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Artigo

Reflexão neste Dia Mundial da Água, por José Roberto Guedes de Oliveira

Sempre abominei a palavra retrógrado. Do meu dicionário, tal verbete nunca fez parte, mesmo porque sempre achei, no progresso e na evolução do mundo, algo importante, como dádiva de Deus.

Mas, contudo, a questão de desejar o progresso não significa, invariavelmente, uma situação “sine qua non” de que este mesmo avanço venha a por tudo abaixo, como um rolo-compressor. Em termos mais claros, não querer tomar a Terra para si, em detrimento da destruição de tudo que nos cerca. O ecossistema abrange uma série mais de um ambiente saudável não só para as gerações presentes, como para as futuras. Isto é princípio constitucional.

Alguns verbetes modernos, como a sustentabilidade, demonstram claramente que o avanço progresso não deve ser contido mas, na verdade, aperfeiçoado e medido tal qual possa situar todos num planeta cheio de vida. É isso que o Meio Ambiente apenas exige do homem, principal causador da degradação e desertificação do mundo.

Uma interessante reflexão, podemos fazer em alguma hora da nossa vida tribulada. Pensar, meditar, interrogar e responder a perguntas bem profundas e simples: somos nós, homens e mulheres racionais, os “donos do mundo”? Devemos, pois, submeter o resto aos nossos caprichos cotidianos? Devemos sobrepor as nossas intenções e desejos acima de tudo que nos cerca: plantas, aves, peixes, ar, água, terra, etc.?

Pois é. O momento é de reflexão sobre este aspecto, porque estranhamos o comportamento dos seres humanos que, em busca do “ter”, esquecem-se do “ser”. Já, no estertor da vida, quando o caminho de ida é próximo e, naturalmente, inevitável, começam a sentir medo e remorso do que fez. Isto vale para todos, independente de sua situação e do seu “ter”, tão em voga, para determinar o poder do homem na sociedade.

Vejo, com profunda melancolia, que muitos se dedicam de corpo e alma a utilizar desse rolo-compressor para alcançar os píncaros do estrelato e dizer “eu mando, eu sou o todo poderoso”. Pobres visionários que o lixo da história enterra em 7 palmos de chão.

Mas a reflexão que faço, por ora, é que estamos destruindo em nome do progresso, sem que tenhamos um mínimo de consciência do prejuízo que criamos. Cidades inchadas, uma porção de condomínios até de alto-padrão, casas suntuosas, aras das arábias, chácaras vistosas e tudo o mais, sem um mínimo de estudo do impacto ambiental. Calculo, honestamente, como seria diferente se fosse feito o EPIA – Estudo Prévio de Impacto Ambiental, antes de qualquer início de obra. Seria, obviamente, consultado todas as partes e, em principal, a sociedade civil e técnicos ambientais. Desde que, preservado o Meio Ambiente, então se iniciavam as obras. Contudo, não é bem assim que ocorre.

Vivemos, constantemente, em perigos eminentes, nestes desastres ecológicos. A natureza não permite que lhe agridam. E as respostas, nos chegam em formas diversas, como temos sentido no planeta Terra. Tudo isso, não é obra do acaso; tem o fundamento e o princípio da agressão do homem à natureza.

Observamos, atônitos, que cidades se contaminam pelo progresso desordenado e os investimentos, de toda sorte, não respondem ao mínimo das necessidades preservacionistas. Em nome de um progresso tão almejado, relega-se a um plano secundário áreas importantes, fontes de água, empurram aves e animais para um “gueto” sufocante e, invariavelmente, a sua extinção.

Muito precisa ser feito. É necessário conscientizarmos de que, em breve, seremos vítimas das nossas próprias armas. Portanto, em vista dessa desordem total, há que se tomar novos rumos para o equilíbrio do nosso Meio Ambiente: fora com as investidas desordenadas e criminosas do avanço do homem sobre a natureza.

Neste 22 de março, DIA MUNDIAL DA ÁGUA, precisamos recompor as nossas energias e trabalhar firmemente para que tenhamos um Meio Ambiente saudável e, em alerta maior, a questão da água no mundo.

Precisamos sair das meras conjecturas e partir para a ação firme e rápida, já que o tempo não nos permite qualquer vacilo. É hora de unir forças e exigir dos degradadores que por aí estão um “basta”, em nome da própria existência da vida na Terra. É o mínimo que se pede, para não ser tarde de mais.

E como a questão da água é fundamental para início de qualquer conversa, fico com as sábias palavras e colocação do Prof. Henrique Cortez: “O acesso à água é um direito humano fundamental e ponto. É inaceitável que governos submi$$os ao hidronegócio e comprometido$ com a privatização da água queiram que a água seja apenas considerada como uma necessidade humana e não um direito. Felizmente, governos são transitórios, embora possam causar danos que perduram por décadas. Se a humanidade quiser um futuro minimamente aceitável deve obrigar os seus governos a assumirem claras responsabilidades agora”.

José Roberto Guedes de Oliveira, ensaísta, biógrafo e historiador.
Membro do CNRH – Conselho Nacional de Recursos Hídricos.
E-mail: guedes.idt@terra.com.br

publicado no EcoDebate, www.ecodebate.com.br, 23/03/2006