Não à energia nuclear, por Gilberto Alves da Silva
“A solução para o problema da geração de eletricidade vem sendo dada pelos países da Europa: abandonar a energia nuclear e buscar as energias alternativas”
Gilberto Alves da Silva, doutor em Engenharia Nuclear pela Universidade de Paris, é técnico da Finep e já foi subsecretário de CT&I do RJ. Artigo enviado para o “JC e-mail”:
Os pesquisadores, na década de 30, estavam voltados para o controle da energia do átomo. Esta busca visava a geração de eletricidade para atender às necessidades das populações como também, o seu emprego bélico.
Somente, em 1942 é que um grupo de cientistas, da Universidade de Chicago, construiu o primeiro reator nuclear do mundo. As pesquisas nucleares com essa dupla finalidade, pacífica e bélica, orientou todo o seu desenvolvimento.
Este reator, pelo lado belicista, serviu de meio para os estudos que culminaram nas bombas atômicas usadas em Hiroshima e Nagasaki.
Ainda nesta direção, com a intenção de obter plutônio, resultante da fissão do urânio, para as suas armas nucleares, os EUA, a França, a Inglaterra e a ex-União Soviética deram início à construção dos seus reatores.
O primeiro reator para a produção de eletricidade foi concluído em 1956, em Windscale, na Inglaterra.
A crise do petróleo de 1973, acelerou a indústria de reatores de potência com o objetivo de diminuir a dependência energética dos países do ocidente em relação ao mundo árabe, os principais produtores e exportadores de petróleo.
Hoje, no mundo, segundo a Agência de Energia AIEA), há 442 centrais nucleares em funcionamento, perfazendo uma capacidade instalada de 369 GTW elétricos e 33 usinas em construção em 14 países. Isto ocorre apesar dos vários movimentos governamentais visando a interrupção da construção destas usinas e mesmo o fechamento daquelas em funcionamento.
Podemos dar, aqui, alguns exemplos:
Alemanha – fechamento das suas 17 unidades até 2021;
Suíça- em 1990 o governo impôs moratória de 10 anos na construção de novas usinas mas, em outubro de 2000, esta foi estendida por mais 10 anos e mantém suas 5 usinas em funcionamento;
Bélgica – onde sete usinas fornecem 60% da eletricidade, em 1999 o governo adotou um plano de desligamento depois de 40 anos de uso de reatores, sendo que três serão desligadas em 2015 e as demais em 2025;
Suécia – plebiscito, em 1997, decidiu pelo desligamento das suas 12 usinas. Estes dados bem demonstram como a energia nuclear está sendo vista, atualmente, no mundo.
A opinião pública vem forçando os diferentes governos a anteciparem o descomissionamento(desativação) de suas usinas. Os dados acima são uma demonstração de como a energia nuclear, atualmente, está sendo vista no mundo.
Vários estudos no mundo, têm levantado que, além dos altos custos de construção e operação das usinas, serão empregados verdadeiras fortunas nos seus descomissionamentos.
Na Alemanha, o preço da desativação e isolamento de usinas nucleares é estimado entre U$ 10 e 20 bilhões para cada reator.
É bom chamar atenção, que, até hoje, 50 anos após a primeira usina nuclear ter começado a produzir eletricidade, ainda não se sabe como desmanchar um reator de maneira segura e a custos, que podemos considerar, razoáveis.
Além destes valores, não podemos esquecer de mencionar os gastos com o transporte, destinação e guarda do lixo atômico gerado.
A solução para o lixo de alta radioatividade produzido pelas usinas nucleares é, ainda hoje, passados 64 anos do início da era atômica, um sério problema.
Associado a todos estes custos, há um que considero maior que é a intranqüilidade das populações com as possibilidades de acidentes, como os que já ocorreram em 1979 em Three-Miles Island, na Pensilvânia(EUA) e o de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986.
O Brasil, em 1985, pões em operação Angra 1. Em 1986, foi instituída uma CPI estadual para avaliar os riscos à população em caso de acidente na central. A justiça determinou a sua paralisação e AIEA veio realizar auditoria na usina.
Em 1989, é determinada pela justiça nova parada desta central. Em 1983, o Presidente Itamar barrou a construção de Angra 2 e Angra 1 foi desligada por 21 meses devido a problemas com combustível.
Em 1996, foi reiniciada a construção de Angra 2 que ficou paralisada por oito anos. Sua operação teve início em 2000. São muitas idas e vindas nas centrais Angra 1 e 2, o que, além de demonstrar uma falta de convicção nas suas construções geram gastos vultosos de recursos do país.
A terceira usina, Angra 3, teve, em 2002, a sua construção adiada, devido ao condicionamento imposto à solução para os rejeitos nucleares, o licenciamento ambiental e a viabilidade financeira.
Mais uma vez os cofres públicos sofrem prejuízos. Há estimativa de que, já, foram gastos U$ 700 milhões, com Angra 3 em equipamentos e estocagens dos mesmos.
Entretanto, segundo várias fontes, Angra 1 e 2 teriam custados ao país de U$ 14 a 20 bilhões, o que, ainda, está muito além do que foi gasto em Angra 3.
Assim sendo, a não construção desta usina causará um prejuízo ao país não tão grande como o que seria despendido na sua conclusão
O que queremos com tudo que foi descrito? Queremos acompanhar a solução que vem sendo dada, para o problema da geração de eletricidade, pelos países da Europa: abandonar a energia nuclear e buscar as energias alternativas.
Dentro desta linha, somos adeptos à utilização da energia limpa como a solar, já que o Brasil possui um grande potencial energético solar, a eólica, a biomassa, as ondas do mar e as construções das hidroelétricas no norte do país, utilizando tecnologia de turbina a bulbo(utilizável em pequenas quedas).
Com a Alemanha, podemos negociar a transformação do acordo assinado em 1975 em mecanismo de cooperação para o uso da energia limpa, pois este país, hoje, é um dos que mais se preocupam com o meio ambiente.
(www.ecodebate.com.br) artigo originalmente publicado pelo Jornal da Ciência, SBPC, JC e-mail 3176, de 04 de Janeiro de 2007.