Ministério de Minas e Energia et caterva, por Telma Delgado Monteiro
[EcoDebate] Silas Rondeau está envolvido com as falcatruas nas licitações de obras do Ministério de Minas e Energia. É público, agora. A Construtora Gautama esteve presente em todas as licitações de linhas de transmissão da Aneel, além do Programa Luz Para Todos, desde que o atual ministro era presidente da Eletrobrás e o mesmo Ivo Almeida Costa, já seu lacaio, era o coordenador do Comitê de Planejamento Estratégico da estatal.
Qual seria o papel do coordenador do Comitê de Planejamento Estratégico da Eletrobrás que detém 98% de Furnas? Porque o ministro Silas Rondeau levou, de mala e cuia, para o Ministério de Minas e Energia seu super assessor-coordenador-estratégico, Ivo Almeida Costa? E como será que ele, o Ivo, também integrou a equipe de Assessoria de Planejamento Empresarial da Eletronorte? Somente alguém que priva da mais absoluta confiança do Ministro de Minas e Energia poderia, também, ser indicado, como foi Ivo Almeida Costa, para ocupar uma vaga no Conselho Fiscal da Petrobrás. Importante esse cidadão, não?
A Construtora Gautama e uma outra empresa chamada Fluxo Engenharia, já formaram dois consórcios diferentes – a GTF Engenharia e a GF Engenharia -, para participar das divisões de trechos nas licitações de linhas de transmissão de energia. Os lotes são divididos entre vários consórcios nas mais variadas combinações e envolvem sempre as mesmas empresas, ora com uma composição acionária, ora com outra. A Fluxo Engenharia Ltda é acionista minoritária de uma tal de Murinah, que é controlada pela Cymi AS, subsidiária de uma Dragado Industrial S.A, pertencente ao conglomerado ACS – Actividades de Construcción y Servicios S/A, um dos maiores grupos de construção civil da Espanha. E vai por aí afora!
Estão disponíveis na internet inúmeros documentos da Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel – que contém referências à Construtora Gautama e suas apaniguadas, como a Fluxo Engenharia, empresa de consultoria com especialização em projetos de transmissão de energia e parceira de Furnas Centrais Elétricas em alguns contratos. E, sem ilusões, grande parte de todo esse aparato “navalhístico” tem um quê de guerra entre grandes. O Consórcio Furnas/Odebrecht precisava limpar a linha para ter certeza de que estaria sozinho no leilão milionário das hidrelétricas do Madeira, que sempre foram cartas marcadas. Consórcios montados com braços de conglomerados mundiais, principalmente da Espanha, vêm há tempos disputando espaços com as empreiteiras nacionais, as sem mega-obras, e com as “especialistas” como Furnas Centrais Elétricas que perdeu muito espaço nesse mercado depois de 2002, com a entrada da concorrência internacional.
Em Rondônia, palco em que se trava a batalha entre a sociedade e o Ministério de Minas e Energia de Silas Rondeau sobre a construção do Complexo do Madeira, com uma previsão de custo estratosférico de 43 bilhões de Reais, a Construtora Gautama já está presente como empreiteira de um projeto chamado Beira – Rio, em Porto Velho, cujo contrato está sob investigação do Tribunal de Contas da União devido a sérias irregularidades. Essa dinheirama toda, destinada às Hidrelétricas do Madeira sem contar o custo do sistema de transmissão, além de despertar a cobiça de muita gente de dentro e de fora do Brasil acirra as disputas internas entre grandes empresas que se locupletam com o dinheiro público.
Os ministros Silas Rondeau e Dilma Rousseff construíram um grande guarda-chuva protetor para a Eletrobrás, a Eletronorte e Furnas. Precisam manter a qualquer custo o “status” dessas empresas públicas dentro do setor elétrico brasileiro que comandam, para não perder o poder. Energia é poder! São essas estatais eivadas de lacunas e buracos negros, cheias de penduricalhos disfarçados em cargos de confiança como diretores técnicos e assessores, que atuam como intermediários entre prefeitos, governadores, secretários, parlamentares, ministros e as empreiteiras, como a Gautama, que “produzem consórcios” com tanta facilidade como se produz pão. Não há apenas um mentor nessa história, como quer fazer crer o noticiário, mas um conjunto bem articulado, dentro e fora do poder público, qual abutres em volta da carne em decomposição. É sistêmico.
O setor elétrico brasileiro precisa ser purgado urgentemente para acabar com os acordos espúreos entre empresas privadas e empresas estatais que dividem o butim, despojo da sociedade refém, conseguido à custa da exploração dos recursos naturais e dos altos custos de energia. O Ministro Silas Rondeau tem nas mãos o poder do apagão energético. Em qualquer sociedade civilizada ele seria demissionário no exato momento em que alguém de sua mais absoluta confiança foi pego com a mão na massa. Gautama “et caterva” mostram mais uma vez que “o Brasil tem que ser passado a limpo”, parafraseando alguém.
Telma D. Monteiro, ATLA – Associação Terra Laranjeiras, Juquitiba – SP
in www.EcoDebate.com.br – 24/05/2007