem da radiação solar, ou seja, estão mais frias ou mais quentes a cada ano. Aliás, é isso que causa a variação. Colocar canos no oceano é uma atitude muito drástica, que poderia até alterar o ciclo natural do planeta. Acabaria gerando outros impactos para a fauna marinha. Não mudaria muita coisa, nem traria tanto benefício.
“Se o homem não estivesse por aqui, provavelmente a variação de temperatura continuaria acontecendo, mas seria mais amena”
UnB AGÊNCIA – A idéia de que há um aquecimento global e de que ele é provocado pelo homem tem gerado uma comoção ecológica muito grande. Entendemos tudo errado?
RAMALHO – A ecologia não influencia o clima na dimensão que nós acreditamos. Fala-se muito em escala global. Nós não temos muita certeza disso, mas é certo que ela influencia nas escalas local (cidades, bairros) e regional (estados). Essa discussão é válida para alertar as pessoas de que o problema ambiental é sério. Não necessariamente porque ele vai causar mudanças climáticas, mas porque, a cada dia, mais pessoas sofrem. Há muita gente sofrendo com seca, desmoronamento, enchente, mas isso não acontece porque choveu ou não choveu. É porque elas moram em lugares errados. A culpa não é da chuva. Eu acho que, embora um pouco alarmista, essa mobilização é válida. É preciso chamar a atenção dos poderes públicos para isso.
UnB AGÊNCIA – É errado tentar unificar as ações de controle climático globalmente?
RAMALHO – Claro que é bom quando todo o mundo senta junto para discutir, mas uma ação que serve para o Vietnã não vai servir para o Rio Grande do Sul. Os limites estabelecidos pelo Protocolo de Kyoto são uma boa idéia, mas o acordo precisa ser revisto. Ele não inclui os países em desenvolvimento, mas eles estão poluindo também. Existe uma frase famosa que diz “pensar globalmente, mas agir localmente”. Se acontecerem ações em Minas Gerais, no DF e em outras regiões, o global vai melhorar.
UnB AGÊNCIA – A comunidade internacional se reúne em Bali (Indonésia), em dezembro próximo, para tratar de mudanças climáticas e discutir o futuro do Protocolo de Kyoto (que termina em 2012). O Brasil já indicou que vai cobrar liderança dos países desenvolvidos na reunião, pois as nações mais industrializadas seriam as responsáveis pela maior parte da emissão de gases poluentes. Essas nações contudo, põem a culpa nos países em desenvolvimento, em particular China, Índia e Brasil. Os governos ainda não perceberam que terão de trabalhar juntos?
RAMALHO – Falta cada um tomar a questão para si. Tanto pessoal quanto nacionalmente. Esse discurso brasileiro de dizer que os países industrializados já poluíram muito e, por isso, devem ceder mais é retrógrado. Quando escuto os discursos do presidente, eu o vejo voltando para 1972, quando foi realizada a Conferência de Estocolmo e esse assunto começou a ser discutido dessa forma. Só que, no meio do caminho, foi realizada a Rio-92, em que se falou em desenvolvimento sustentável. É possível crescer envolvendo todo mundo: indústria, sociedade, imprensa e governo. Mas isso não acontece. Só para ter uma idéia de como as coisas estão, uma das propostas do Pacote Verde da Câmara dos Deputados é trocar toda a frota do poder público por automóveis bicombustível. Mas para onde vão os outros carros?
UnB AGÊNCIA – O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), sediado em Londres, publicou um relatório em que prevê conseqüências catastróficas, “no nível de uma guerra nuclear”, decorrentes do aquecimento global. Segundo o documento, a mudança de temperatura vai afetar a colheita de alimentos e o abastecimento de água – aumentando o preço dos alimentos –, elevar o nível do mar e provocar tempestades – motivando migração forçada –, extinguir espécies e gerar epidemias. A mudança climática é o maior problema que a humanidade enfrentará neste início de século?
RAMALHO – Se o clima começar a mudar, nós vamos ter problemas muito sérios. Isso sempre aconteceu. Sempre vai haver um impacto durante uma mudança climática, seja ela causada pelo homem ou não. Uma das teorias mais aceitas hoje para a extinção dos dinossauros é a mudança climática, o resfriamento, e não a que diz que um meteoro atingiu o planeta. A diferença é que, agora, nós estamos extremamente dependentes dos recursos naturais e a população mundial está muito grande.
UnB AGÊNCIA – Ainda sabemos pouco sobre o clima?
RAMALHO – Muito pouco. O difícil é assumir isso. Os pesquisadores ainda não sabem direito por que não se forma um ciclone no hemisfério sul, e, contudo, se formou o Catarina. Nós só temos hipóteses. A radiação solar também é algo que precisa ser mais pesquisado. Precisamos ainda entender a influência dos vulcões. Quando um vulcão lança cinzas, ele pode mudar a temperatura de uma parte de um planeta por até dois anos. Então, de fato, a gente sabe muito pouco. Mas essa é a graça de estudar climatologia.
O QUE É O IPCC?
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é um grupo de pesquisa criado em 1988 pela Organização Metereológica Mundial (OMM) e o Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (Unep) para estudar a influência do homem sobre as mudanças climáticas do planeta.
PERFIL
Juliana Ramalho Barros é pesquisadora associada do Laboratório de Climatologia Geográfica do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília (UnB). Juliana é doutora e mestre em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) e graduada em Geografia pela UnB. A pesquisadora é professora titular da Faculdades Projeção e tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Climatologia Geográfica. Atua principalmente nos seguintes temas: Distrito Federal, climatologia geográfica, bioclimatologia e educação.
entrevista realizada pela Unb Agência e publicada pelo EcoDebate.com.br – 23/10/2007