Cada preso é um cliente – O que se esconde por detrás da decisão da Câmara, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)
[EcoDebate] O mercado criado em torno de presos e presídios movimenta muito mais grana que a imaginação popular possa ver. Só o mercado de quentinhas servidas aos 715 mil presos no Brasil (4º maior população carcerária do mundo) movimenta cerca de dois bilhões de reais ao ano.
Quando você vai conferir quais empresas fornecem essas quentinhas, muitas delas são de políticos ou de parentes deles, como é o caso dos Perrela em Minas Gerais. Além do mais, essas empresas também são financiadoras de campanhas eleitorais (Os mercadores das cadeias, Carta Capital).
Além do mais, 30 grandes presídios brasileiros estão privatizados. Nesse sentido, cada preso é um cliente. Portanto, presídios lotados são evidências de lucros, presídios vazios são sinais de prejuízos, como em qualquer hotel.
O detalhe é que cada preso em presídio privado é pago com o dinheiro público. A Pastoral Carcerária estimou em R$ 3.000,00 o custo de cada preso privado para o Estado.
Poderíamos investir esse dinheiro em escolas, mas preferimos investir em presídios.
Eduardo Cunha conseguiu reduzir a maioridade penal. Votaram com ele o PMDB, o PSDB, o DEM e outros partidos, gente da oposição e da tal “base aliada”. Sem dúvida, a indústria dos presídios está feliz com eles. Haverá mais clientes para suas empresas.
Não haverá nenhuma redução da violência no Brasil ao se reduzir a maioridade penal. Pelo contrário, vamos fortalecer as facções que dominam os presídios em todo o Brasil. Ali o preso não tem escolha, ou participa de alguma facção, ou ele e sua família estarão marcados para morrer.
Portanto, nessa votação há interesses econômicos e eleitoreiros, mas nenhum interesse na paz e na justiça. Teremos outras votações antes da decisão final, mas com tantas manobras talvez a razão tenha poucas chances.
Menores de 18 podem cometer crimes hediondos, sim. Mas, em casas de ressocialização muitos são recuperáveis. Nos presídios, nunca. Os congressistas sabem, mas por todos os motivos acima, preferem jogar os adolescentes na jaula dos leões.
Assim o Brasil vai se tornando cada vez mais uma sociedade policialesca, repressiva, mas não de paz. Como diziam os profetas da antiguidade, ou mesmo os da modernidade – como Gandhi, Luther King, Mandela e Papa Francisco -, a “paz é fruto da justiça”, não dos presídios e da repressão policial.
Roberto Malvezzi (Gogó), Articulista do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.
Publicado no Portal EcoDebate, 07/07/2015
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Pragmaticamente, concordo que não irá resolver o problema. Porém, do ponto de vista filosófico, uma pessoa com mais de 16 anos já possui discernimento para saber e avaliar o que é estupro, homicídio, tortura, etc… Achei a proposta de tirar tráfico de drogas sensata, pois nossos presídios já estão abarrotados de pequenos traficantes réus primários.
Ao invés de se gastar tanto tempo e energia discutindo a maioridade penal, deveriam focar em questões graves, que pouca gente presta atenção, como o caso das prisões temporárias – pessoas que ficam meses à espera de julgamento, ou a (não) separação de presos por periculosidade – em que pequenos delinquentes se misturam a verdadeiros psicopatas. As pessoas ficam “gastando saliva” com a questão da maioridade, mas há várias outras mazelas a serem tratadas.
Excelente texto.
A doença e a violência dão muito lucro.
Quando é que vamos perceber isso ?