Pensando em sustentabilidade I, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] De uma forma simples, sustentabilidade é uma expressão utilizada para definir ações e atividades, envolvendo a utilização de recursos naturais renováveis ou não, que tenham por objetivo suprir as necessidades atuais da civilização humana, sem comprometer as necessidades das futuras gerações. Conceito basicamente desenvolvido pela senhora ex-primeira ministra da Noruega quando a Organização das Nações Unidas patrocinou seu primeiro encontro internacional sobre meio ambiente, em 1987 na cidade de Estocolmo. Este conceito, registrado no documento “Nosso Futuro Comum” que foi a resultante do encontro, sofreu abordagens de toda natureza posteriormente, mas sem nunca perder sua essência.
Ignacy Sachs propõe em seguida os parâmetros do ecodesenvolvimento, resumidos nas linhas da conservação ambiental, eficiência econômica e equidade social. Deste momento em diante a academia traz uma roupagem mais científica ao conceito. A concepção de desenvolvimento sustentável deixa de ter apenas uma concepção extremamente pertinente e relevante de natureza filosófica e começa a ganhar os contornos acadêmicos e até práticos que vão nortear as aplicações do conceito de sustentabilidade em todos os agentes econômicos atendendo às demandas sociais geradas pelas suscetibilidades crescentes do corpo social.
A noção de que a sustentabilidade está diretamente relacionada a desenvolvimento econômico, geração de emprego e renda e aumento de arrecadação estatal, no entanto sem agredir ao meio ambiente, e ao contrário, gerando a máxima preservação ambiental possível se dissemina na sociedade. Não porque se quer um museu da natureza, mas porque se compreende que a civilização humana depende do equilíbrio da natureza para sua própria sobrevivência em situação de equilíbrio pleno e adequado. Os recursos naturais devem ser sempre utilizados de forma inteligente e conservativa para que sempre se mantenham e possam atender as necessidades das gerações futuras.
As ações relacionadas à sustentabilidade são inúmeras, as mais comumente lembradas se relacionam à água, energia ou resíduos sólidos. Que são sempre as questões mais visíveis ao lembrar do tema da sustentabilidade, mas não são as únicas. As ações de responsabilidade socioambientais estão em toda a parte e variam muito entre as organizações e empresas consideradas, conforme suas características. Mas preocupações com ecodesign quando ocorre a concepção de produtos, eficientização energética, otimização do uso de recursos hídricos, tratamento de águas residuais, gestão dos resíduos sólidos que inevitavelmente são gerados, monitoramentos atmosféricos e projetos de responsabilidade ambiental são preocupações mínimas exigidas em programas de gestão ambiental no rumo da sustentabilidade. Ecodesign é utilizado no sentido de pensar o produto depois que termina seu ciclo de vida útil. Este momento culmina com a exaustão do produto e não necessariamente dos materiais que o constituem e que podem, eventualmente, serem reutilizados em novos artefatos ou produtos planejados.
As ações que podem ser relacionadas com iniciativas vinculadas com a sustentabilidade são múltiplas e variadas, como já houve referência, muito vinculadas com a natureza e as características do empreendimento ou da atividade funcional da organização ou atividade empresarial. Quando a atividade se vincula à exploração de recursos vegetais ou ao manejo de matas e florestas, deve ser mantida uma atitude responsável e conservativa em consonância com a natureza da atividade. A natureza não está aí apenas para servir ao ser humano, mas somente condições de equilíbrio permitem a manutenção e existência de adequadas condições homeostáticas para todos os indivíduos. Por isso sempre que as áreas verdes não foram instaladas ou planejadas para sofrerem manejo ou exploração adequada, devem ser cuidadosamente preservadas.
São cada vez mais intensas as ações no sentido de privilegiar, incentivar e hegemonizar a produção e o consumo de alimentos livres de agrotóxicos em geral, como herbicidas, fungicidas e pesticidas de natureza química. Existe a percepção disseminada que estas substâncias além de agredirem ao meio natural, não representam composições que sejam adequadas e benéficas para consumo humano ou animal em geral. Estudos em alguns grupos de substâncias atestam natureza carcinogênica ou malefícios causados por acumulações lipofílicas ou hidrofílicas a médio e longo prazo no organismo de um indivíduo, na medida em que as concentrações crescem no organismo pela manutenção de consumos inadequados.
Um dos grandes dilemas da nossa civilização e da sustentabilidade em si própria é a questão da energia. Além de um uso mais racional através da maximização da eficientização energética, que hoje é quase unanimidade e adotada por todos, no mínimo por questões tarifárias e econômicas. Hoje em dia, a matriz energética muda cada vez mais rapidamente para o uso de fontes renováveis, como fontes de origem eólica e outras. Mas de qualquer forma o uso de hidrocarbonetos vai continuar por bom tempo e esta exploração de petróleo, carvão ou outros minérios deve ser sempre muito controlada, racional e bem planejada, adotando todos os procedimentos e rotinas necessários para a boa e permanente preservação dos recursos naturais.
O uso de fontes limpas e renováveis de energia como geração de procedência eólica geotérmica ou mesmo hidráulica, embora a geração hidráulica gere muitos impactos sobre recursos naturais e inclusive sobre o meio socioeconômico também. O uso destas fontes limpas tem por grande motivação a diminuição das possibilidades de poluição atmosférica que já é muito elevada em algumas cidades ou regiões metropolitanas em todo hemisfério norte e na Ásia.
A gestão de resíduos sólidos cada vez mais é percebida como grande oportunidade de reutilização de matérias primas, que em absoluto tem seu ciclo esgotado com o ciclo de vida do produto do qual fazem parte. E também como uma possibilidade muito relevante de geração de ocupação, emprego e renda para as porções mais desfavorecidas e despreparadas educacionalmente da população. Que conhecedora dos problemas históricos de gestão no país, não quer nem ouvir falar em geração energética a partir de resíduos sólidos. Mesmo o que esta geração se ativesse aos resíduos sólidos não recicláveis, o conhecimento dos processos de gestão principalmente no setor público sempre causam muito temor de que ocorram simplificações danosas, principalmente para aqueles que dependem da reciclagem para seu sustento e a manutenção de suas unidades familiares de qualquer natureza. Esta ação pode gerar grande economia de recursos naturais, principalmente minerais, que podem deixar de serem explotados (exploração a partir da natureza) para industrialização.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Publicado no Portal EcoDebate, 12/02/2015
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