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Artigo

A um amigo de outro planeta – Na semana mundial do meio ambiente, por Roberto Malvezzi (Gogó)

Caro amigo,

[EcoDebate] Quero agradecer o fim de semana aí em seu planeta. Depois que conseguimos nos mover no espaço a uma velocidade cem vezes maior que a luz, ficou fácil visitá-lo vez em quando. Agradeço a gentileza e a hospitalidade.

Confesso que fiquei impressionado com a beleza de seus planeta e o cuidado que vocês têm com ele. Impressionante essa consciência de jamais ultrapassar o ponto de equilíbrio, de preservar grande parte da vegetação e dos animais, de manter os rios limpos, as praias com águas cristalinas. Seu planeta é muito parecido com o nosso há alguns milhares de anos atrás.

Quando cheguei de volta à Terra, senti tristeza. Aqui está muito difícil manter a alegria e a esperança. Os cientistas dizem que nossa Terra está velha, doente e febril. Como ela se comporta como um ser vivo que se auto-regula, deverá promover um grande expurgo de humanos de sua pele. Ultrapassamos o ponto de equilíbrio, desmatamos em excesso, poluímos nossas águas, mudamos o clima, o aquecimento global tornou-se inevitável com toda tragédia que esse fato acarreta.

Temos lutas importantes. Aqui mesmo no continente que moro, fazemos um belo trabalho de captação de água de chuva para beber, através de uma tecnologia chamada cisterna. Duzentas mil famílias já se beneficiam dessa tecnologia simples e que não agride o meio ambiente. Agora, estamos guardando também a água de chuva para produzir. Você iria gostar de ver. O pessoal capta a água diretamente do chão, guarda em reservatórios herméticos para evitar a evaporação e depois usa a água para irrigar canteiros com hortaliças, legumes, plantas medicinais e fruteiras. Falo a verdade, é uma das poucas coisas que ainda nos dá gosto de viver num mundo de predadores.

Mas, como se diz por aqui, ganhamos algumas batalhas, mas estamos perdendo a guerra. Os que conduzem a economia e a política agem como se nosso planeta fosse inesgotável. Agora inventaram de usar terras para produzir combustíveis para carros. A classe política, a mídia e o setor econômico falam como se tivessem descoberto a pílula da eternidade. O pessoal ainda não é capaz de ver a galáxia, só enxerga a estrela mais próxima. É triste, mas nosso futuro se desenha como o pior possível. A idéia é que uma parcela rica se salve com sua tecnologia, sua ciência e seu poder militar, apossando-se dos bens naturais que ainda nos restam. O restante da humanidade estará entregue às atrocidades de uma natureza furiosa. Tudo está em mudança. Nossa civilização entrou numa crise definitiva, que poucos são capazes de enxergar, menos ainda de tomar as medidas necessárias para que o pior seja evitado.

Grande abraço para você e sua família. Continuem cuidando de seu planeta. Vocês já entenderam que é difícil achar lugar para se viver fora dele. Rezem por nós. Quem sabe, qualquer hora, possamos nos ver novamente.

Seu amigo da Terra, com uma inveja respeitosa.

Roberto Malvezzi (Gogó) é Agente Pastoral da Comissão Pastoral da Terra, colaborador e articulista do EcoDebate

in www.EcoDebate.com.br – 05/06/2007