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Artigo

Delatores não são heróis, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

 

opinião

 

[EcoDebate] Delatores não são heróis e nem profetas. Delator é parte do grupo e do esquema que ele mesmo denuncia.

Assim também são os 15 delatores do caso PETROBRAS. Eles eram corruptos ou corruptores do esquema. Alguns, inclusive, vem desde o governo FHC, passando pelo governo Lula e entrando no governo Dilma. Então, para salvar o próprio pescoço, entregam seus antigos comparsas para as malhas da polícia ou da justiça.

Agora se diz que vão pagar cinco milhões, vão cumprir prisão em suas casas. Quem pode pagar essa quantia não vive de salário. Portanto, palavra de delator só tem alguma confiabilidade se materialmente comprovada.

Parece que o mundo da especulação financeira e da corrupção é um útero de delatores. Quem já viu o filme “O Lobo de Wall Street” sabe que, quando o esquema de lavagem de dinheiro foi descoberto, “velhos amigos” não tiveram nenhuma piedade de entregar seus comparsas para salvar a própria pele.

Portanto, delator não é um herói. O herói é capaz de denunciar também seu próprio grupo, mas para o bem maior do povo o qual defende, não para salvar a própria pele.

Também não é um profeta, que denuncia também seu próprio grupo – ou autoridades, ou o próprio povo, como no caso dos profetas bíblicos -, mas para salvar a causa maior da justiça. Os profetas pagavam na própria pele o preço de suas denúncias, tantas vezes presos, tantas vezes assassinados por aqueles que eles denunciavam.

Todo ser humano pode mudar para melhor, também os delatores. Mas, não parece ser o caso na Lava Jato.

O povo brasileiro há muito está cansado da corrupção. É preciso relembrar sempre que a KPMG calcula uma sangria de 160 bilhões de reais por ano no Brasil em função da corrupção. Mas aí entra a sonegação, superfaturamento de obras, o “dízimo” dos contratos, daí prá fora. Portanto, o caso PETROBRAS é parte ínfima do grande ralo.

Alguns especialistas nos dizem que, sem mudar a Lei de Licitações e a de Falências, jamais vamos diminuir as brechas legais da corrupção.

Países da Europa, como Alemanha e França, arraigadamente capitalistas, controlam o uso do dinheiro público de forma rigorosa através das instituições, não de delatores.

Convenhamos, “delação premiada” é uma honra ao mérito do crime organizado. Triste do país que tem instituições frágeis e precisa de delatores para expurgar as imundícies de suas entranhas.

Roberto Malvezzi (Gogó), Articulista do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.

Publicado no Portal EcoDebate, 05/03/2015

[cite]


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Alexa

5 thoughts on “Delatores não são heróis, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

  • Me permita discordar. Delatores são sim, heróis. Alguns são mais heróicos que outros, verdade. Quando alguém delata um crime que não estava sendo investigado ainda e inicia uma investigação com a sua denúncia, isso é muito mais heróico do que admitir e confessar um crime quando ele já está sendo investigado, como é o caso da maioria dos “delatores” na Lava-a-jato, que basicamente, estão apenas confessando o que já tinha sido encontrado.

    Mas delatar um crime significa sair da zona de conforto em que se estava. Significa abandonar o grupo em que se vivia antes (e por mais que o cinicismo prevaleça, o ser humano ainda é um bicho social, para quem deixar a sua “tribo” é doloroso), enfrentar o preconceito contra delatores (também chamados de dedo-duros ou ratos… mesmo por quem deveria saber melhor e agradecer que existem), e ficar marcado para sempre.

    Você pode ter raiva dessas pessoas por serem ricas. Todo mundo tem preconceito contra alguma coisa. Mas sim, a delação é um ato nobre. É o início de uma mudança de paradigma, é necessária para conseguirmos tentar mudar alguma coisa nesse país.

    Seria muito mais nobre se tivesse vindo antes das investigações iniciarem e acuarem os acusados? Claro. Só há uma verdadeira delatora no caso Petrobrás, a Venina Velosa da Fonseca, pois ela, ao contrário dos outros, delatou crimes, e não simplesmente confessou. Mas mesmo confessar é melhor do que nada, e ajuda nas investigações.

    As empreiteiras estão chorando que o país vai quebrar se elas forem responsabilizadas. Tem pau-mandado de político chorando em artigo da Folha que se os políticos todos acusados forem presos e impedidos de concorrer a eleições, o vácuo político vai criar Berlusconnis. Isso é o tanto que essa investigação está incomodando. E mostra que ela está no caminho certo.

  • Estamos diante de um problema complexo.
    Concordo com a Mariana que os delatores podem ajudar na investigação, mas daí a fazê-los de heróis há uma distância muito grande.
    Temos o exemplo da Inconfidência Mineira. Os portugueses perceberam que muitos inconfidentes colaborariam com a investigação porque poderiam ser réus da pena máxima. Uma análise dos autos da devassa nos mostra que não foram poucos os que prestaram colaboração pensando que viriam a ser absolvidos.
    Os delatores do caso Petrobras sabem que não podem passar de réus a heróis, mas a lei lhes garante redução de pena se colaborarem com as investigações. É por isso que estão colaborando com as investigações.
    Quanto à questão das empreiteiras, penso que o assunto deva ser tratado com carinho. Será correto responsabilizar uma pessoa jurídica, especialmente uma empresa de sociedade anônima, pelo crime de seus eventuais dirigentes?

  • Gente,

    em primeiro, discordar é democrático, portanto, sem problemas.
    Mas, os delatores estão preocupados em primeiro consigo mesmo. Eles não estão entrando em desconforto ao delatar, ao contrário, sairão de penas pesadas para o conforto do lar.
    O caso Venina é mais complicado. Ela fez uma denúncia, não uma delação, afinal, não era parte do grupo. Depois, saíram notícias na mídia que ela teria facilitado contratos sem licitação para seu ex-marido. A gente sempre põe essas notícias em dúvida, ainda mais quando as contra informações correm soltas nas mídias. Mas, se ela for inocente dessa denúncia, o caso dela será diferente dos demais.

  • Johannes Gierse

    Parabens Gogó! por mais uma belíssima reflexão colocando o dedo na ferida dizendo as verdades mais simples…
    haja profetas nesta crise brasileira generalizada…
    JG

  • Eduardo Dicarte

    Concordo que os delatores só querem se safar, é parecido com aqueles cenários onde o elemento é preso e para aliviar sua pena acaba fazendo um acordo com a justiça.

    Se não tivesse sido preso não contribuiria com a justiça e no caso dos delatores, se existissem alternativas de saírem em pune com certeza iriam por esse caminho.

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