Agricultura urbana: Andernach, a cidade alemã que virou uma horta, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] Andernach, no oeste da Alemanha, enche canteiros, terrenos baldios e até rotatórias de trânsito com frutas e verduras. Enquanto moradores aproveitam a fartura, o vandalismo diminui e os turistas aparecem em grande número para conferir a experiência.
A matéria publicada pela Deutsche Welle, a agência alemã de notícias, registra que “as abobrinhas acabaram, quase todas colhidas. Só sobraram uma ou outra, meio amareladas.
Para compensar, a abóbora é gigantesca. “Não colheram ainda”, diz a senhora Pfeiffer, que aproveitou o dia ensolarado para passear com o cão. “Espero que eu possa beliscar umas uvas”, diz e sai apoiada no andador. O cachorro cheira algumas plantas, mas antes de tentar levantar a perna, sua dona dá um puxão na coleira e o faz desistir da ideia.
Ao longo das históricas muralhas da cidade de Andernach, prosperam os pés de ameixas, marmelo e caqui, quase esquecidos perto dos tradicionais morangos e vagens. A alguns metros de distância, entre um repolho e a couve, uma placa avisa que os vegetais ainda não estão prontos para serem colhidos.
“Não temos mais nenhum problema com vandalismo desde que plantamos vegetais comestíveis nos canteiros”, conta Karl Werf, funcionário do Juizado de Menores de Andernach e coorganizador do projeto Cidade Comestível.
Brilhando no sol, as uvas verdes são atraentes, mesmo que só estejam boas para colher dentro de algumas semanas. “Com nossa Cidade Comestível, captamos a tendência do momento”, diz Werf. “As pessoas têm cada vez mais prazer em explorar a cidade e mexer na terra.”
Esta territorialização da cidade por seus habitantes, cria e fortalece laços comunitários e solidários, fazendo da cidade uma comunidade de convivência.
Qualquer um pode plantar hortas em terrenos baldios, rotatórias de trânsito e faixas de grama. Seja acelga ou repolho, os diversos vegetais servem não apenas para embelezar a cidade às margens do Reno, mas também para torná-la mais ecológica.
Em pequenas praças e à beira de alguns edifícios, é possível encontrar caixas de madeira com várias espécies de ervas. Os moradores colhem o que a cidade planta. A concepção de cidadania é instigada e todos passam a compartilhar as horas.
“Já levei alface e couve”, conta uma mulher que aproveita a pausa de almoço para tomar um pouco de sol em um banco perto dali. Enquanto isso, uma mãe leva o filho em um carrinho pela trilha de terra.
Ela considera muito atraente a ideia de que cada um pode se servir do que quiser, nesta horta comunitária, que integra o espaço da cidade na vida das pessoas, e fortalece os laços comunitários.
O interesse pela “Andernach Comestível” é enorme. Karl Werf acompanha equipes de reportagem e delegações internacionais pelas ruas, para atrair mais atenção às hortas da cidade. Em uma área longe do centro, vegetais e frutas são cultivados comercialmente sem estufa, em equilíbrio com as condições climáticas patrocinadas pelas estações do ano.
Trata-se de um jardim utilizado para ensino, um modelo para a chamada permacultura. Espécies raras e ameaçadas de porcos, galinhas, vacas e ovelhas também são criadas ali. E esses produtos regionais e sazonais ainda rendem dinheiro.
Além disso, o conceito atrai turistas. “Viemos a Andernach especialmente para conhecer a Cidade Comestível”, diz um casal da região da Renânia. “A gente se interessa muito por arbustos. Nosso jardim é cheio deles”.
Os canteiros urbanos precisam de muitos cuidados, porém, se economiza tempo através do projeto integral, explica o coorganizador Karl Werf. Orgulhoso, ele conta sobre turistas que perguntam pelo nome das plantas floridas nas hortas da cidade e que são batatas ou ervas aromáticas.
No meio dos canteiros, alguns homens capinam e aram a terra. O projeto também tem uma dimensão social. Pessoas há muito tempo sem emprego e refugiados preparam-se para uma vida de trabalho, caracterizando uma abordagem sustentável e holística, explica Karl Werf.
Mesmo exposto diariamente por entre flores e verduras, as pessoas não se sentem confortáveis para falar sobre o fato de estarem desempregadas.
Mas com o trabalho comunitário que realizam é possível devolver algo à sociedade que os apóia financeiramente nos tempos difíceis. A fonte original da notícia é a agência “Deutsch Welle”.
Imagine a revolução que seria uma selva de pedra e violência urbana que é São Paulo, transformada num espaço compartilhado e numa cidade comunitária. Seria quase a “Utopia” de Tomás Morus, “A cidade do sol” de Tomás Campanella ou a “República” de Platão.
Fonte: Quando a cidade vira uma grande horta, in Deutsche Welle
- Vejam também, no EcoDebate, na tag Agricultura Urbana.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
in EcoDebate, 01/03/2016
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Prof. Naime!
Muito bom. A referida cidade alemã eu já visitei e achei muito interessante.
Eu tenho um ECOlab bem perto da minha casa onde estou realizando uma experiência de produção de alimentos no perímetro urbano em complementação as mini hortas do Centro Urbano de Práticas Ambientais “Lewa sperança”.
Um abraço e muita saúde para poder continuar produzindo bons textos para enriquecer as nossas leituras.
Muito obrigado Profa Leoni…
Grande abs…
RNaime