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Artigo

Leis da oferta e procura, artigo de Roberto Naime

 

artigo

 

[EcoDebate] Brincando de forma quase jocosa, todos tem convicção e por isto se gera a situação cômica, de que não é possível revogar as leis naturais da oferta e da procura, da gravidade ou outras. Então isto justifica e determina o aprofundamento das notícias e a validação da reflexão que se propõe. Pode parecer excêntrica e complicada, mas não é. É apenas uma reflexão que faz sentido e se valida holisticamente dentro de uma interpretação maior de todos os fatos.

Frequentemente nos deparamos com uma notícia trivial e corriqueira sobre desmatamentos irregulares, nas mais variadas regiões do país, principalmente no polígono da Amazônia Legal. Se tratando de nota vulgar, a qual estamos bastante habituados a ouvir sem mesmo prestar atenção, que sempre se complementa colocando a culpa ou responsabilidade ou sobre autoridades ambientais ou sobre instituições policiais de repressão, então está tudo bem.

Mas o verdadeiro questionamento é de outra natureza. Sempre que existe desmatamento ou atividades ilegais de caça, pesca ou afins, está existindo o atendimento de uma demanda de mercado. Existe alguém ou alguma instituição ou empresa que está se disponibilizando a remunerar o bem resultante desta atitude ou gesto e isto desencadeia uma sequência de relações, que em geral, não se está disposto a pensar e determinar as verdadeiras responsabilidades.

Seja por madeira, por peles resultantes de caça predatória, por aves capturadas para venda em cativeiro ou para carne de pescado advinda de pesca predatória, sempre tem que existir uma demanda de mercado antes para que se estimule o gesto ou atitude de confrontar norma ou lei estabelecida ou de realizar qualquer atividade empreendedora para a obtenção de ganhos com a satisfação da demanda estabelecida pelo mercado comprador.

Ficar falando ou propondo que os indivíduos isoladamente tenham mais conscientização ou atentem que ao determinar condições favoráveis de mercado possam contribuir para a depredação da natureza pode ser um discurso relativamente inócuo. Infelizmente se sabe que tudo aquilo que atinge a recursos financeiros do indivíduo ou grupo, ou somente a estímulos deste tipo, infelizmente, somente este tipo de sanção é estimuladora.

Os economistas e profissionais da área falam em círculo virtuoso para descrever economias em expansão, aumento de produção, elevação de nível de emprego, ampliação e aumento de arrecadação e capacidade de intervenção do estado para satisfação das necessidades do amplo conjunto de cidadania. Ninguém critica isto, mas é necessária uma análise sistêmica também e principalmente da questão ambiental. O sistema reconhece este circuito de virtuosidade e sabe da necessidade do mesmo para o equilíbrio de todo conjunto.

Então a autopoiese que o sistema determina, impõe subordinação a este estágio ou a estes padrões de comportamento para justificar todos os gestos e atitudes que resultem na autoalimentação ou retroalimentação sistêmica. Ou seja o “sistema” não considera as prioridades ambientais no seu funcionamento. É possível acreditar que a gravitação em torno da sustentabilidade mais cedo ou mais tarde acabe determinando uma nova autopoiese sistêmica, no sentido que falava Niklas Luhmann e que determine alterações de valores e atitudes, incluindo uma nova postura quanto a priorização da questão da preservação ambiental também, além de outros valores.

Só assim não se assistirá mais notícias de agressões ambientais culpando órgãos fiscalizadores ou repressores, que tem sua efetividade muito limitada por questões de mercados que são muito mais estimuladoras ao menos sob o prisma do retorno financeiro. Imagine um motorista de caminhão com uma família com prole numerosa. Se você disser para ele não dirigir um caminhão que carregue toras advindas de desmatamento por questões de consciência dentre outras, ele obviamente concordará. Desde que lhe seja concedido um outro emprego ou uma outra forma de sustento para sua família. Ninguém é mocinho ou bandido apenas por questão de consciência ou de maldade.

Obviamente não se está propondo que as notícias ganhem esta formatação pesada e sintetizem tudo isto que está acontecendo, de nada adiantaria isto. Nem tampouco que não se exija dos responsáveis melhores condições humanas e materiais para órgãos ambientais fiscalizadores ou entidades que realizam as tarefas de repressão. Isto sempre será necessário e obrigatório. Mas é um pouco ilusório imaginar que esta realidade altere os fundamentos decorrentes de relações sociais sistêmicas que acabam sendo estimuladas por outras realidades, maiores, às quais as questões ambientais estão subordinadas.

Somente alterações paradigmáticas das relações sociais e dos valores humanos que inspiram estas relações é que poderá determinar alterações fundamentais que resultem em alterações relevantes nestes tristes noticiários que todos estão habituados a serem submetidos no cotidiano de vida.

