Pesquisa indica que ingestão de ômega-3 reduz colesterol total
Consumo de substância presente na gordura de peixes, como salmão e sardinha, também diminuiu o colesterol
Pesquisa desenvolvida no Núcleo de Apoio à Pesquisa em Fluidos Complexos (NAP- FCx) da USP mostra que pacientes que receberam doses diárias de ômega-3, substância presente na gordura de determinados peixes, tiveram redução do colesterol total e alteração no tamanho das partículas que transportam o colesterol. Houve aumento da concentração de partículas grandes e intermediárias de HDL (lipoproteína de alta densidade) e diminuição da concentração de LDL (lipoproteína de baixa densidade) eletronegativa.
A HDL e a LDL, também conhecidas popularmente como “colesterol bom” e “colesterol ruim”, são lipoproteínas relacionadas ao transporte do colesterol no corpo. O alto nível de LDL no organismo pode desencadear a aterosclerose, doença inflamatória que leva ao estreitamento das artérias e pode culminar com um infarto, um acidente vascular cerebral (AVC).
“A LDL transporta o colesterol em direção aos tecidos do corpo, isso favorece o acúmulo de gordura nos tecidos periféricos, como as artérias, e, consequentemente, favorece o desenvolvimento da aterosclerose. A HDL faz o transporte inverso. Ela vai nas nossas artérias e retira o excesso de colesterol, leva para o fígado, e depois ocorre a eliminação do excesso de gordura do nosso corpo”, explica a professora Nágila Raquel Teixeira Damasceno, do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP e coordenadora do estudo.
De acordo com a pesquisadora, as duas lipoproteínas (LDL e HDL) são formadas por um conjunto de partículas de tamanhos desiguais — pequenas, intermediárias e grandes — cujo papel no desenvolvimento da aterosclerose será diferente.
“As partículas de LDL e HDL são naturalmente encontradas na circulação sanguínea, mas no caso da estrutura menor da LDL, ela migra com mais facilidade para o espaço mais profundo (subendotelial) da artéria, onde pode ser modificada em sua composição, passando a ser reconhecida como “estranha”. Essa LDL modificada estimula a resposta inflamatória, favorecendo a aterosclerose.”, afirma Nágila.
Já a partícula grande de HDL remove mais eficientemente o colesterol dos tecidos periféricos e por isso é considerada mais benéfica para o organismo do que as estruturas menores. “Quando a partícula de HDL retira o colesterol do tecido, ela fica com um diâmetro maior, contribuindo na prevenção do acúmulo de colesterol — uma etapa essencial no desenvolvimentos da aterosclerose”, ressalta a pesquisadora.
O estudo constatou que a presença do ômega-3 não gerou mudanças significativas no tamanho da LDL, mas alterou a qualidade da subfração de LDL eletronegativa, que apresenta mais características oxidativas e inflamatórias. Em relação à HDL, o ômega-3 ampliou a quantidade de partículas maiores, enquanto que as menores diminuíram.
A alteração no tamanho da HDL esteve associada à redução na concentração de triacilgliceróis, fração lipídica que trabalha em sintonia com a LDL e a HDL. “Um dos mais bem estudados benefícios do consumo de ômega-3 se relaciona a sua capacidade de reduzir os triacilgliceróis. Nosso estudo mostrou que a redução dos triacilgliceróis alterou positivamente o tamanho da HDL”, descreve Nágila.
Alimentação
Para a pesquisadora, os resultados da pesquisa reforçam as recomendações de órgãos nacionais e internacionais sobre a importância do aumento do consumo de peixe. “Não são todos os peixes que são ricos em ômega-3, os mais ricos são salmão, atum e sardinha fresca ou em lata. Para aquelas pessoas que não têm o hábito ou acesso à compra de peixe, o uso de suplementos alimentares se apresenta como uma opção”.
O consumo diário deve ser superior a 1,8 grama de ômega-3 ao dia, o que equivale ao consumo de 300 gramas de peixe por semana, algo em torno de três filés pequenos.
A pesquisa Efeito do ômega-3 sobre biomarcadores cardiometabólicos clássicos e emergentes em indivíduos com diferentes níveis de risco cardiovascular, de autoria da nutricionista Marlene Nuñez Aldin, foi realizada com adultos e idosos atendidos no Centro de Pesquisa Clínica do Hospital Universitário da USP. Dada a natureza multidisciplinar desse estudo, pesquisadores do Instituto de Física (IF), Instituto de Matemática e Estatística (IME) e do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP também estiveram envolvidos no trabalho.
Apoio
O Núcleo de Apoio à Pesquisa em Fluidos Complexos (NAP-FCx) da USP investiga propriedades físico-químicas, modelagem e aplicações em biologia e medicina de fluidos complexos. O fluido é um termo genérico para designar o que não é sólido: líquidos e gases. Os chamados complexos possuem propriedades físicas e químicas peculiares, como o cristal líquido utilizado em telas de smartphones e tablets.
O NAP reúne profissionais das áreas de física, química, biologia, farmácia, medicina, nutrição, engenharia biomédica, matemática e estatística.
As pesquisas são multidisciplinares e têm como enfoque os sistemas multicomponentes em que existe autoagregação molecular, como os cristais líquidos, colóides magnéticos, micelas, surfactantes, complexos surfactantes-proteínas e lipoproteínas de alta e baixa densidade (HDL e LDL), entre outros.
Além do NAP-FCx, o estudo teve o apoio financeiro da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia dos Fluídos Complexos (INCT-FCx), sediado no Instituto de Física (IF) da USP, e coordenado pelo professor Antônio Martins Figueiredo Neto, do IF.
Os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia fazem parte de um programa coordenado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia que mobiliza e agrega, de forma articulada, os melhores grupos de pesquisa em áreas de fronteira da ciência e em áreas estratégicas para o desenvolvimento sustentável do País.
Por Hérika Dias, da Agência USP de Notícias.
Publicado no Portal EcoDebate, 10/03/2015
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