Uma mulher no comando da Casa Branca? artigo de José Eustáquio Diniz Alves
“O grau de emancipação das mulheres em uma sociedade é o
termômetro através do qual se mede à emancipação geral”
(Charles Fourrier, 1808)
[EcoDebate] Talvez não signifique muita coisa, mas há uma novidade, na perspectiva de gênero, na política dos Estados Unidos da América (EUA). Uma mulher experiente, idosa e avó, pode chegar ao comando do posto político mais importante do mundo se vencer as eleições presidenciais americanas, em novembro de 2016. Hillary Diane Rodham Clinton (nascida em Chicago, 26 de outubro de 1947) pode se tornar a primeira mulher a comandar a Casa Branca. Na data das eleições presidenciais de novembro de 2016, ela terá 69 anos, terminando o primeiro mandato com 73 anos.
As mulheres são maioria da população dos Estados Unidos. Segundo a Divisão de População da ONU, a população dos EUA está estimada em 325 milhões de habitantes, em 2015, sendo 50,7% de mulheres. A população idosa (de 60 anos e +) é de 67 milhões, sendo 54,8% de mulheres. A partir dos 35 anos as mulheres são maioria em todos os grupos etários. Consequentemente, elas são maioria do eleitorado americano. Porém, nunca houve uma mulher eleita como presidenta ou vice-presidenta dos EUA.
A primeira barreira para o empoderamento feminino na política encontra-se nos partidos. Nunca na história da República dos Estados Unidos houve uma mulher indicada nas primárias dos dois maiores partidos do país: o Democrata e o Republicano. Vencer uma convenção partidária sempre foi o primeiro e intransponível obstáculo. Porém, tudo indica que Hillary Clinton será vencedora das primárias do partido Democrata. As pesquisas dão mais de 60% dos votos para a ex-Secretária de Estado e ex-Primeira Dama dos EUA entre os democratas. O outro possível candidato democrata, Joe Biden, não chega a 15% das preferências de seus correligionários. Portanto, pela primeira vez, uma mulher pode vencer uma Convenção de uma dos dois partidos que se alternam no poder nos EUA. Evidentemente, muitos obstáculos vão aparecer ao longo da campanha.
Vencer as eleições presidenciais seria virar uma página importante da história no ano que vem. Hillary Clinton é considerada uma das pessoas com maior experiência política dos EUA. Ela nasceu em Illinois, fez graduação em Direito na universidade de Yale (1973), trabalhou como advogada atuando na defesa dos direitos das crianças, casou-se com Bill Clinton em 1975, foi primeira-dama do estado do Arkansas de 1979 a 1983, primeira-dama americana de 1992 a 2000 e, dentre outras atividades, liderou a delegação dos Estados Unidos na VI Conferência Mundial das Mulheres, em Beijing, em 1995. No início do século XXI, foi eleita senadora pelo estado de Nova Iorque, sendo a primeira mulher eleita pelo estado e a primeira ex-primeira-dama a ser eleita para o Senado. Em 2008, Hillary perdeu a indicação das primárias democratas para o então senador Barack Obama, mas se tornou Secretária de Estado do governo Obama, entre 2009 e 2012. Em abril de 2015, anunciou formalmente que disputará a indicação do Partido Democrata ao cargo de presidente dos Estados Unidos.
O site Real Clear Politics organiza e divulga todas as pesquisas realizadas sobre as intenções de voto. Na média das pesquisas entre março e maio de 2016, a ex-senadora Hillary Clinton está à frente de todos os possíveis candidatos republicanos. A menor diferença é de 2,8% com Rand Paul. Em relação a Jeb Bush a diferença é de 5,2% a favor de Clinton. Em alguns casos a diferença chega a dois dígitos. Ou seja, o retrato do momento atual é bastante favorável à vitória feminina nas eleições de 2016. Aliás, nunca houve um quadro tão favorável para uma alternância de gênero no Poder nos EUA.
Uma vitória de Hillary também teria impactos geracionais. Seria a primeira vez que uma idosa e avó chegaria ao comando da Casa Branca. Em geral, as mulheres, especialmente as idosas, comandam as casas no que diz respeito às tarefas reprodutivas. Mas uma idosa/avó conseguir chegar ao núcleo do Poder americano seria uma novidade espetacular, mostrando que o destino das mulheres de idade avançada não é, necessariamente, ficar em casa usufruindo os recursos da aposentadoria ou na dependência do Estado.
O primeiro comício da campanha foi realizado para milhares de pessoas, no dia 13 de junho de 2015, em Roosevelt Island, no East River, em Nova Iorque. O local é simbólico, pois lembra o grande presidente democrata que lutou contra a grande depressão dos anos 1930 e lembra, também, a primeira-dama mais revolucionária da história americana que foi Eleanor Roosevelt. Neste ambiente, Hillary disse: “Talvez não seja a mais jovem entre os candidatos a esta eleição. Mas serei a mulher presidente mais jovem da história dos Estados Unidos… E a primeira avó!”.
Hillary Clinton pode se tornar um exemplo de mulher idosa e avó que não se intimida em ocupar a Chefia da Casa Branca, ser “Comandanta” em Chefe das Forças Armadas, além de dirigir o Estado, a economia e as políticas públicas de bem-estar social. Pode ser que nada mude para o Brasil, a América Latina e o resto do mundo. Mas certamente terá um impacto nas questões de gênero. Mas para chegar ao comando da Casa Branca, ela terá a tarefa premente de conquistar os votos e convencer o eleitorado que uma mudança desta magnitude é possível e desejável.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, 28/08/2015
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Puxa, mas o quadro não mostra nem o Donald Trump nem o Al Gore (que seria candidato dos democratas, então até faz sentido, mas como ele se sairía contra esse mesmo monte de gente). São dois dos nomes que estão sendo mais citados, e faz falta não estarem na pesquisa.
Donald Trump pode ser meio ridículo, mas é quase como se o Sílvio Santos concorresse para a presidência no Brasil (lembro que ele tentou uma vez, mas a candidatura não foi.). Não é alguém que possa ser ignorado.
Talvez eu não esteja dizendo coisa com coisa, mas é assim que penso:
No regime escravocrata, disfarçado de democracia, que predomina no planeta Terra, a diferença entre haver uma mulher ou um homem à frente do governo, é absolutamente insignificante.
A questão não é de gênero, é de regime.