Quando as ideologias (religiões) perdem o senso do humano, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)
Charge no Humor Político
[EcoDebate] Gramsci, um dos maiores estudiosos das ideologias, nos dizia que o “senso comum, as religiões e as filosofias são tipos de ideologias”. Dizia ainda que o senso comum é a mais precária delas, as religiões são um pouco mais elaboradas e a filosofia era a ideologia melhor acabada.
A identificação da religião como uma ideologia nunca foi aceita, por exemplo, pelo magistério católico. Todos os documentos originados no Vaticano vão fazer distinção entre religião e ideologia.
Mas, Gramsci deu à ideologia um sentido positivo, como um conjunto de ideias organizadas que orientam a vida particular e de grupos na vida e na disputa pelo poder. Nesse sentido, para ele as religiões também são ideologias. Afinal, quem se orienta pela opção pelos pobres, pela justiça, pela paz, etc., tem um conjunto de ideias articuladas (princípios) que as orientam na vida e luta social.
O assassinato de doze pessoas na França em nome da religião re-suscita essa questão. Afinal, os matadores se pronunciaram em nome de Alá. Porém, logo foram contestados pelo próprio mundo islâmico, que distingue entre os ensinamentos de seu profeta Maomé e a leitura que grupos sectários fazem desse mesmo princípio. Sem dúvida, a chacina torna muito mais difícil a vida dos islâmicos em território europeu.
O fato também serviu para que muitos utilizassem o fato para dizer as vantagens da razão iluminada diante dos obscurantismos das religiões. De fato, em nome da fé a Igreja Católica organizou Cruzadas – inclusive de crianças – criou a Inquisição e promoveu outros horrores ao longo da história, como a própria conquista das Américas em nome da espada e da cruz. As Cruzadas eram guerras exatamente contra os islâmicos.
Mas, se observarmos bem os fatos, veremos que o problema está nas ideologias, todas elas, inclusive as laicas, quando perdem o senso do humano. As conquistas da razão iluminada são indiscutíveis para o progresso da técnica e da ciência, mas os efeitos dramáticos da racionalidade pura se abatem hoje sobre a humanidade e o planeta.
A Primeira Guerra Mundial, a Segunda, a invasão do Iraque pelos Estados Unidos e Afeganistão, a colonização europeia em outros continentes, nenhuma dessas atrocidades foi feita em nome das religiões, mas de interesses e prepotência de nações e seus capitais diante dos mais fracos. A racionalidade moderna gerou milhões de mortes e ainda lançou a bomba atômica sobre o Japão. Pior, está gerando a mudança no clima do planeta, sem que os próprios cientistas saibam exatamente o que pode acontecer a todas as formas de vida, principalmente a humana.
Nem as esquerdas escaparam. Em nome do socialismo Stalin promoveu o expurgo de todos seus adversários. As esquerdas revolucionárias das américas e África nunca conseguiram entender os indígenas – portanto, respeitar -, lideranças tradicionais e costumes diferentes da racionalidade ocidental. Aliás, é sempre bom lembrar que capitalismo e socialismos são apenas as duas faces da mesma racionalidade iluminada do ocidente. A Bolívia ensaia um modelo que inclua o melhor do mundo contemporâneo com o melhor das tradições indígenas, inclusive o que os nativos assimilaram de melhor do cristianismo.
Portanto, as ideologias são inevitáveis, mas cuidado com todas elas, religiosas ou não. Quando em nome de “seu deus” perdem o respeito pela pessoa humana e pela natureza, elas cometem atrocidades.
Roberto Malvezzi (Gogó), Articulista do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.
Publicado no Portal EcoDebate, 13/01/2015
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A Igreja Católica é uma farsa total.
1. “Afinal, quem se orienta pela opção pelos pobres, pela justiça, pela paz, etc., tem um conjunto de ideias articuladas (princípios) que as orientam na vida e luta social”.
Resposta: Esse é o discurso da Igreja Católica, nada condizente com sua prática.
