Drama na maior região metropolitana do Brasil: a crise do emprego em São Paulo, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] O mercado de trabalho está em crise no Brasil, mas especialmente na região metropolitana de São Paulo (RMSP). Enquanto cresceu o número de habitantes na região, a população ocupada (PO) ficou estagnada em torno de um número pouco abaixo de 10 milhões de trabalhadores entre dezembro de 2010 e dezembro de 2014. Mas a partir de janeiro de 2015, a PO começou a perder milhares de empregos por dia, processo que não parece ter um fim no curto prazo e pode inclusive se agravar. A situação configura a maior crise de geração de trabalho dos últimos 25 anos, segundo dados da pesquisa de emprego e desemprego (PED), do Dieese.
Em dezembro de 1989 foi eleito, pelo voto direto e universal, o primeiro presidente da Nova República no Brasil. Naquele mês, a população da região metropolitana de São Paulo era de 14,9 milhões de habitantes, sendo 11,8 milhões de pessoas em idade ativa (PIA), com mais de 10 anos de idade. A população ocupada (PO) era de 6,7 milhões de habitantes. O percentual de PO/PIA era de 56,3%.
Cinco anos depois dos governos de Fernando Collor (03/1990-09/1992) e Itamar Franco (10/1992-12/1994), em dezembro de 1994, a população da região metropolitana de São Paulo era de 16,3 milhões de habitantes, sendo 13,1 milhões de pessoas em idade ativa (PIA). A população ocupada (PO) era de 7 milhões de habitantes. O nível de emprego cresceu 6% em cinco anos.
Oito anos depois do governo Fernando Henrique Cardoso (01/1995 a 12/2002), em dezembro de 2002, a população da região metropolitana de São Paulo era de 18,3 milhões de habitantes, sendo 15,3 milhões de pessoas em idade ativa (PIA). A população ocupada (PO) era de 8 milhões de habitantes. Houve aumento de um milhão de vagas no mercado de trabalho e o nível de emprego cresceu 13% em oito anos.
Oito anos depois do governo Luiz Ignácio Lula da Silva (01/2003 a 12/2010), em dezembro de 2010, a população da região metropolitana de São Paulo era de 19,7 milhões de habitantes, sendo 17 milhões de pessoas em idade ativa (PIA). A população ocupada (PO) era de 9,7 milhões de habitantes. Houve aumento de 1,7 milhão de vagas no mercado de trabalho e o nível de emprego cresceu 22% em oito anos. Foi o melhor período na geração de oferta de trabalho da Nova República.
A primeira mulher a assumir a presidência da República – Dilma Rousseff – tomou posse no dia primeiro de janeiro de 2011. Quatro anos depois, em dezembro de 2014, a população ocupada na região metropolitana de São Paulo se mantinha, aproximadamente, no mesmo nível que estava em dezembro de 2010. Portanto, o primeiro governo Dilma foi marcado pela estagnação do mercado de trabalho.
Mas o segundo governo Dilma começou com uma crise sem precedentes já no primeiro semestre de 2015. Em junho, a população da região metropolitana de São Paulo era de 20,4 milhões de habitantes, sendo 17,7 milhões de pessoas em idade ativa (PIA). A população ocupada (PO) era de 9,6 milhões de habitantes. Pela primeira vez, houve um declínio no nível de emprego e o percentual da PO/PIA caiu para o nível de 54,6% (abaixo daquele do início do governo Collor). O desemprego chegou a 13,2%, com um montante de 1,5 milhão de pessoas na RMSP sem poder exercer o direito básico, garantido na Constituição Federal, de ter um trabalho. O pior é que não há perspectivas de melhoras significativas no segundo semestre de 2015 e nem durante o ano de 2016.
Para o Brasil, a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salários (Pimes), do IBGE, mostra uma redução de 5,2% no total de vagas formais no setor produtivo no primeiro semestre deste ano. O resultado é o pior já registrado para o período desde 2002. No território nacional, paulistas e paulistanos são os mais afetados pelo processo de desindustrialização e eliminação de vagas.
