Influenciando os sistemas ecológicos, artigo de Marcus Eduardo de Oliveira
[EcoDebate] O naturalista francês, Jean-Baptiste de Lamarck (1744-1829), criador do termo “Biologia”, ao escrever sua obra “Sistema Analítico dos Conhecimentos Positivos do Homem”, em 1820, observou que “o homem, por seu egoísmo muito pouco clarividente para com seus próprios interesses, por sua propensão a fruir de tudo o que está a sua disposição, em uma palavra, por sua falta de preocupação com o futuro e seus semelhantes, parece trabalhar na ruína de seus meios de conservação e na própria destruição de sua própria espécie”.
Pois bem. Transcorridos quase 200 anos da afirmação acima, a sociedade mundial, no que tange a se preocupar com o próprio futuro, parece que em nada mudou. O dogma da autodestruição, que hoje veste a roupagem do consumismo, permanece triunfante, senão triunfalista.
Estimulados pela “necessidade” de consumo opíparo, característica emblemática da distorcida visão de progresso, patrocinada pelo capitalismo moderno, os humanos têm influenciado os sistemas ecológicos, desequilibrando a natureza, facilitando, assim, a destruição de sua própria espécie, como bem asseverou Lamarck.
Perseguir essa deturpada visão e noção de progresso tem se constituído uma ameaça à natureza; não por acaso, as atividades humanas criaram, desde os últimos 60 anos, uma crise ambiental de proporções globais, visíveis no dia a dia: queimadas, desmatamentos, exploração desenfreada de recursos naturais, desaparecimento de espécies animais e vegetais, milhões de hectares de florestas que simplesmente viram fumaça, emissões de gases de efeitos estufa, buraco na camada de ozônio, desperdícios, poluição, radioatividade, acidificação dos oceanos, uso inadequado de água, de terras, alterações do clima etc.
Concernente a isso, como destaca R.E. Ricklefs, em “A Economia da Natureza” (2003, p. 20), resolver nossos problemas ambientais agudos exigirá a aplicação inteligente de princípios gerais de Ecologia dentro das esferas de ação política, econômica e social.
Dentro desses princípios gerais a serem adotados, visando “consertar-se” o estrago feito à natureza, os benefícios do poder do capital e da técnica, que hoje dão as cartas nas decisões econômicas globais, não mais podem sobrepujar o poder de autorregulação da natureza.
Insistir nisso é continuar influenciando – para a derrocada – os sistemas ecológicos, ignorando, sobremaneira, o massacre que sofre a natureza pelas mãos humanas, pela atividade econômica sem limites que mina qualquer chance da natureza “respirar” diante da pressão exercida pelos mecanismos comerciais que atendem em nome do mercado de consumo.
Desse modo, coube ao mercado, a partir das forças capitalistas que passaram a falar num tom mais elevado, possibilitar à humanidade transformar o planeta em um vasto supermercado, reduzindo a natureza a uma reserva de matéria inerte e a um lixão, para usarmos as pontuais palavras do economista Serge Latouche, que segue a mesma orientação ideológica de outro economista francês, François Partant (1926-1987), precursor da ideia de pós-desenvolvimento, a partir de sua interessante obra “La Fin du Développment – Naissance d´une Alternative?”.
O paradoxo maior que hoje os 7 bilhões de habitantes de um único planeta enfrentam, na tentativa de buscar-se uma convivência harmoniosa num planeta equilibrado, longe, portanto, da agressão mercantil que a própria humanidade impõe à Casa Comum (Gaia), está em modificar urgentemente a maneira arrogante e hostil com que o sistema econômico e as atividades humanas tratam o meio ambiente.
Por sua história, sua lógica e, principalmente, por sua essência em favor das causas sociais, sendo filha legítima da filosofia moral, as ciências econômicas não podem mais se negar ao reconhecimento de que depende da biosfera para seu funcionamento e de que, mais que isso, se trata de um subconjunto de algo maior: o meio ambiente.
Para finalizarmos, cabe aqui uma vez mais o uso das palavras de Serge Latouche, num elucidativo texto intitulado “Nature, écologie et économie. Une approche anti-utilitariste”: “ao pretender que uma humanidade, composta por átomos individuais movidos por seus únicos interesses egoístas e que se atribui todos os direitos sobre a natureza e sobre as outras espécies vivas, devia esperar a maior felicidade para o maior número de pessoas, sob o efeito de uma ´mão invisível´, a ciência econômica justificou e encorajou o mais extraordinário empreendimento de destruição do planeta.
Ao colocar em prática esse programa e se lançar em uma acumulação ilimitada, estimulada por uma competição desenfreada, a economia mercantil e capitalista, a partir daí totalmente globalizada, se esforça para eliminar toda preocupação com o oikos, toda forma ambiental ou cultural que escape à comodificação e à lógica do lucro”.
Marcus Eduardo de Oliveira é Economista, professor e especialista em Política Internacional (FESP) com mestrado pela Universidade de São Paulo (USP). Articulista do portal EcoDebate. prof.marcuseduardo@bol.com.br
in EcoDebate, 04/08/2015
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A espécie humana.
Três fatores instintivos relacionados:
1. luta pela sobrevivência
2. preservação genética do indivíduo;
3. alto grau de competitividade (para assegurar a própria sobrevivência e a preservação genética).
NOTA: Sigmund Freud considerou, em todas as espécies, os instintos de sobrevivência dos indivíduo e das espécies dotados de igual poder. Em relação à espécie, parece existir o oposto: os indivíduos veem seus semelhante como ameaças a suas próprias existências e às suas preservações genéticas.
Inconcluso. Carece de avaliação mais apurada. Se concluirmos que são verdadeiras as hipóteses acima apresentadas, teremos justificada a História de invasões, guerras, escravização e destruição de tantos povos, e poderemos afirmar, com plena convicção, que a espécie humana, desde tempos remotos, foi autodestrutiva e que, conduzida por tais instintos, não poderá subsistir por longo tempo, ou seja, ela se autodestruirá.