O Catolicismo, como todas as demais religiões, se fundamenta em inverdades, e tem por objetivo principal a obtenção do poder, seja político, econômico ou ideológico.
2. “Afinal, os matadores se pronunciaram em nome de Alá. Porém, logo foram contestados pelo próprio mundo islâmico, que distingue entre os ensinamentos de seu profeta Maomé e a leitura que grupos sectários fazem desse mesmo princípio.”
RESPOSTA: Se as lideranças islâmicas declarassem apoio aos assassinatos cometidos por seus seguidores, estariam dando demonstração da mais gritante insensatez e da mais estúpida imprudência. Mas a História da espécie humana está repleta de fatos dessa natureza, em todas as religiões, que são protagonizados por seguidores fanáticos. Mesmo no Brasil existem muitos casos, dentre os quais o mais marcante, suponho, é o caso de Canudos.
3. “… os efeitos dramáticos da racionalidade pura se abatem hoje sobre a humanidade e o planeta”.
RESPOSTA: Os efeitos destruidores que se abatem hoje sobre o planeta Terra são promovidos, Senhor Roberto Malvezzi, pela busca irracional do desenvolvimento econômico infinito empreendida pelo capitalismo, com o apoio das religiões, especialmente do catolicismo, e nada têm a ver com a racionalidade pura.
4. “…em nome da fé a Igreja Católica organizou Cruzadas – inclusive de crianças – criou a Inquisição e promoveu outros horrores ao longo da história, como a própria conquista das Américas em nome da espada e da cruz.”
RESPOSTA: Onde consta “em nome da fé”, leia-se: em nome do poder. Esta é a essência da Igreja Católica. Seu discurso é uma farsa total. Só não percebem os pobres seguidores necessitados, que estão à procura de qualquer coisa em que se agarrar.
Está histórica e cientificamente comprovado que Deus existe, enquanto ser mítico, criado pelo ser humano
O cristianismo de linha libertária tem pessoas como São Francisco, Dorothy Stang, Chico Mendes, Oscar Romero, etc. Enquanto aqueles que viam e vêem a religião como poder fizeram e fazem o que fazem.
Reafirmo a essência do texto: todas as ideologias, religiosas ou não, quando perdem o senso do humano e o respeito pela natureza em nome de “seu deus”, cometem atrocidades.
Segundo a História, as religiões nunca tiveram, não têm, e daí se deduz, nunca terão ” o senso do humano e o respeito pela natureza”.
As religiões, junto com os sistemas econômicos em que pequenos grupos exploram a maioria dos seres humanos, são as piores criações da espécie, e não será Francisco de Assis, nem Dorothy, nem Chico Mendes, nem Oscar Romero, nem muitos milhões de vítimas desses sistemas que vão mudar a compreensão dessa realidade. E o Papa Francisco, por que não foi inserido no seu rol de cristãos libertários?
A maior ilusão humana.
Me lembro Papa Francisco,
Com total convicção,
Que você falou para o mundo
Que existe compatibilidade entre Ciência e Religião.
Se, de fato, para você,
Existe essa compatibilidade,
Você deve declarar,
Seguindo ritos formais,
Que nós da espécie humana
Somos todos animais,
Com a pequena diferença
De que nossa inteligência
Evoluiu um pouco mais.
É isso o que a Ciência diz,
E há muito está comprovado,
Falta você admitir
Que a estória de que os humanos
Somos todos filhos de Deus
Faz parte de sórdido plano,
Há milênios inventado,
Com maldoso objetivo
De nos trazer enganados,
Pensando que somos muito mais
Do que os outros seres vivos,
Por sermos filhos de Deus,
E, por isto, imortais.
Faça isto, Papa Francisco,
Se quiser entrar para a História
Como o homem que salvou
Toda a espécie humana
Do mundo de ilusão
A que estava condenada.
Valdeci Pedro da Silva é Arquiteto e Urbanista.