O oceano e a sustentabilidade, artigo de Laís Vitória Cunha de Aguiar
Foto: NOAA
[EcoDebate] É duro o tempo em que alguém, ao invés de encontrar conchas na praia, encontra lixo. Ainda me lembro da época em que meu tio mergulhava e nos trazia caramujos do mar. Hoje em dia não há mais. O pior de tudo é saber que esse não é somente um problema local, e sim mundial.
Segundo pesquisa da Associação Educacional do Mar de Woods Hole, cerca de oito milhões de toneladas de plástico vão para o oceano todo ano. O plástico teve suas principais áreas de poluição divididas nos intitulados ‘giros’, que se localizam no Pacífico Norte, Pacífico Sul, Atlântico Norte, Atlântico Sul e Oceano Índico. Quem quiser saber mais sobre isso pode acessar esse site: http://www.gyrecleanup.org/what-is-the-gyre/
Voltando ao regional, existem praias menos e mais sujas. Fui passar as férias na Paraíba, porém, as praias de João Pessoa e Cabedelo não são tão limpas como parecem nos cartões postais, é possível encontrar tijolos, o fenômeno da Maré Vermelha (infestação de algas vermelhas microscópicas tóxicas), além de muito plástico e poucas lixeiras. (http://g1.globo.com/pb/paraiba/bom-dia-pb/videos/v/moradores-reclamam-do-esgoto-jogado-na-agua-do-mar-em-joao-pessoa/4616599/ )
A beleza natural dessas praias é ofuscada pela sujeira. A quantidade diária de algas tóxicas nas praias é simplesmente absurda. Nas duas semanas que permaneci em João Pessoa poucas vezes presenciei suas principais praias livres da sujeira. Eu tive até alergia na perna na área em que fui tocada pelas algas.
Em Cabedelo há um local chamado Areia Vermelha, uma pequena ilha próxima da costa que aparece e desaparece dependendo da maré. Ela tem vários corais em volta, é linda, mas tanto os turistas quanto os ambulantes não respeitam os corais, por mais que os guias avisem. Os ambulantes passam com seus carrinhos de sorvete em cima dos corais, e as pessoas vão para a área delicada que os guias pedem para não ir, pois prejudica o meio-ambiente local.
As soluções, no entanto, continuam sendo óbvias: mais lixeiras nas praias, placas educando os cidadãos sobre os locais para colocar o lixo, tratar totalmente a água antes de jogar no oceano (como faz Maceió, por exemplo), implantar a educação ambiental nas escolas municipais, da mesma forma que foi feito em outras cidades brasileiras, como São José dos Campos.
Até pedaços de uma casa encontram-se esparramados em Cabo Branco e Praia do Poço, sendo a segunda localizada em Cabedelo. Pequenas atitudes, como as citadas acima, tem grandes consequências.
O aumento na escala de turistas é uma, pois ninguém faz propaganda positiva de praias sujas, assim como ninguém volta a lugares que, apesar de serem belíssimos, não estão bons para banho. A Regência Regional do Litoral, órgão responsável pelos cuidados com as praias, precisa ser mais atuante.
Muitos outros belíssimos locais turísticos possuem as mesmas características de João Pessoa e Cabedelo. Até a Playa Del Carmen, considerada um dos principais pontos turísticos do Caribe, já teve Maré Vermelha. É necessário que o mundo tenha atitudes melhores relacionadas ao oceano, a nossa principal fonte de alimentos.
Necessitamos lutar arduamente para proteger o mar contra os agrotóxicos (pois esses, além de causarem mal a nossa saúde, vão parar nos lençóis freáticos indo para o mar) proteger contra outras espécies de lixo que são jogadas no oceano, sem falarmos na pesca predatória. Além de catástrofes como ocorridas em Mariana, que poderiam muito bem ser evitadas por meio de prevenções.
O mar é fonte de vida, destruir as praias não é somente uma irresponsabilidade ambiental como também representa a forma não sustentável em que estamos vivendo. Acabamos de realizar o maior acordo entre países da história, a COP 21, e nele nos comprometemos a adotar um estilo de vida sustentável.
Um bom primeiro passo seria manter as praias limpas para não sujar mais ainda o oceano, preservando a vida latente presente em cada uma das ondas que vem e vão.
Laís Vitória Cunha de Aguiar, 19, é ativista ambiental, estudante de Ecologia da UFPB e comunicadora popular pela Adopt a Negotiator, uma organização mundial que engloba jovens de diversos países com objetivo de divulgar o que ocorre nas negociações climáticas.
in EcoDebate, 15/02/2016
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Em tempos e Estados/Instituições que fazem cálculos com a indústria tecno-bélica e propagandas de “compromisso social e ambiental” (como os comerciais da SAMARCO, em horário nobre da GLOBO), ou seja, tempos de desesperança… Ler palavras de jovens como Laís, ainda são um alento. E são alento em tempos avassaladores de desesperança…
Mais “Laís” seria muito bom…
Capitalismo é sinônimo de lucro, e não tem nenhum vínculo com a qualidade do meio ambiente.
Essas tentativas de preservação do que ainda resta são sempre frustradas, uma vez que a biosfera terrestre é muito sensível e está sendo atacada por mais de sete bilhões de seres humanos que dispõem de grande poder científico e tecnológico que está sendo utilizado para a destruição das condições sociais e ambientais necesssárias para o desenvolvimento da vida humana e de todas as demais espécies vivas.
Acredito que, se quizermos apresentar alguma proposição que seja, de fato, eficaz, devemos falar de abolição do regime capitalista e implantação de um Socialismo que promova o controle da natalidade humana, objetivando a redução da população a uma quantidade equivalente a dez por cento da atual, além de medidas educacionais e de restauração do meio ambiente, entre tantas outras.
Infelizmente, essa proposta é inviável, e tudo mais de que se tem falado, inclusive essas conferências, tipo COP21, equivale a malhar em ferro frio, ou seja, nada se conserta, e a destruição continua avançando em ritmo cada vez mais acelerado, até quando todo o sistema entrar em colapso.
Sabe, Laís, eu gostaria de estar totalmente equivocado, mas, infelizmente, a realidade é evidente demais.
Grande parte da população humana da Terra já vive privada de alimento e água, e muitas espécies vivas já foram extintas, e muitas outras se encontram em estado de extinção.
Como disse acima, não tardará para que todo o sistema entre em colapso.