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Artigo

A Menina Sem-água do Água Viva, por Roberto Malvezzi (Gogó)

[EcoDebate] A morte da menina sem-água repercutiu. Vieram perguntas, até do senado federal, para saber o nome da menina. Então nosso colega da CPT, Cícero, foi ao assentamento Água Viva – que cruel ironia! -, onde não existe água, para saber mais detalhes da morte da menina. Segue abaixo o que ele conseguiu.

“Conversei com a Sra. Rosinalva Rodrigues de Sousa, mãe da menina Géssia Rodrigues de Sousa que morreu há algumas semanas atrás, quando tentava tirar água do canal de irrigação Senador Nilo Coelho. Géssia tinha 12 anos, 9 irmãos, filha do Sr. José de Sousa Nascimento e da Sra. Rosinalva Rodrigues de Sousa.

O Assentamento Água Viva fica localizado à margem da BR 235, tem 5 anos de fundação é composto por 190 famílias e situa-se próximo a Escola Agrotécnica Federal. No Assentamento não têm água para o consumo humano, beber, cozinhar, lavar a única fonte possível para acessar o precioso liquido é o canal de Irrigação Senador Nilo Coelho, que fica a 3 Km de distância e tem 15 metros de altura. Serve como condutor de água do Rio São Francisco para os grandes projetos irrigados e agroindústrias da região.

A menina Géssia tinha como uma das suas obrigações diárias a busca da água para matar a sede da sua família, no referido canal. Na 3a viagem do dia da sua morte ela não conseguiu se equilibrar nas paredes do canal e caiu de uma altura de 15 metros, vindo a falecer.

Apesar da morte de Géssia, as famílias principalmente crianças, continuam buscando água no canal, porque não têm outra alternativa.

Para pensar, viver no Assentamento Água Viva, à margem do Rio São Francisco na busca de um gole d’água para matar a sede, a menina Gésia de 12 anos encontrou a morte. E ela pode não ser a única”. (Cícero)

Reparem, outro dia eu disse que menina morrera afogada. Não foi. Caiu pelo lado de fora, na terceira busca de água. Assim é o sertão do povo, assim é o sertão dos coronéis, assim é o sertão do empresariado moderno.

* Roberto Malvezzi (Gogó) é Agente Pastoral da Comissão Pastoral da Terra – CPT e articulista do EcoDebate