Nanning, a ‘cidade verde’ da China, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] A cidade chinesa de Nanning sediou entre 3 e 12 de outubro de 2014, o certame mundial de ginástica. A China, como um todo, é um país que atravessa sérios problemas com a poluição, principalmente atmosférica, mas a realidade na capital da região autônoma de Guangxi, que faz fronteira com o Vietnã, parece ser outra.
Conhecida na China como “cidade verde”, esta metrópole exala harmonia, e embora tenha uma elevada temperatura, é permanentemente refrescada pela presença de uma brisa. Nanning é conhecida como cidade verde, por causa da grande quantidade de parques e vegetação tropical. É destaque a grande presença de motocicletas movidas a motores elétricos, que evitam a poluição, não consumindo derivados de hidrocarbonetos como combustíveis e não gerando poluição.
Para uso durante o evento esportivo, a organização do evento disponibilizou grande quantidade de bicicletas para uso de atletas ou mesmo de torcedores. A cidade é também referência na China por sua conscientização ecológica. Está em permanente construção uma vigorosa “greentown” dentro do gigantesco território da China.
Em Nanning, a administração municipal atribui grande relevância ao permanente trabalho de arborização e proteção ecológica. Esta postura, com a disseminação de uma cultura preservacionista, tem possibilitado evidenciação. A cor verde tem se tornado dominante na simbologia da cidade, vencedora de prêmios importantes como o “National Forest City”e o “China Green City”.
As mascotes do evento esportivo, batizados de “Nannam” e “Ningning” são macacos típicos da região e estão ainda bastante preservados. No Mundial de Ginástica foram associadas a modernidade e a pujança que a China apresenta nos últimos tempos, com a tradição e as raízes da antiga China.
As motos elétricas da cidade de Nanning representam e simbolizam uma notável peculiaridade do local. Em seu ritmo aparentemente lento, diante do frenesi a que se está habituado, carregam de tudo, incluindo crianças, famílias praticamente inteiras, animais, cargas e até mesmo idosos. As motos ainda se apresentam “vestidas”, com mantas na forma de adornos para individualizar ou “customizar” o mecanismo de direção no tráfego. Estas engenhocas peculiares se misturam entre carros e pedestres, e embora não sejam bicicletas, muitas delas apresentam pedais, mas não se parecem com os tipos encontrados no Brasil. Em ruas e cruzamentos muito movimentados, as motos elétricas se integram na paisagem, encontrando seu espaço sem buzinadas ou xingamentos. O trânsito caótico encontra seu caminho de funcionamento.
O complexo esportivo de Guangxi tem pouco mais de dois anos de existência, sendo constituído por quatro suntuosas arenas, detentoras de traços futurísticos de design. A cidade não perde sua condição de cidade de negócios, e, à noite, luzes coloridas ornamentam arranha-céus. Nanning é sede de uma exposição anual que incrementa negócios com os parceiros do sudeste asiático.
A precisão e a grandiosidade de organização dos chineses leva a desconfiar que as ações são cronometradas para causar mais impacto aos visitantes. Não se sabe se são realmente cronometradas. Mas os efeitos psicológicos que determinam são muito relevantes. Até um manual ou guia para orientação da participação da plateia nos eventos esportivos foi desenvolvido e publicado por um jornal local.
Não se determina se esta é realmente uma cidade ecológica, mas os diferenciais apresentados em relação ao restante da China são marcantes. Existe uma grande rede hoteleira voltada para a exploração do nicho de sustentabilidade, aproveitando as monumentais áreas verdes tropicais exibidas pela cidade. E também a peculiaridade representada pelas motos elétricas que materializam um relevante e monumental meio de transporte, não poluente. Bem como a qualidade um pouco melhor da atmosfera, muito afetada em toda a China, mas melhor preservada dentro da circunscrita área de influência desta metrópole.
A simples existência da rede de hospedagem voltada para símbolos de sustentabilidade numa cidade considerada “verde” por seu grande número de áreas de preservação e grande arborização urbana, indica que existe “público” identificado com estes princípios e capaz de sustentar e manter a viabilidade econômica das iniciativas, algumas delas bastante arrojadas pelas descrições observadas.
A cidade de Nanning é um entroncamento ferroviário da China, estando localizada nas margens do denominado rio Yong. Os últimos dados indicam uma população em torno de 1,5 milhão de habitantes, tendo sido fundada no século X, sendo capital da região autônoma de Guangxi desde o ano de 1.912.
O clima tropical e quente de Nanning, favorece o desenvolvimento da biodiversidade. Além da grande quantidade de espécies animais são catalogadas mais de 3.000 espécies de plantas. A flor mais característica da região é a chamada flor de Jaba, um arbusto local bastante perene e disseminado.
As árvores mais comuns são as amendoeiras, que são espécies nativas da região e também utilizadas em arborização urbana e paisagismo em toda a cidade de Nanning. Na China, onde sempre é muito divulgada a poluição em todos os níveis, particularmente o atmosférico, não deixa de ser uma grata surpresa encontrar uma cidade tropical repleta de áreas verdes, com arquitetura moderna e cultivo das tradições e a peculiar característica de muitas motocicletas movidas à geração elétrica dominarem a paisagem.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
in EcoDebate, 22/09/2015
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