São Paulo, suas árvores e suas enchentes, artigo de Álvaro Rodrigues dos Santos
[EcoDebate] Todo santo final/início de ano repete-se a lúgubre novela: enchentes e quedas de árvores trazendo incômodos e tragédias para a população da metrópole paulistana. Dois fenômenos pelos quais o homem, por seus erros, é o principal responsável. Com especial destaque para o direto envolvimento das administrações municipais da metrópole.
No caso das árvores, por proceder ou permitir o plantio de espécies arbóreas inteiramente inadequadas, por suas características, para os locais em que são plantadas. Em cidades como as nossas, de fiação aérea, tubulações enterradas sob a calçada e sarjetas e intenso trânsito de veículos e pedestres, nunca se poderia adotar árvores de grande porte e fraca resistência a ventos e ao ataque de fungos e insetos.
Nossas conhecidas leguminosas, como a Tipuana (Tipuana tipu) e a Sibipiruna (Caesalpinia pluviosa), dominantes na cena arbórea paulistana, cuja descontinuidade de uso e progressiva substituição já eliminariam algo talvez como 80% dos problemas, são o exemplo clássico e crítico dessa incompatibilidade. Essas espécies foram generosamente espalhadas por nossas calçadas e parques, talvez por suas características de fácil reprodução, rápido crescimento e segura pega. Não se prestam às ruas das cidades, madeira fraca, baixíssima resistência a pragas e doenças, a Tipuana em especial, enraizamento pouco profundo e destrutivo, elevado porte, extremamente vulneráveis a ventos mais intensos, comuns promotoras de vítimas, muitas fatais, na quebra de seus galhos ou em seu tombamento total.
De sua parte, e aí as questões se cruzam, as enchentes urbanas têm sua principal causa na progressiva incapacidade das cidades reterem parte razoável de suas águas de chuva, lançando-as, por sua impermeabilização, em brutais e crescentes volumes, e em tempos a cada dia mais reduzidos, sobre um sistema de drenagem que não mais consegue lhes dar vazão.
Pois bem, ao contrário da cidade impermeabilizada que descarta mais de 85% das águas de chuva, as áreas vegetadas, e entre elas, especialmente as áreas florestadas, têm um resultado hidrológico virtuosamente inverso, retêm mais de 80% de chuvas intensas, descartando sobre a cidade apenas perto de 20% das chuvas que recebem. Ou seja, para um eficaz combate às enchentes uma das medidas de maior efeito é a máxima arborização possível da cidade, em especial na modalidade bosques florestados.
Incrível, pois, que, por conseqüência de erros sobre erros, cheguemos hoje a um paradoxo em que a população é levada a temer e a se antipatizar com as árvores urbanas. Como exclamaria um nosso afamado locutor esportivo, “pelo amor de meus filhinhos”, plantemos muitas árvores, milhões e milhões de árvores em nossa metrópole, elas nos são absolutamente necessárias, apenas tomemos o inteligente cuidado de plantar as espécies arbóreas certas nos lugares que lhes são decididamente adequados.
Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br)
Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT e Ex-Diretor da Divisão de Geologia
Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, Manual Básico para Elaboração e Uso da Carta Geotécnica”, Colaborador e Articulista do Portal EcoDebate.
Publicado no Portal EcoDebate, 12/01/2015
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Com a escala das temperaturas no geral e sobretudo nas cidades, árvores são absolutamente indispensáveis para sombrear fachadas e levar calor embora pela sua evapotranspiração.
A sua benéfica atuação na retenção da chuva a ação das árvores e arbustos deveria ser complementada por telhados verdes, pátios de casas e empresas permeáveis, inclusive para também melhorar a realimentação dos lençóis freáticos, atualmente tão ameaçados por poços em excesso e rebaixamento para novas construções.