A região metropolitana de São Paulo é a maior e a mais rica do Brasil. Em número de pessoas, ela é equivalente a soma das populações de Portugal e Grécia. Uma crise de grandes proporções no mercado de trabalho na RMSP vai provocar um empobrecimento de muita gente e afetar o restante do país. Se não houver recuperação nos próximos anos, estaremos diante de desafios de grande dimensão.
São Paulo tem problemas internos (como a crise hídrica) e problemas externos em função da crise econômica brasileira e que pode ser agravada pela crise internacional. Desde a quebra do banco Lehman Brothers, em 2008 e a recessão de 2009, a economia internacional tem crescido com base no crédito fiduciário e no endividamento. A consultoria Mackinsey publicou em fevereiro de 2015 um relatório (Debt and, not much, deleveraging, McKinsey Global Institute – MGI) mostrando que as dívidas dos domicílios (famílias), governos, empresas e setor financeiro passou de US$ 87 trilhões no quarto trimestre de 2000 para US$ 142 trilhões no quarto trimestre de 2007 e para US$ 199 trilhões no segundo trimestre de 2014. Em proporção do PIB a divida total passou de 246% em 2000, para 269% em 2007 e atingiu 286% em 2014. Era impossível o endividamento continuar indefinidamente. Assim, a turbulência no mercado de capitais da China, da Europa e dos Estados Unidos neste mês de agosto de 2015 é um prenúncio de problemas mais graves que devem afetar o ritmo de crescimento econômico no mundo.
Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério do Trabalho, mostram que o emprego formal vem caindo mês a mês nos últimos 5 anos e bateu o recorde de perdas de vagas com carteira assinada em julho. No mês, as demissões superaram as contratações em 157.905. Foi o quarto mês seguido de demissões na economia brasileira. O resultado de julho também foi o pior para este mês desde o início da série histórica do Ministério do Trabalho para este indicador, em 1992. Depois das últimas eleições presidenciais, de dezembro de 2014 a julho de 2015, foram fechadas mais de um milhão de vagas com carteira assinada no Brasil. São cerca de 5 mil vagas perdidas por dia durante os últimos 8 meses.
Uma crise econômica internacional de grandes proporções é tudo que os trabalhadores brasileiros desejariam evitar. Consequentemente, o aumento do desemprego e falta de dinamismo do mercado de trabalho no Brasil e na RMSP – em decorrência da soma dos problemas internos e externos do país – podem atingir dimensões jamais vistas, indicando uma grande catástrofe social.
Referências:
ALVES, JED. A dívida de 200 trilhões de dólares e a próxima crise financeira mundial. Ecodebate, RJ, 13/03/2015 http://www.ecodebate.com.br/2015/03/13/a-divida-de-200-trilhoes-de-dolares-e-a-proxima-crise-financeira-mundial-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) do DIEESE http://www.dieese.org.br/analiseped/ped.html
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, 26/08/2015
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A condição em que se encontram atualmente a cidade de São Paulo, o Brasil e todos os países capitalistas, com os países ricos se fechando para se protegerem das ondas migratórias, e a grande quantidade de conflitos existentes em diversas regiões do planeta, são indicadores de uma calamidade que era prevista pelos estudiosos, em caráter permanente e com gravidade crescente, evoluindo para um colapso planetário.
Essas previsões se fundamentavam no fato de que o desenvolvimento econômico não poderia ser constante e infinito, tendo em vista que o planeta Terra é limitado, e já se encontra danificado muito além do que seria possível suportar, enquanto a população humana continua crescendo, o que corresponde ao crescimento da degradação do meio ambiente e dos conflitos sociais.
A bomba que teve seu estopim aceso há duzentos e poucos anos, com a revolução industrial, se encontra, agora, na iminência de explodir.
Será que o Doutor José Eustáquio Diniz Alves, autor do artigo ora comentado, concorda com essa minha ousada avaliação?
Há um excesso de desemprego camuflado pelo bolsa família.
São cerca de 14 milhões de famílias, mais de 50 milhões de pessoas, ou seja, mais de 25% da população brasileira, que estão em 2015 beneficiadas pelo miserável valor de no máximo R$77 per capita do Bolsa Família, cujos adultos sem emprego, os quais rondam os 20 milhões, não constam das estatísticas de desemprego do IBGE, nem como população ativa.