Quando se considerar o uso de substâncias substitutivas da madeira como tão nobre e tão representativo de “status” e não se considerar mais, por exemplo, o uso da madeira natural como insubstituível, quem sabe não estariam criadas as condições necessárias para substanciais alterações de paradigmas que resultariam em novos e relevantes cenários, não apenas ara a preservação da natureza como para a determinação de novos e mais relevantes valores de vida?

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Publicado no Portal EcoDebate, 10/03/2015

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2 thoughts on “Leis da oferta e procura, artigo de Roberto Naime

  • Concordo em gênero, número e grau. Por isso vou fazer algo que talvez seja mal visto (se a moderação decidir por não deixar este comentário passar, vou entender completamente).

    Quando eu estava na Arco de Fogo em Rondônia, houve UMA (01) uma só, só uminha mesmo, madeireira que não tinha NADA de irregular. Nada mesmo. A documentação de cada caminhão estava certinha. A entrada e saída de madeira estava correta, e se referia às espécies certas. O plano de manejo estava certinho. Um número adequado de árvores sementeiras havia sido deixado na área de manejo, as árvores da área de manejo correspondiam ao declarado à secretaria do meio ambiente, o corte das árvores era programado para não derrubar mudas em volta, as áreas de recuperação eram mantidas cercadas e intocadas, exceto pelo manejo de trepadeiras. Estavam fazendo TUDO certo. Quando eu cheguei na Arco de Fogo em Rondônia, quase 75% das madeireiras do estado já tinham sido examinadas, e aquela era a única que não tinha nada de errado.

    Note que entre as que tinham coisas de errado, tinham os madeireiros @@%¨&@ que eram mais criminosos que madeireiros, tiravam madeira de áreas protegidas, grilavam terras, destruíam a mata em corte raso, queimavam madeira de qualidade média para trocar a documentação com madeira de qualidade boa, e etc e tal, e tinham os madeireiros que davam uma ou outra escorregadela, mas até que não eram tão maus assim. Não era um mar de lama com um único pontinho branco, tinha uns pontos mais secos.

    Mas um único pontinho branco e limpo. Mesmo.

    Tanto quanto conversei com colegas que foram para a Arco de Fogo depois, foi a única madeireira encontrada em Rondônia que fazia tudo certo. Não sei se tem alguma outra em outro estado do Brasil, pois não segui tanto os resultados da Arco de Fogo em outros lugares.

    Uma das poucas formas de se parar com o mercado negro é comprar apenas e tão somente de quem fornecer os produtos de forma legal.

    E essa única madeireira que fazia tudo certo, embora mande a maior parte da sua madeira para o exterior, vende também aqui no Brasil.

    O site de vendas dela é este:
    http://www.paupau.com.br/site/

    Produtos de demolição (antigos pisos de peroba ou tacos reutilizados) também são ótimos, DESDE QUE SEJAM MESMO DE DEMOLIÇÃO. Desconfie de peças perfeitinhas, não compre o piso se não houver marcas nele. Tem ¨$%# derrubando peroba até hoje para vender como “demolição”.

    Produtos alternativos à madeira também são uma boa. Alguns têm seus próprios problemas, porém. Por ser alérgica a cupinicidas, usei portas de metal e vidro em casa. Provavelmente o impacto dessas portas é pior para o meio ambiente que o de portas de madeira, pois o alumínio é produzido em fornos, e o carvão desses fornos é uma história complicada. Tentei usar produtos de uma empresa que, tanto quanto eu saiba, é idônea, mas sei que em Minas há um problema grave de siderúrgicas usando carvão feito com árvores de mata nativa.

    Falando em carvão: quem puder, reduza o seu consumo de carvão. Pior que o assoalho da casa que é trocado a cada trinta anos se tanto é o maledito carvão. Churrasco, pizza, marshmellow, muita coisa fica melhor no forno à lenha ou com carvão, mas MUITO carvão e lenha vem de matas nativas e não de plantações de eucaliptos e pinus.

    Lenha de pinus (aqueles nós) é mais fácil de reconhecer, mesmo para um leigo, prefira essa, que é um sinal que você não está destruindo Mata Atlântica nem Caatinga (fazer carvão é a maior causa de desmatamento na Caatinga, e segunda maior na Mata Atlântica).

    O selo do IBAMA é razoavelmente confiável (tem gente que falsifica o selo). Mas se o saco não tiver selo ou for vendido à beira da estrada PASSE LONGE.

  • Acontece de tudo, mas sempre é adequado pensar em meio ambiente, sustentabilidade e gestão de responsabilidade socioambiental, sem revogar a lei universal da oferta e da procura…

    Abs

    RNaime

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