Solidariedade aos famintos e sedentos do Itaim Bibi e Morumbi, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)
[EcoDebate] Toda a solidariedade aos famintos e sedentos do Itaim Bibi, Morumbi, outros bairros nobres e outras doze capitais brasileiras que fizeram um panelaço. De fato, não demarcar as terras indígenas, construir grandes obras para agradar as empreiteiras, cortar direitos dos trabalhadores, não fazer a reforma agrária, são exemplos típicos que merecem o povo nas ruas.
Mas, a fome e a sede excedem qualquer motivação das anteriormente citadas. Aqui pelo sertão do Semiárido Brasileiro lá pelas décadas de 1980 ainda tínhamos muita fome e muita sede. Vimos gente migrando, trabalhando em Frentes de Emergência, buscando uma lata d’água quilômetros distante de suas casas, saqueando cidades, morrendo literalmente de inanição, isto é, fome e sede. As principais vítimas eram as crianças e nossos índices de mortalidade infantil estavam em níveis da África Subsaariana. Agora não. Estamos nos níveis toleráveis dos padrões da ONU.
Impossível que alguém que ainda se julga humano não reaja indignado a tanta miséria e sofrimento. Hoje essas cenas macabras da miséria já não existem mais aqui em nossa região. Trabalho simples de captação de água de chuva, tanto para beber como para produzir, ajudaram a superar ao menos a fome e a sede. Problemas graves ainda existem, não mais essas desumanidades.
Portanto, se hoje a fome e a sede se deslocaram dos nossos sertões para o Itaim Bibi e outros bairros nobres de São Paulo – panelaço é uma forma de protesto de famintos e sedentos – e outras capitais, então, merecem todo respeito. E merecem nossa solidariedade. Afinal, fome e sede tem que ser página superada da história e não voltarmos atrás, agora se replicando onde menos imaginávamos.
Portanto, estamos com todos aqueles que protestaram. Fome e sede nunca mais.
Roberto Malvezzi (Gogó), Articulista do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.
Publicado no Portal EcoDebate, 10/03/2015
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O Roberto Malvezzi trata de assuntos muito atuais. De fato, com o bolsa família, a aposentadoria rural e, obviamente, a captação de água de chuva, diminuiu muito a miséria no semiárido brasileiro.
Entretanto, daí a dizer que a fome e a sede se deslocaram para os bairros nobres de São Paulo vai uma diferença muito grande. O IBGE aponta índices alarmantes no semiárido, não somente em disponibilidade hídrica e ausência de esgotamento sanitário, mas, principalmente, em morbidade e em baixa renda per capita.
Vamos nos preocupar com problemas que ocorrem no centro-sul do país sem deixarmos de considerar as necessidades ainda prementes no semiárido brasileiro.
Sem essa de se fazer de bonzinho, Malvezzi!
O discurso do Malvezzi tem um único objetivo: afastar a Presidente da República do cargo, seja através de impeachment ou de golpe militar.
Muita fome e sede ainda exitem no semiárido brasileiro!
Não serão as captações das águas da chuva ou os carros-pipa que resolverão os eternos problemas das região semiárida!
Valdeci,
tem quem escreve e quem lê. O que eu escrevi, não foi o que você leu.
Quanto ao Semiárido, tenho 35 anos aqui nessa região. Vi a fome, a sede e a miséria. Também vi a superação de grande parte dela. Os problemas ainda são graves e nada foi mais eficiente para a população difusa do Semiárido que a captação de água de chuva através de cisternas. 700 mil famílias, aproximadamente 3,5 milhões de pessoas do meio rural, hoje tem vida mais digna. Quem duvida, é só vir e conversar com as famílias beneficiadas.
Resposta ao comentário de Roberto Malvezzi.
Pois é Malvezzi, essa realidade cruenta vivida no passado do semiárido do nordeste brasileiro, e os avanços havidos para sua superação, que você tão bem conhece, eu não conheço como você, porque eu era criança, e nada entendia, mas aquela realidade fez parte do início da minha existência, e tenho na lembrança um momento em que minha mãe tentou tirar-me da cama onde dormia, e, desnutrido, aos três ou quatro anos de idade, eu não me segurava mais em pé, e sobrevivi porque minha mãe conseguiu um ovo de galinha na casa da minha avó, que ficava a cerca de vinte metros, ao lado da nossa. Mas o comentário que fiz ao seu texto, anteriormente, não tem a ver com o semiárido nordestino, mas, sim, com o grande destaque e louvores que você deu ao panelaço ocorrido na cidade de São Paulo, no momento do pronunciamento da Presidente da República. Sei que não sou um ótimo leitor, que não entendo perfeitamente todos os textos que leio, mas no caso do seu texto, não tenho a mínima dúvida. Por outro lado, considero que você não se saiu muito bem, tentando relacionar o panelaço com as dificuldades do semiárido nordestino, e, assim, tirar algum proveito político golpista.
Complemento ao comentário supra.
Nasci no agreste pernambucano, precisamente, em modesta casa na margem esquerda do rio Capibaribe, no sítio São João, município de Toritama, ao raiar do dia 27 de maio do ano de 1949. Dos nove filhos paridos por Joana Brás, sou o sétimo e último sobrevivente.