Olhos Cerrados: a natureza arrasada do Piauí, por Judson Barros
[EcoDebate] Os dois principais biomas (Caatinga e Cerrado) do Piauí estão sendo destruídos a uma velocidade meteórica. O carro chefe é a soja, mas agora outras “riquezas” apareceram: eucalipto, mamona, carvão e lenha. A floresta cai cada dia; dá lugar às grandes plantações de monocultivos e aos desertos de rios secos. Tudo isso com o aval dos órgãos responsáveis pelo zelo para com o Meio Ambiente. “Está tudo correto, todo estudo foi feito”. E assim fica. Se de fato é nisso que repousa a verdade só posso vislumbrar duas possibilidades dos responsáveis: ou é ingenuidade ou maucaratismo. Prefiro ficar com a segunda.
Os biomas estão se esvaindo aos olhos de todos, com todo apoio do Governo. Os meios de comunicação, sobretudo quando estatais, dão a sua contribuição: manipulam as informações para uma sociedade pouco instruída, que até acredita nessa redenção, mas espera que cansa e os dias melhores não chegam.
Um acordo para destruição desses biomas foi selado entre empresas, meios de comunicação e Governo. Lógico que alguém escapa nessa arena, poucos, no entanto. Como se diz: o prego foi batido e a ponta foi virada. “Quem vier depois que se vire”. O caixa 2 é que define esta relação. O discurso é o do desenvolvimento econômico, já batido, conhecido através do processo histórico. Em todo o Estado ecoa a mesma fala: “O Piauí só vai desenvolver se plantar soja e eucalipto, se produzir carvão e lenha para fornos de multinacionais”. Vamos ver o que vai dar. O tempo mostrará. Não se pode destruir vidas inteiras, únicas no Planeta, como os biomas Caatinga e Cerrado, sem que a Natureza uma certa hora dê a reposta.
Os ciclos econômicos, baseado nas monoculturas só promoveram pobreza e destruição ambiental, dependência com relação aos países industrializados. No Piauí a dinâmica atual é a mesma de 500 anos. Exportar matéria prima, como se isso levasse a desenvolvimento econômico e melhoria social. Da borracha, do café, do açúcar restou apenas degradação social e ambiental. E agora da soja e do eucalipto não se pode esperar outra coisa. Poucos estão ricos às custas dessa destruição. A grande maioria vive nos guetos das cidades, tendo como fonte de renda a prostituição e o narcotráfico, pois o êxodo rural se encarrega de levar as populações para as periferias. E o bolsa família dá sua contribuição para aprimorar essa realidade. Os mesmos que se beneficiaram no passado se beneficiam no presente. Continuamos escravizando o nosso povo e destruindo as nossas riquezas naturais para dar vida boa para “gringos”, que se utilizam de empresas multinacionais, do mau caráter dos governantes e não obstante aproveitam a ingenuidade de uma sociedade para sucatear o Estado do Piauí.
A Biodiversidade será o futuro. Países de grande riqueza biológica terão um lugar privilegiado nas relações mundiais. Manter nossas florestas e nossos rios representará um potencial grandioso. Mas para isso necessitamos de compromisso dos Governos. A sociedade precisa acordar desse sono profundo para perceber o que de fato representa esse discurso de desenvolvimento. Que interesses estão por trás.
A covardia imposta pelos meios de comunicação é tamanha que não permite um debate aberto e democrático sobre o assunto. Manter o povo na ignorância e promover a informação distorcida é a parte que cabe à imprensa – “os ambientalista são contra o progresso”. Tudo isso regado a dinheiro publico desviado através das isenções fiscais. O povo é que paga a conta, é sangrado para que seu sangue seja servido nos rituais de vampirismo. Falta escola, falta hospital, falta segurança, falta tudo, falta até vergonha nos nossos governantes. Mas o povo não entende por que falta.
Os olhos de muitos estão com certeza cerrados pela ignorância e crença equivocadas. Mas outros, sobretudo os que comem as migalhas estão com os olhos bem abertos. Sabem o que fazem. Estes vendem até a alma para o diabo em troca de um mandato eletivo, mesmo que isso signifique a destruição do Cerrado, da Caatinga e da vida. Para estes a vida não tem nenhum valor. Para alcançar o poder tudo é permitido. Ética só na TV, no palco. Nos bastidores tudo pode. E enquanto os olhos da sociedade, do povo que de fato é prejudicado estão cerrados, o Governo, as multinacionais e o agronegócio estão serrando o Cerrado e a Caatinga do Piauí.
Olhos Cerrados é o título do documentário feito pela Fundação Águas (FUNAGUAS) que mostra essa atrocidade no Estado do Piauí. O desenvolvimento econômico prometido está promovendo uma Natureza arrasada e uma sociedade mendicante, manipulada e marginalizada. Mas pobre só precisa do bolsa família para viver, nada mais. Para ver este documentário acesse www.funaguas.org.br
Enquanto há tempo, é aconselhável abrir os olhos para olhar o Cerrado, a Caatinga…
Judson Barros, Presidente da Fundação Águas do Piauí – FUNAGUAS. Secretário Geral do FONASC-CBH
in www.EcoDebate.com.br – 12/01/2007