Ameaçados por madeireiros, ambientalistas refugiam-se em base do Exército no Pará
Oito ativistas da organização ambientalista Greenpeace tiveram de se refugiar por 24 horas dentro de uma base do Exército no município de Castelo dos Sonhos, sudeste do Pará. Perseguidos por cerca de 300 assentados e madeireiros da região na terça-feira (16), os ambientalistas protegeram-se num prédio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) dentro da base e só saíram escoltados pela polícia no dia 17. Por Leandro Martins , da Rádio Nacional da Amazônia.
Os madeireiros protestavam contra a autorização do Ibama para o transporte de uma tora de castanheira para cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. A madeira seria utilizada pelo Greenpeace como material de uma exposição chamada Aquecimento Global: Apague Essa Idéia, promovida pela organização para alertar sobre os perigos do desmatamento ilegal da Floresta Amazônica.
Há 15 dias, o Greenpeace havia pedido permissão para transportar a madeira. O Ibama concedeu a licença na última quinta-feira (11). Após a pressão dos madeireiros, o órgão cancelou, no dia 17, a autorização.
Para o ativista do Greenpeace Marcelo Marquezini, a reação dos madeireiros pode ter tido origem numa ação de fiscalização do Ibama na segunda-feira (15). Na ocasião, um madeireiro que transportava madeira ilegalmente foi detido e teve o caminhão apreendido.
Irritados, os madeireiros e assentados da região voltaram-se contra o Greenpeace. “O grupo que primeiro se revoltou foram esses madeireiros, que fecharam a nossa saída, alegando que se eles não têm autorização para manejo florestal, o Greenpeace também não deveria ter essa autorização, não deveria levar aquela madeira de lá para denegrir a região” relata.
A tora de castanheira permanecerá em Castelo dos Sonhos. O diretor nacional de Proteção Ambiental do Ibama, Flávio Montiel da Rosa, explica que a permissão para o transporte da madeira do Greenpeace teve de ser cancelada por razões de segurança.
“Por causa do risco para os membros da base e dos prejuízos para as operações de fiscalização, o Ibama teve de cancelar a autorização do transporte daquela madeira”, afirma Montiel. “O cancelamento se deu unicamente em função da garantia de vida e de continuidade das operações.”
Nota do EcoDebate
Poucas pessoas, fora das áreas desmatadas da Amazônia, realmente sabem dos riscos que os fiscais do IBAMA correm. Freqüentemente são ameaçados pelas comunidades que tem no desflorestamento ilegal seu principal meio de vida.
Mas, principalmente, pelos madeireiros ilegais, que, acobertados pelo silêncio, tem certeza da impunidade. Quantos madeireiros ilegais estão presos? Pelo menos, quantos estão sob processo criminal? Eles têm certeza da impunidade e não é por menos.
Por que será que o governo, de fato, não consegue inibir o desflorestamento ilegal, nem mesmo nas unidades de conservação?
A decisão de cancelar a autorização de transporte pode parecer absurda, mas certamente foi necessária para evitar riscos adicionais.
Já é hora do governo e do MMA em especial, pararem com o discurso, com as eternas promessas de hipotéticas ações estruturantes, enquanto que o futuro da Amazônia brasileira depender da vontade de bandidos.
Se depender da vontade e da ganância dos madeireiros ilegais a floresta amazônica simplesmente será uma mera lembrança. Nada mais que isto.
Henrique Cortez, henriquecortez@ecodebate.com.br
coordenador do EcoDebate
matéria da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate.com.br – 19/10/2007