O Oscar brasileiro, artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] O Carnaval do Rio consegue ainda inovar, com tecnologias capazes de gerar mais beleza e também surpreender ao público, como os paraquedistas iluminados da Portela que desceram na Sapucaí. Dentre todos os espetáculos realizados no país, a Sapucaí é nossa megaprodução, um espetáculo de qualidade internacional, que merece mesmo ser visto por turistas e transmitido para vários países do mundo. É a nossa festa do “Oscar”, o espetáculo que os americanos são capazes de fazer com o cinema, nós fazemos com as escolas de samba.
A Beija-Flor venceu e seu tema gerou polêmica internacional, pois homenagear a Guiné Equatorial que vive uma ditadura é controverso. A vitória se deve às notas por desempenho em quesitos técnicos, dos quais o enredo é apenas um entre muitos outros. Assim como filmes que vencem o Oscar por causa de um júri “técnico”, que nem sempre corresponde ao sentimento dos espectadores. Não li pesquisas de opinião sobre as preferidas do público mas uma vitória ninguém tira da Portela, a capacidade de inovar, totalmente coerente com o tema “surreal” do seu enredo – que também pode ser considerada uma metáfora perfeita para o atual momento do Brasil.
Gisele Bündchem, que acompanhou Leonardo Di Caprio ao Oscar naquele ano (2004), disse que ele foi injustiçado ao não ganhar o prêmio de melhor ator pelo seu desempenho em “O Aviador”, dirigido por Martins Scorcese. Um filme imperdível, aliás, veja se você ainda não viu, até porque é uma história verídica sobre o excêntrico milionário Howard Hughes, um pioneiro que impulsionou a aviação.
Eu sou psiquiatra e quero lhe dizer que nunca vi um personagem de filme entrando em desequilíbrio emocional e mental de modo tão verídico quanto o do protagonista desse filme. É muito comum em novelas e filmes interpretações esteriotipadas de doenças mentais, mas o processo de gradativo enlouquecimento do excêntrico Hughes é de uma verossimilhança impressionante, não sei mas imagino que Di Caprio tenha tido contato com (e estudado sobre) pessoas com problemas mentais, para conseguir construir de modo tão realista o seu personagem.
O Oscar que Leonardo não ganhou por “O Aviador” não diminuiu em nada o valor artístico de sua obra, que qualquer um pode conferir. Até nos campeonatos mundias de futebol se diz isso, por exemplo que a Holanda merecia ter ganho em 1974 e o Brasil em 1982. Os talentos de verdade são lembrados muito tempo depois e a falta de títulos não impede o seu sucesso, como o caso clássico de Martha Rocha que foi vice-Miss Universo em 1954 mas todos a consideraram a verdadeira campeã. Polêmicas sobre o Carnaval do Rio decorrem do seu sucesso, como um Oscar, Copa do Mundo ou Miss Universo. Aliás, ninguém lembra o nome da vencedora de 54, mas da torta Martha Rocha você ainda desfruta.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade.
Publicado no Portal EcoDebate, 23/02/2015
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Oscar brasileiro?
Nem que fosse. Seria ridículo copiar aquela festa ridícula do Oscar que só serve para vender a ideologia de Hollywood e gerar fortunas na elite americana.
O carnaval carioca é uma festa artificial que funciona como “ópio do povo” para alimentar bicheiros e corruptos, como disse o Neguinho da Beija-Flor: “Se hoje temos o maior espetáculo, agradeça à contravenção”
Sds, Leo
Ninguém pode negar a empatia do povo com os personagens e histórias dos filmes, nem com as do carnaval carioca. Só os intelectuais resistem a isso, como já dizia o Joãozinho Trinta.