Saneamento: das Olimpíadas ao Zika vírus, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)
[EcoDebate] Que o Brasil ainda é um país de ponta cabeça, todos sabemos. Tanto é que realizou copa do mundo, vai bancar uma Olimpíada, mas a lagoa Rodrigo de Freitas e a Baía da Guanabara, escolhidas para esportes aquáticos, estão contaminadas por esgotos e assusta atletas do mundo inteiro por riscos de doenças.
Ao mesmo tempo temos o mosquito Aedes Aegypty, que transmite dengue, Chikungunya e agora o Zica vírus, capaz de causar microcefalia e doenças no sistema nervoso central. Assim, uma das maiores economias do mundo patina sobre um alicerce erguido sobre areia movediça.
O saneamento básico será tema da Campanha da Fraternidade de 2016. Realizado pelo Conselho Nacional das Igrejas (CONIC), com espaço cedido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), vai abordar essa temática fundamental para qualquer país civilizado, mas que não tem padrinho político algum no Brasil.
A situação começou a mudar – ao menos no papel – quando Olívio Dutra foi ministro das cidades e, em seu mandato, foi elaborado o Plano Nacional de Saneamento Básico. Agora, ao menos, temos um plano e uma lei.
O PLANSAB está propondo sanear o Brasil em 20 anos, exigindo cerca de 500 bilhões de reais nesse período. Para tal, cada município deveria elaborar até final de 2015 (sic!) seu Plano Municipal de Saneamento, sob pena de não poder acessar os recursos federais. Não sabemos quantos municípios o fizeram, nem se teremos dinheiro para investir nos próximos anos.
O conceito é excelente. Por saneamento básico se entende “o abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos, manejo dos resíduos sólidos e a drenagem da água de chuva”. Na Bahia, temos um item a mais, fundamental para entender o que se passa, isto é, “o controle de vetores”.
Vetores são esses bichinhos como o Aedes, ratos, baratas, que vivem e proliferam no lixo e difundem doenças.
A questão é simples e nem precisamos nos delongar: país sem saneamento está sujeito a essas doenças transmitidas por esses vetores, seja por descuido dos cidadãos, seja pela falta de uma política pública efetivada.
Hoje, com pequenas melhoras, cerca de 50% de nossos lares ainda não tem coleta de esgoto e cerca de 62% ainda são lançados diretamente nos rios e corpos d’água. O lixo, a drenagem da água de chuva, variando de região para região, costumam ter índices ainda piores.
Portanto, bem-vinda a Campanha da Fraternidade. Quando os governantes não assumem, o povo precisa assumir.
Sem saneamento não há saúde pública.
Roberto Malvezzi (Gogó), Articulista do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.
in EcoDebate, 04/12/2015
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Do jeito que vai a situação política, a África vai ser saneada antes e Oswaldo Cruz vai continuar se revirando no caixão sem ter paz…
Abs…
RNaime
Caro Naime,
Se a sociedade se mover ainda tenho esperanças. Aqui em Juazeiro da Bahia, onde moro, a cidade era conhecida como o “reino dos mosquitos” – ainda é – a tal ponto que, para beber uma cerveja ao ar livre, os bares colocavam mosquiteiro em cada mesa.
Bom, com o dinheiro do PAC saneamento 90% estará saneada até o final de 2016. Mas, houve mobilização a partir dos bairros.
Espero chegar lá antes da África e dar sossego à alma de Oswaldo Cruz.
Eu também sempre tenho muita esperança como tu, e espero sinceramente que a alma do Oswaldo Cruz descanse, ele merece…
Grande abs…
RNaime
” Assim, uma das maiores economias do mundo [planeta] patina sobre um alicerce erguido sobre areia movediça.”
[trecho do 2º § do artigo].
Se olharmos com um pouco mais de atenção, veremos que todas as economias capitalistas da Terra têm seus alicerces sobre areia movediça.
Nota: refiro-me à incapacidade do planeta de assegurar, ao capitalismo, o desenvolvimento econômico infinito, indispensável para sua sobrevivência.