Ser ou não ser Ecossocialista? Eis a questão (de sobrevivência), por Ana Echevenguá
Embora a palavra ‘Ecossocialismo’ possa parecer inusitada, já a vivenciamos em nossas atividades mais comuns.
Acautelem-se os capitalistas de plantão: eu posso explicar!
Cada homem é um ser social e sua sobrevivência depende do meio ambiente que o cerca. Partindo dessas premissas, podemos concluir que as lutas sociais prescindem de lutas ambientais já que buscam o mesmo objetivo: a sadia qualidade de vida de todos.
Ecologista não é somente aquele que luta para defender a baleia franca, o sapo da Juréia ou Amazônia. Também se enquadra nesse grupo o que briga contra a fila do SUS e dos bancos, por praias limpas, pela proteção de áreas verdes, contra administradores públicos corruptos…
O desastre anunciado
Já há provas visíveis de que estamos destruindo a natureza que nos cerca. Isso comprova o que os ecochatos alardeiam desde o século passado: o homem está se matando ao matar o planeta.
De que provas falamos? Entre elas estão as tempestades tropicais que já assolaram várias regiões do mundo, resultantes do aquecimento global do planeta e das águas oceânicas.
Especialistas que tentam estabelecer prazo de carência para a destruição das espécies são unânimes em pregar a urgência para adoção de medidas que contenham a reiterada degradação ambiental que nos cerca.
As medidas até agora apresentadas são paliativas. Uma delas é o acordo denominado Protocolo de Kyoto cujo propósito é estabilizar o efeito estufa dentro de 10 ou 15 anos, com base no “mercado de carbono” ou “mercado do direito de poluir”. Os países mais ricos podem dar continuidade às suas ações poluidoras – que não se restringe à sua base territorial – desde que comprem dos países pobres créditos de carbono.
Como se trata de um ‘acordo de cavalheiros’, adere a ele quem quer. Os Estados Unidos, país mais poluidor do mundo, ainda não o assinou porque entende que prejudicará sua economia.
Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos no governo de Bill Clinton (1993-2001), é um americano que critica a política capitalista americana. E continua sendo tratado como um visionário quando expõe a sua verdade inconveniente. Em seu livro e documentário do mesmo nome, mostra como o ‘efeito estufa’ está degelando as zonas glaciais e alterando o nível do mar que irá inundar cidades costeiras.
Mas quem não acredita em Papai Noel sabe que tanto o capitalismo como as experiências socialistas mundiais foram ecologicamente negativas também quanto ao trabalho como às formas de produção.
Mas estas experiências devem ser lembradas e estudadas como um caminho que não devemos seguir. “Nunc bene navigavi, cum naufragium feci”, ou seja, “Há males que vêm por bem”.
O Ecossocialismo
Não nos restam muitas alternativas para o enfrentamento da degradação ambiental. Ou descruzamos os braços e implementamos soluções práticas ou vamos morrer.
E uma das soluções pode ser a prática consciente do Ecossocialismo, uma corrente de pensamento que mescla algumas idéias socialistas sobre a lógica do capital com os avanços científicos da ciência ecológica. Marx deu ênfase à questão da ecologia ao afirmar, em O Capital, que o sistema capitalista esgota as forças do trabalhador e, em decorrência, as forças da Terra.
“O mundo de daqui a cinco décadas simplesmente não pode ser mantido com os atuais padrões de produção e consumo”. “Uma ampla transformação – começando nos países ricos – será necessária para assegurar que os pobres tenham a oportunidade de participar e que o meio ambiente não seja danificado de uma forma que arruíne gradualmente as oportunidades do futuro.” Estas palavras não foram extraídas de O Capital. Foram proferidas por Nicholas Stern, economista inglês, ex-economista-chefe do Banco Mundial, autor do “Relatório Stern” que afirma que o prejuízo com o aquecimento do planeta é muito maior do que se imagina. E faz um alerta urgente: “É preciso agir agora”.
Quais os desdobramentos sociais e econômicos do Ecossocialismo?
As lutas com características ecossociais já grassam no nosso cotidiano. Elas ocorrem sempre que:
– a sociedade civil organizada investe contra indústrias poluidoras;
– o usuário do transporte coletivo exige que este serviço seja mais eficiente e barato: ele está também exigindo a redução da poluição do ar e sonora;
– o contribuinte exige implantação dos serviços de saneamento básico: ele sabe que o uso da água não tratada e a falta de tratamento de esgoto podem matar seu filho.
Assim como no romance ‘O nome da rosa’, de Umberto Eco, não devemos nos ater à problemática nominalista (capitalismo, bushismo, marxismo, socialismo, globalização, …) que padece de qualquer importância quando estamos falando da sobrevivência do homem na Terra.
Soluções práticas
Se a proposta do Protocolo de Kyoto é insuficiente para conter o aquecimento global, o que nós – cidadãos comuns – podemos fazer?
Segundo o renomado engenheiro Thomas Fendel, podemos começar incentivando e investindo em novas fontes de energia, especialmente as renováveis, bioenergias, energia solar, eólica, injeção de energia elétrica nas redes (ENEREDE)… Há provas irrefutáveis de que as atuais fontes de energia – fósseis e atômica – são nocivas e perigosas. As energias fósseis (petróleo, gás natural, carvão mineral) aumentam a concentração de CO2 atmosférico, promovendo o efeito estufa, enquanto as bioenergias (álcool, biogás, carvão vegetal, óleo vegetal, resíduos vegetais, lixo orgânico, etc) fazem exatamente o contrário, ou seja, promovem o efeito refrigerador, pois os correspondentes vegetais “comem” muito mais CO2 atmosférico do que o devolvido pelo uso das bioenergias”.
Como o consumidor está priorizando adquirir produtos de empresas socialmente responsáveis, será fácil convencer os capitalistas que a prática do desenvolvimento sustentável é capaz de produzir lucro na hora da venda.
Esta é apenas uma das soluções.
Sem utopias, é preciso começar a implantar outras ações também salutares.
Mas não podemos proibir enchentes por decreto!!! Toda esta mudança carece da conscientização de que:
– precisamos agir agora porque, com esta crise que assola o planeta, a nossa geração e a geração dos nossos filhos e netos corre risco de vida;
– e que toda a luta – por menor que seja – é válida; ela pode começar na sua rua, no seu bairro, na sua cidade. Por exemplo, um diagnóstico ambiental pequeno que mostre como está o tratamento do lixo; quantas empresas poluidoras estão ativas na sua cidade; como está o tratamento do esgoto doméstico; quanta área verde ainda lhe resta?
Ana Echevenguá, advogada ambientalista, coordenadora estadual do PSB Mulher/SC, coordenadora do programa televisivo Eco&Ação – Ecologia e Responsabilidade, e-mail: ana@ecoeacao.com.br
in www.EcoDebate.com.br – 26/02/2007
Nota do EcoDebate
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