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Armazenamento, transporte e distribuição, artigo de Roberto Naime

 

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[EcoDebate] Eventualmente se ouvem contestações à presença de reservas legais, que ao diminuir as possibilidades de uso intensivo ou pleno dos patrimônios, que são privados, sem o devido ressarcimento pelo pagamento de serviços ambientais realmente prestados, se torna realidade onerosa. Esta é uma reclamação de extrema justeza. Mas cabem algumas observações interessantes, como por exemplo, as consequências da ausência de adequada estrutura de armazenamento de grãos. Este fato gera elevadas perdas na produção agrícola e encarecimento na produção tanto de grãos, quanto de animais em cadeias produtivas vinculadas.

Sem falar nos entraves gerados pela ausência de adequadas estruturas de escoamento, citando-se estradas e portos, no mínimo. Estimativas registram possibilidades de perdas de 10 ou 20% ou até de quantias maiores dos grãos produzidos, pela ausência de estruturas adequadas de armazenamento. Não existem dados fidedignos e as estimativas são muito variáveis de acordo com a fonte considerada ou pesquisada. Em qualquer processo industrial ocorrem perdas de matérias-primas. Que são pequenas nos fármacos ou nos têxteis devido aos elevados custos das matérias-primas. E não apenas por isso, mas devido a outros fatores, incluindo investimentos na incrementação de processos de utilização e processamento industrial das matérias-primas referidas ou citadas.

Empresas de grande porte na indústria da construção civil também já reduziram de maneira drástica suas perdas, com organização de canteiros de obras, “layouts” diferenciados e programas de capacitação de recursos humanos. Mas este, não é um cenário hegemônico, e as perdas médias no setor ainda são muito elevadas, girando em escalas próximas ou maiores que na agricultura. Não é necessária a continuidade da exposição para compreender o sentido da exposição que se deseja trilhar.

Se houvessem melhores condições e melhor estrutura de armazenamento de grãos, que são produzidos nas safras agrícolas, então certamente se garantiria rentabilidade, ou até remunerando certos serviços ambientais ou ecossistêmicos, pois se poderia preservar mais matas ciliares e matas nativas, e outras relações ambientais de relevância, sem que ocorresse qualquer redução na rentabilidade da propriedade considerada.

As entidades representativas da produção rural, sempre estão corretamente defendendo seus associados e propugnando por melhorias na infraestrutura agrícola, que pode muito ampliar a rentabilidade das propriedades, desde a agricultura familiar, ao denominado “agribusiness”. E esta é uma realidade democrática, que beneficiaria a todos. Em todos os discursos políticos se registra o reconhecimento de que a agricultura e a pecuária do país atingiram elevados níveis de excelência da porteira para o interior das propriedades e que esta realidade pouco é acompanhada da porteira para fora das propriedades, quando em geral ocorrem deficiências que são debitadas à inoperância, ausência de recursos ou incapacidade de gestão nos níveis governamentais.

Não é objetivo neste momento, discutir se tais serviços devem ser públicos, ou privados, com sua devida remuneração aos investidores então responsáveis por sua existência. Mas o que se quer defender é que existam estas ferramentas para que ao gerarem melhor remuneração ao setor agrícola e rural em geral, estejam também viabilizando de forma indireta, melhores condições para as atitudes ou atividades vinculadas aos necessários fatores que envolvem ações de preservação ambiental e manutenção ecossistêmica.

Por isso se registra que a necessária melhoria de infraestrutura geral no país é uma condição “sine qua non” para que, mais do que se atingir melhores condições de competitividade, caso mais específico da indústria, se viabilize outro patamar de segurança, rendimento e competitividade ao setor agrícola. E viabilizar melhores condições de manutenção de atitudes positivas que são fundamentais na manutenção de biomas e nas atividades que envolvem gestão ambiental e preservação do meio ambiente, na busca de sustentabilidade.

Neste sentido, pode ser afirmado que a atuação firma de entidades representativas do setor agropecuário, ainda poderia ser mais incisiva e agregar argumentos novos. Além da obtenção de melhores condições de rentabilidade, clima de segurança e necessidade de realização da vocação produtiva para alimentar o mundo em condições de manutenção e ampliação da capacidade de competitividade. Todos estes fatores são fundamentais para que se atinja o objetivo de auxiliar e manter atitude positiva com gestos e ações que contribuem para a manutenção de equilíbrio nos ecossistemas e alcance de melhores condições de homeostase com os meios naturais.

A princípio, todo produtor rural, independente de seu porte, sempre é um agente ambiental, na medida em que cuida e tem interesse que sua propriedade esteja e se mantenha nas melhores condições para apropriação de todos os ganhos e vantagens que a condição de equilíbrio ambiental e incremento da proteção ambiental possa determinar para desfrute seu e de sua propriedade. Não há porque imaginar que algum tipo de produtor rural obtenha vantagens duradouras e sustentáveis num ambiente de marcantes desequilíbrios.

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Celebração da vida [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

 

Publicado no Portal EcoDebate, 19/05/2015

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