Em Roma, cooperativa produz alimentos e desenvolvimento social dentro da cidade
Objetivo do projeto também é resgatar laços sociais e incluir socialmente imigrantes e outros grupos frágeis.
Por Alan Tygel e Mônica Mourão
Da Página do MST
A Via Tenuta della Mistica fica a 30 minutos do centro de Roma. Da janela do ônibus, a paisagem se modifica rapidamente ao longo da Via Prenestina. O concreto denso e a falta de árvores pouco a pouco dão lugar a parques, áreas livres e uma zona industrial decadente.
Há alguns anos, a prefeitura da cidade reservou uma grande área, antes abandonada, para usos de interesse social. Além de algumas associações beneficentes, foi lá que a Cooperativa Agricoltura Capodarco instalou sua segunda sede, onde desenvolve a chamada “agricultura social”. Os 15 hectares de terra são cultivados por cerca de 50 pessoas, entre cooperados, voluntários e trabalhadores em situação socialmente frágil – imigrantes, pessoas com deficiência e ex-detentos.
A produção mensal pode chegar a 30 toneladas, que são escoadas na própria loja que fica no local, e através de redes de consumo solidário. Uma das principais culturas é a do morango, mas a produção, toda orgânica, é bastante diversificada. Hortaliças como rúcula e alface, ou legumes como abobrinha, beterraba, feijão e aspargos são cultivados em diferentes épocas do ano, e mesmo no inverno é possível trabalhar a terra dentro de estufas.
Marco Gulisano é um dos trabalhadores da cooperativa.
Ele conta que, além da produção de alimentos, a parte social da cooperativa inclui ajuda a imigrantes sem documentação: “Esta parte social, é nova para Itália, porque as sociedades com um tipo de desenvolvimento voltado mais para a urbanização, perderam muito os laços sociais, e uma coesão social da qual a agricultura era uma grande incentivadora. A agricultura é social por natureza. Ela inclui, envolve, cria coesão, solidariedade, e isso se perdeu. Mas aqui na Itália muitas pessoas sentiram a necessidade de recuperar esse aspecto.”
Junto ao trabalho na Cooperativa, Marco integra o Comitê de Amigos do MST na Itália: “O comitê nasceu em 1996, após o massacre de Eldorado dos Carajás, que sensibilizou muito a solidariedade internacional. O comitê atua em solidariedade ao Movimento na Itália de diversas formas: a principal é divulgar na Itália as grandes lutas do MST. Também acolhemos militantes do Movimento que vêm à Europa. Além disso, organizamos seminários, boletins informativos e tudo que podemos fazer para apoiar e ajudar o movimento”, explica.
Entretanto, Marco ressalta que o comitê não serve apenas como mão única da Itália para o Brasil: “Também achamos que apoiar e divulgar o MST na Itália é importante para o desenvolvimento social e político da militância e dos movimentos sociais italianos. Vemos a organização do Movimento, a estrutura, as batalhas, as propostas e a mística como um estímulo muito importante para os movimentos italianos também. É fundamental trocar experiências, ideias, metodologias de luta e trabalho, e produção. Essa é a estrada para construir na prática um modelo de desenvolvimento mais justo e cuidadoso do meio ambiente e da classe trabalhadora também”, conta Marco.
Num momento em que a Europa se afunda cada vez mais na crise, e a juventude vaga sem perspectivas de futuro, o retorno à agricultura tem sido cada mais uma opção de vida. E na Via Tenuta della Mistica, na periferia da cidade de Roma, onde o passado está presente em cada esquina, a história segue dando suas voltas, e buscando reconstruir o futuro. Desta vez, é através da velha agricultura que se trilham os caminhos para uma cidade mais saudável, justa e solidária.
Publicado no Portal EcoDebate, 30/06/2015
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Seria ótimo se neste Brasil pensássemos em cultivar as vastas terras desta Nação. Só no Bolsa Família existem 14 milhões de famílias, algo com 50 milhões de habitantes, um quarto da população do Brasil, que poderiam dedicar-se à faina agrícola e fazerem as terras produzirem.