Um sanduíche de peixe como exemplo de impacto ambiental antrópico, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] Quando em algumas oportunidades, os úteis e práticos empreendimentos de redes varejistas se implantam, boa parte dos maiores impactos ambientais, decorrem de pequenos e tradicionais iniciativas também empreendedoras que acabam definitivamente afetadas.
Abre um grande supermercado e a tradicional padaria da esquina, ou o açougue que existe há décadas, são deleteriamente afetados. Tanto que frequentemente quando se implanta empreendimento varejista, uma das medidas mais comuns de compensação ambiental é a destinação de área para realocção e reengenharia de empreendedores anteriores locais, que são afetados.
Uma forma bastante didática de manifestar este tipo de impacto ambiental, chamado de antrópico ou socioeconômico pode ser exemplificado com a adoção de um sanduíche de peixe por uma famosa rede de “fast food”. O “Filet-O-Fish”, sanduíche de peixe do badejo, está ameaçando comunidades de pescadores no Alasca. A pesca massiva está acabando com a população de linguado, fonte de alimentação e renda de povos nativos.
Citando uma reportagem do “Slate”, segundo site da revista Exame ambiental, barcos pescam o badejo em massa, nas águas de Seattle, nos Estados Unidos. O peixe é vendido para redes internacionais de “fast food”, para a produção de sanduíches, e também para alguns restaurantes japoneses na Califórnia, além de abastecer as fileiras de congelados de grandes redes varejistas.
Os navios pesqueiros, às vezes do tamanho de campos de futebol, buscam o badejo no Mar de Bering, que separa o Alasca da Rússia. Os navios atravessam o mar e retornam a sua base em Seattle, nos Estados Unidos.
O problema é que esses barcos não capturam apenas o badejo. Uma vez que suas redes são feitas para pesca em massa, acabam capturando também o linguado. A quantidade do peixe está caindo nos últimos anos, ameaçando sociedades nativas do Alasca, como as comunidades Yup’ik e Aleut.
Eles dependem do linguado como fonte de alimento e também de renda. Com a queda na população do animal, muitos pescadores estão perdendo seus empregos, diz a reportagem.
Mais de 30 mil pessoas no Alasca dependem do linguado para se alimentar. Boa parte dos mesmos dependem desta espécie como única fonte de renda no Alasca e no Canadá, mas o número é ainda maior considerando pescadores de Washington, Oregon e da própria Califórnia.
Na própria embalagem do “Filet-O-Fish”, a rede de “fast food” afirma que faz a pesca de forma sustentável. O selo é emitido pelo “Marine Stewardship Council”, que monitora o impacto da pesca de empresas. Nestas alturas não se sabe em que acreditar, ou quando acreditar. Este conselho, sem dúvida é para ser instituição séria e dotada de credibilidade.
A captura acidental de linguado permitida corresponde a menos de 1% do total pescado pelos barcos comerciais. No entanto, como o volume pescado é enorme, a entidade “Pacific Salmon Comission” estimou que foram capturados mais de 2,8 mil toneladas de linguado no ano passado.
As taxas de linguado capturadas também ultrapassaram o permitido nos últimos anos. Em alguns casos, os pesqueiros jogam os peixes incorretos de volta ao mar, mas poucos sobrevivem.
Um representante do Conselho de Coordenação de Pesca do Pacífico Norte afirmou que a organização quer “assegurar o fornecimento de frutos do mar a todas as comunidades, incluindo comunidades costeiras que dependem de peixes para sua sobrevivência”.
Este é um firme e didático exemplo de como boa parte das vezes, os impactos ambientais socioeconômicos ou antrópicos emolduram, de forma hegemônica, situações de conflito social. Estas situações antagônicas são cada vez mais comuns e exasperantes, em cenários locais ou mesmo internacionais. E o pior de tudo não existe formação acadêmica adequada versando sobre procedimentos de governança ambiental ou conhecimentos universalizados de diretrizes e princípios básicos de antropologia.
Que se entende por governança ambiental. Não é pretensão cristalizar uma conceituação completa e inquestionável, até mesmo porque esta situação não existiria. Governança transcende a assistencialismo social.
Conceito transposto da área empresarial, neste contexto significa mediar de forma sistêmica, os interesses envolvidos de todas as partes interessadas, buscando a máxima satisfação possível com a conciliação de todas as demandas emergentes.
É mediar e compatibilizar interesses legítimos e que transcendem caráter pessoal ou financista. E que ampliem a conceituação de preservação ambiental e de empreendimentos, procurando satisfazer as demandas de todas as populações locais atingidas.
E o pior de tudo. Não se observam iniciativas sistêmicas para sensibilização e treinamento de pessoas e implantação permanente de setores com esta competência nas esferas públicas.
Fortuita ou espontaneamente se registra um pobre policial militar ou até mesmo um professor, buscando improvisadamente exercer esta função. Até quando este quadro vai perdurar ???
http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/sanduiche-de-peixe-do-mcdonalds-ameaca-povos-pesqueiros
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
in EcoDebate, 07/01/2016
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“o capitalismo não existe para defender a qualidade do meio ambiente, e não tem a menor preocupação com o que chamam de SUSTENTABILIDA AMBIENTAL; cada empresa privada e cada Estado capitalista existem para obterem lucro, ou seja, DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO.”
Concordo e lamento Valdeci, o sistema não dá esperanças nem de se auto-preservar…
Abs…
RNaime