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Fruto amazônico guajiru pode fornecer substâncias contra processos inflamatórios associados ao câncer

 

O guajiru, fruto da amazônia que hoje é pouco aproveitado, pode fornecer substâncias que combatem processos inflamatórios associados ao câncer. Testes realizados em animais e em células humanas demonstraram que as antocianinas, compostos químicos extraídos do fruto, apresentam ação anti-inflamatória e antimutagênica. O fruto influencia ainda a redução das concentrações de radicais-livres, evitando a destruição de células saudáveis. A pesquisa foi realizada na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP e na Texas A&M University, nos Estados Unidos, por Vinícius Venâncio.

Guajiru tem substâncias que podem inibir processos inflamatórios ligados ao câncer

As folhas do guajiruzeiro são utilizadas na medicina popular por auxiliar na diminuição dos níveis de glicose sanguíneos, efeito este já descrito na literatura científica. “Quanto ao fruto, sabe-se apenas que ele possui antocianinas, compostos químicos de interesse na prevenção de doenças, mas não há informações sobre outros compostos e seus efeitos biológicos”, conta Venâncio. “Desse modo, a pesquisa se concentra nos mecanismos dos compostos do fruto e das antocianinas nos processos de instabilidade genética e inflamação, descritos como precursores da carcinogênese (câncer) e da fisiopatologia de doenças crônicas”.

Por se tratar de um fruto subutilizado, não há muitos relatos sobre a disponibilidade do guajiru na Amazônia. Ele é comum em regiões costeiras, portanto há relatos da presença do guajiru nos estados de Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco e Pará. “Os frutos utilizados nesta pesquisa foram coletados no estado do Pará”, aponta o pesquisador. “O fruto é comestível e utilizado in natura ou na preparação de bebidas. Além disso, também é aproveitado no preparo de doces, como compotas e geleias”.

Nos ensaios com animais (ratos), foi utilizado o fruto inteiro, composto por polpa e casca. Os efeitos foram avaliados nas células do sangue e medula óssea. “Os animais foram tratados com todos os compostos que o fruto possui”, descreve Venâncio. “Nesta etapa, destacaram-se aqui os compostos fitoquímicos (antocianinas, carotenoides e compostos fenólicos), e os elementos químicos magnésio e selênio, que podem ser os responsáveis pelos efeitos benéficos observados nos animais experimentais”.

Antocianinas
Para os ensaios envolvendo culturas de células, foram utilizadas a linhagem CCD-18Co de epitélio normal de cólon e as células HT-29 de câncer de cólon humano. As células foram tratadas com um extrato de guajiru rico em antocianinas. “Antocianinas são uma classe de compostos químicos responsável pela coloração avermelhada ou arroxeada de frutas e outros vegetais”, relata o pesquisador. “As antocianinas presentes em maiores concentrações no guajiru são glicosídeos de delfinidina, cianidina e petunidina. As antocianinas foram extraídas do fruto liofilizado utilizando solventes e colunas cromatográficas”.

Foram realizados ensaios bioquímicos para detecção de radicais livres, ensaios citogenéticos para avaliar danos na molécula do DNA, e marcadores celulares foram utilizados para avaliar a influência do guajiru no processo inflamatório. “Os resultados indicam efeitos antimutagênico, anti-inflamatório e de redução das concentrações de radicais livres”, ressalta Venancio. “Esta foi a primeira vez que os efeitos dos frutos do guajiruzeiro foram avaliados e a primeira vez que as antocianinas isoladas do guajiru apresentaram efeito anti-inflamatório em células de câncer humano”.

Os ensaios realizados até agora tiveram o objetivo de conhecer o fruto do guajiru, sua composição fitoquímica e de minerais e seus efeitos sobre a estrutura do DNA, a geração e neutralização de radicais livres e seus efeitos anti-inflamatórios. “Ainda há um longo processo até que o fruto ou as antocianinas tornem-se de fato fármacos”, observa o pesquisador. “Ensaios pré-clínicos e clínicos, assim como ensaios mecanísticos serão necessários para a alegação funcional deste produto natural, bem como sua utilização na terapêutica”.

Os ensaios em roedores foram realizados no Laboratório de Nutrigenômica da FCFRP, sob orientação da professora Lusânia Maria Greggi Antunes. Alguns experimentos foram realizados sob supervisão da professora Cleni Mara Marzocchi Machado, também da FCFRP. A caracterização fitoquímica do fruto foi realizada pelo grupo da professora Adriana Zerlotti Mercadante, na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A composição de elementos químicos (minerais) essenciais e não-essenciais foi realizada no laboratório do professor Fernando Barbosa Junior, na FCFRP.

Os ensaios com células em cultura e a quantificação e caracterização das antocianinas presentes nos extratos utilizados nesses ensaios foram realizados durante estágio de doutoramento sanduíche na Texas A&M University, nos Estados Unidos, sob orientação do professores Stephen Talcott e Susanne Talcott. O trabalho foi financiado pela FAPESP (bolsa de doutorado no Brasil) e pelo CNPq (apoio financeiro e bolsa de doutorado sanduíche).

Foto:  Maurício Mercadante

Por Júlio Bernardes, da Agência USP de Notícias.

Publicado no Portal EcoDebate, 06/07/2015


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