45% das empresas trabalham ativamente para obstruir a ação contra as emissões de gases de efeito estufa
ONG britânica avaliou influência das 100 maiores empresas do mundo e de 30 associações no clima; CNI aparece entre as que não ajudam, nem obstruem
Uma análise inédita da influência de empresas e associações de classe no debate climático mostra que 45% das cem maiores companhias do mundo trabalham ativamente para obstruir a ação contra as emissões de gases de efeito estufa.
O relatório foi lançado nesta quarta-feira (16) pela organização britânica InfluenceMap.org. Além das maiores empresas de capital aberto do mundo, escolhidas a partir do ranking Forbes Global 2000, foram avaliadas 30 organizações empresariais.
A análise mostrou que quase metade das grandes corporações obstrui avanços, seja por meio de lobby, seja por mensagens de publicidade e relações-públicas no sentido contrário ao da promoção de medidas de mitigação, seja pelo uso de influenciadores para transmitir essas mensagens – ou pelo financiamento direto a políticos e grupos que negam a mudança do clima.
Como esperado, a pior “nota” foi do Grupo Koch, a “holding” gigante americana famosa por bancar grupos de “céticos” para desqualificar os relatórios do IPCC. “As indústrias Koch parecem se opor ativamente a todas as áreas da legislação climática”, afirma o relatório.
A metodologia utilizada pela InfluenceMap foi desenvolvida pela União dos Cientistas Responsáveis, uma ONG americana. Com base em diversos critérios, ela estabelece uma pontuação. Empresas e associações com 60% ou mais de índice de desempenho foram consideradas influenciadoras ativas; abaixo de 40%, opositoras ativas. Ninguém teve pontuação de mais de 94% (nota A) no ranking. Além do desempenho da própria corporação, compõem a média o grau de engajamento e a sua influência sobre outras empresas e associações.
As indústrias Koch, com 13% de desempenho, levaram nota F, com a Duke Energy, a Philips 66 e a indiana Reliance Industries – todas do ramo de energia.
No extremo oposto está a Unilever, com 94%, seguida da Google, com 86% (ambas com nota B). “O CEO da Unilever, Paul Polman, tem sido um apoiador notável de regulações climáticas e tem frequentemente demandado um tratado ambicioso das Nações Unidas sobre mudança climática”, afirma o relatório. Além disso, a empresa parece apoiar o estabelecimento de um preço para o carbono e a transição para energias limpas. No entanto, perdeu pontos por pertencer a associações de classe nos EUA e na Austrália que travam as discussões sobre clima.
Também relativamente bem posicionada aparece a única empresa brasileira da lista, a InBev, controladora da AmBev. A multinacional sediada na Bélgica teve nota C+ (77% de desempenho, acima da Coca-Cola e da Johnson & Johnson), devido a seu “engajamento muito limitado, porém positivo, em políticas e regulações climáticas”.
Não tão bem posicionada ficou a CNI (Confederação Nacional da Indústria), a única organização brasileira avaliada no mapa. A associação recebeu nota D-, com 43% de desempenho.
A CNI não está sozinha: as entidades de classe, no geral, tiveram desempenho pouco progressista no clima: a nota mais alta entre elas foi C-. Como precisam representar a posição média de diversas empresas, as associações são naturalmente mais conservadoras.
“A CNI em geral não parece apoiar políticas de clima”, afirma o InfluenceMap. A ONG aponta contradições no discurso da entidade, como a defesa de uma meta mais fraca para o Brasil no acordo de Paris, uma defesa do papel do carvão mineral e do gás de folhelho para a matriz energética e, ao mesmo tempo, uma defesa de uma economia de baixo carbono e do comércio de emissões.
“Acho que há um pouco de exagero”, afirmou sobre o relatório o gerente executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Shelley Carneiro. Ele disse que as empresas vêm tentando se adaptar às mudanças, o que inclui reduzir emissões de carbono. “Talvez falte comunicação. Não fazemos uma comunicação muito boa.”
Ele disse, no entanto, concordar “em certos aspectos” com a avaliação do InfluenceMap.
Carneiro explica a posição da entidade sobre o carvão mineral em termos de empregos – de 40 mil a 50 mil no setor no Brasil, segundo ele. “Demonizar produtos que estão firmes no mercado e que um dia terão de mudar vai quebrar o mundo inteiro. Nós defendemos uma matriz aberta e trabalhar com as empresas por processos menos poluentes”, afirmou. “Acabar com o carvão e jogar o petróleo fora é uma ilusão.”
in EcoDebate, 23/09/2015
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