Mudanças nos eixos terrestres e climas, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] A geóloga Lorraine Lisiecki da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, descobriu um padrão que associa as mudanças regulares do ciclo orbital da Terra com as alterações no clima da Terra, analisando dos últimos 1,2 milhão de anos.
Lisiecki realizou sua análise climática examinando sedimentos do oceano. Os núcleos analisados vieram de 57 localidades ao redor do mundo [Lisiecki & Raymo, 2005]. Através da análise de sedimentos, os cientistas podem traçar o passado do clima da Terra, há milhões de anos. Agora, a contribuição de Lisiecki foi estabelecer o vínculo entre o registro do clima com a história da órbita terrestre.
Sabe- se que a órbita da Terra em torno do Sol muda de formato a cada 100.000 anos. A órbita em volta do Sol se torna mais ou menos elíptica nestes intervalos. O formato de uma órbita é estabelecido pela sua excentricidade. Outro importante aspecto relacionado é o ciclo de 41.000 anos da inclinação do eixo da Terra, o ciclo de Milankovitch.
As eras glaciais na Terra, também ocorrem ciclicamente, a cada 100.000 anos. Lisiecki sugere que o calendário das mudanças no clima e o histórico das mudanças em sua excentricidade têm sido coincidentes. “A clara correlação entre o momento de mudança na órbita e as mudanças no clima da Terra é uma forte evidência de uma ligação entre os dois”, disse Lisiecki. “É improvável que esses eventos não estejam relacionados entre si.”
Além de encontrar uma estreita ligação entre a mudança no formato da órbita e o início da glaciação, Lisiecki encontrou uma correlação surpreendente. Ela descobriu que os ciclos glaciais de maior duração ocorreram durante o período de menores mudanças na excentricidade da órbita da Terra e vice-versa.
Por outro lado ela constatou que as mudanças mais fortes na órbita da Terra se correlacionavam com as mudanças mais fracas no clima. “Isso pode significar que o clima da Terra tem uma instabilidade interna, além da sensibilidade às mudanças na órbita”, disse Lisiecki.
A geóloga conclui que o padrão de alterações climáticas ao longo dos últimos milhões de anos provavelmente envolve interações complexas entre as diferentes partes do sistema climático, bem como três diferentes sistemas orbitais. Os dois primeiros sistemas orbitais a serem considerados são a excentricidade da órbita e sua inclinação ou obliquidade. Outro elemento é a precessão, ou seja, as mudanças na orientação do eixo de rotação do planeta.
Para entender mais sobre estes fenômenos, recomendamos a leitura do artigo Precessão do Eixo da Terra da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde se encontram as explanações descritas a seguir.
A precessão do eixo de rotação da Terra é causada pelas perturbações da Lua e do Sol na Terra. Ela faz que, na data de uma estação, a Terra esteja em uma posição diferente na órbita em torno do Sol, com o passar do tempo.
A precessão do periélio da Terra é causada principalmente pelas perturbações gravitacionais dos planetas gigantes, Júpiter e Saturno sobre a órbita da Terra; estas perturbações fazem que a precessão em relação ao Sol tenha um período de cerca de 21.000 a 23.000 anos, e não no período de 25.770 anos de precessão em relação às estrelas. Este efeito, da mudança da data de periélio, tem pouca influência nas estações.
Um outro efeito de muitos corpos é a variação da obliqüidade da eclíptica, em torno do valor médio de 23,4 com um período da ordem de 41 mil anos, conhecido como o ciclo de Milankovitch, proposto pela astrônomo sérvio Milutin Milankovitch (1879-1958) em 1920, para explicar as idades do gelo. As evidências indicam que o ciclo climático mais importante é da ordem de 100 mil anos, o que coincide com o ciclo de excentricidade.
Por outro lado, a variação em excentricidade constitui o fator que menos influencia a variação em insolação na Terra. Nota-se que a idade do gelo se reforça, pois quando a Terra está coberta de gelo ela reflete mais luz do Sol ao espaço, aumentando o esfriamento.
Não se pode reduzir o aquecimento global a um mero exercício astronômico. Obviamente, a ação deletéria de natureza antrópica ocorre e age sobre o clima. Mas ocorre uma multifatorialidade de interferências que torna a questão climática bem complexa.
Referências:
Nature Geoscience Links between eccentricity forcing and the 100,000-year glacial cycle por Lorraine E. Lisiecki
EurekAlert UCSB geologist discovers pattern in Earth’s long-term climate record
Science Daily Geologist Connects Regular Changes of Earth’s Orbital Cycle to Changes in Climate
UFRGS Precessão do Eixo da Terra
Geóloga liga as mudanças regulares do ciclo orbital da Terra às mudanças climáticas globais
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
in EcoDebate, 09/03/2016
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Muito interessante, mas nada disso tem a ver com o aquecimento global que estamos experimentando hoje. Pelo contrário, se fossem apenas os fatores astronômicos que estivessem envolvidos, estaríamos tendo DIMINUIÇÃO das tempetaturas globais, visto que:
1. a atividade solar está na parte baixa do seu ciclo;
2. o hemisfério norte, onde há mais terras (quanto mais terra e menos água, mais a insolação esquenta) está recebendo mais insolação no inverno, e o hemisfério sul no verão, nesse momento do como está a órbita e inclinação do eixo terrestre.
Apesar disso, o mundo está esquentando. Por quê? POR AÇÃO HUMANA. A culpa não é dos astros, nem de Deus, nem de São Pedro. A culpa é nossa, compartilhada (embora seja de uns mais que de outros). Estamos colocando um cobertor de gás carbônico, metano, óxido nitroso e outros gases sobre o nosso planeta, queimando óleo, carvão e gás que deveriam estar quietinhos nas entranhas da Terra sem fazer mal, e isso está causando mudanças em todo o mundo.
“Mas um ser humano não é capaz de mudar o mundo”. Claro que é. SETE BILHÕES e subindo, então… Multiplique qualquer coisa por sete bilhões e você terá uma carralhada.
Concordo e reproduzo o último parágrafo…
“Não se pode reduzir o aquecimento global a um mero exercício astronômico. Obviamente, a ação deletéria de natureza antrópica ocorre e age sobre o clima. Mas ocorre uma multifatorialidade de interferências que torna a questão climática bem complexa”.
Grande abs…
RNaime