Cidades devem priorizar a contenção de encostas para evitar deslizamentos, alerta especialista
A contenção de encostas é um tema que deve ser priorizado pelos governos municipais e estaduais para evitar deslizamentos, disse ontem (17) o professor de engenharia geotécnica do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), Maurício Ehrlich. Para que haja as obras nas encontas, as prefeituras precisam fazer um mapeamento das áreas de risco, o que, segundo Ehrlich, não é feito de forma adequada em muitos casos. Na parte da prevenção, o professor cita o reflorestamento das encostas como uma solução.
Ehrlich participou do seminário que reuniu especialistas da área de geotecnia da Coppe e de outras instituições para debater tecnologias usadas em projetos de instrumentação e contenção de encostas, estabilização de solos, misturas asfálticas e pavimentação. Os debates se estenderão até amanhã (18) e integram o simpósio que homenageia os professores eméritos da Coppe, Jacques de Medina e Willy Lacerda, responsáveis pelo desenvolvimento pioneiro da área de geotecnia no instituto.
O professor disse que desde a criação do Instituto de Geotécnica do Município do Rio de Janeiro, hoje Fundação Geo Rio, órgão da Secretaria Municipal de Obras, em maio de 1966, após as fortes chuvas que castigaram a cidade em janeiro daquele ano, foram feitos investimentos significativos nas encostas do município, em termos de contenção, drenagem e reflorestamento. O Rio de Janeiro é uma região montanhosa, explicou, e por isso há locais pouco propícios à construção de moradias.
Ehrlich defendeu que as cidades tenham um planejamento urbano para evitar não só o problema de deslizamento de encostas, mas também inundações. “Boa parte das cidades cresceu de forma informal, não planejada. Com a expansão da cidade, ela avançou cada vez mais em direção aos morros, principalmente a população de baixa renda, que foi para as encostas, acima das áreas de preservação”. Na capital fluminense, isso foi sendo disciplinado aos poucos. Para poder construir na região de encostas, é preciso ter autorização da Geo Rio, que verifica se há condições de a construção ser feita, de modo a garantir a segurança do local.
Reflorestamento
O professor destacou que a vegetação tem um papel importante sob o ponto de vista hídrico, porque ela atrasa a descida da água. “A água infiltra mais no terreno, ela escorre menos superficialmente. Isso acaba sendo favorável a evitar inundações”. A vegetação evita erosões que possam favorecer futuros deslizamentos nas encostas. “No município do Rio de Janeiro, os governos têm incentivado os moradores de favelas a efetuar o reflorestamento e a serem guardiões da vegetação”.
Ehrlich disse que, embora não esteja imune a problemas, o município do Rio de Janeiro tem mostrado uma resposta melhor às chuvas, no tocante à contenção de encostas e deve ser um exemplo a ser imitado por outras cidades. “A cidade está caminhando no sentido correto”, disse, em comparação a períodos passados. A exceção, admitiu, é a Floresta da Tijuca, onde houve ocupações recentes, que estão se expandindo. “Não são áreas adequadas para populações e estão sujeitas a problemas”.
Planejamento
Em outros municípios, ele indicou que o problema de deslizamento de encostas é crescente e há necessidade de se fazer um esforço na direção da contenção. “O ideal é que não houvesse construções em áreas suscetíveis a escorregamento”. Essa é, enfatizou, a solução mais barata. Ehrlich apontou que as cidades deveriam fazer, em primeiro lugar, uma avaliação ou mapa de suscetibilidades, para verificar quais são as regiões desfavoráveis. A partir daí, é feito um planejamento urbano para evitar construções nesses locais.
A Coppe já efetuou um estudo de avaliação para o município de Angra dos Reis, na Costa Verde, por encomenda da Secretaria do Meio Ambiente do estado.
Ehrlich informou que, por lei federal, todos os prefeitos são obrigados a fazer mapas de suscetibilidade das cidades e definir riscos para a população local. “Os prefeitos podem ser cobrados por crime de responsabilidade, caso não tenham essa ação”. Ele lamentou que esses mapas sejam feitos, algumas vezes, mais para cumprir regras e menos para servir para uma política pública e não tenham o detalhamento necessário para criar confiabilidade. “Essa tem de ser uma política permanente, o que exige que se pense no longo prazo”.
Por Alana Gandra, da Agência Brasil, in EcoDebate, 18/03/2016
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