COP20 e consenso oco do ‘acordo possível’, por Henrique Cortez
[EcoDebate] A COP20, em Lima, Peru, deveria “abrir” caminho para a próxima reunião, já marcada para 2015, em Paris, quando se tentará firmar um novo acordo global sobre o clima, em substituição ao Protocolo de Quioto, entrando em vigor em 2020. No entanto, como nas COPs anteriores, nada de significativo ou produtivo avançou.
O “Chamamento de Lima para a Ação sobre o Clima”, pomposo e inócuo título dado ao acordo, foi aprovado por consenso que, aliás, é apenas consenso em relação ao problema e não em relação as soluções. O mesmo conceito de consenso oco que foi ‘negociado’ e firmado nas COPs anteriores, e, como esperado, sem avanços reais.
Os países auto-proclamados desenvolvidos estão às voltas com a crise financeira global, que eles gananciosamente criaram, e se recusam a discutir metas, enquanto as metas não forem fixadas e aprovadas para os países em desenvolvimento. Os países em desenvolvimento, por sua vez, não aceitam discutir metas e reafirmam que a responsabilidade histórica é dos países desenvolvidos. Enquanto isto, convenientemente, nada acontece.
Hoje sabemos que o aquecimento global é um fato e que as emissões de gases estufa estão em uma espiral crescente, o que exige ações rápidas e efetivas para que, ao final deste século, não estejamos diante de uma imensa catástrofe social e ambiental, mas, além de discursos e bravatas, nenhum governo, do primeiro, segundo, terceiro ou quinto mundo, está minimamente disposto a fazer algo de concreto. No futuro, quem sabe talvez…
Já é o escript padrão das COPs, que se repete cansativamente. Terminou em impasse, como era esperado e nós, ambientalistas, temos uma boa parte da responsabilidade, nos continuados fracassos, porque insistimos em acreditar que estes convescotes climáticos tem alguma razão de ser. O caos climático é um fato e suas consequências são crescentes e para isto não precisamos de tantas COPs que nada significam e nada resolvem. Chega de turismo climático.
Já estou cansado de ouvir acusações de alarmismo ambiental, de histeria climática e há quem nos chame de Cassandra’s. OK, mas quem acha que Cassandra é um “adjetivo” que nos desqualifica, certamente, nada sabe da Ilíada e não imagina que as profecias de Cassandra, ignoradas pelos troianos, se realizaram…
É muito fácil falar do aquecimento aquecimento global, discutir as mudanças climáticas ou reclamar da inação dos governos mundiais. Mais fácil ainda é fazer tudo isto e não agir. Centenas de grupos e comunidades, com dezenas de milhares de membros, estão ‘discutindo’ o aquecimento global e, de fato, nada fazendo, limitando-se a uma “tagarelice” estéril.
Bem, de uma forma ou de outra, arcaremos com todas as conseqüências da nossa alienação ou da nossa inércia. Precisamos compreender que, se as piores previsões se concretizarem, as gerações que virão, certamente, herdarão um planetinha hostil.
Os governos nada farão e nada mudará se nós não mudarmos e, no papel de eleitores/consumidores/cidadãos, não exigirmos mudanças.
A decisão está nas nossas mãos. A responsabilidade também. Sem discurso e sem desculpas.
Henrique Cortez, jornalista e ambientalista, é editor do portal EcoDebate e da revista Cidadania & Meio Ambiente.
Publicado no Portal EcoDebate, 15/12/2014
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Prezado Henrique Cortez,
enquanto assistimos ao sucateamento dos biomas terrestres e a consequente extinção de espécies animais e vegetais, vemos os governos dos países capitalistas empenhados em obter, sempre, maior desenvolvimento econômico, e ocupando a mídia do planeta para falar de desenvolvimento sustentável e mostrar as glórias alcançadas pelo capitalismo, ocultando os refugos do regime, entre os quais se encontram as guerras, as invasões, as grandes disputas por recursos naturais, os conflitos e a propagação das religiões. E não poderia ser diferente, uma vez que os governos dos países capitalistas são formados para criarem as melhores condições para o desenvolvimento econômico, independentemente dos prejuízos socioambientais que esse desenvolvimento venha a causar, em cada país ou a nível planetário.
Somente uma Organização Não Governamental (ONG), com abrangência planetária, que seja capaz de englobar políticos, intelectuais, artistas e todos os seres humanos de todos os países, que estejam interessados em prevenir calamidades cada vez maiores e, por fim, o colapso planetário, será capaz de empreender uma campanha pelo controle populacional da espécie humana e pela abolição, pacífica, do regime capitalista.
Se grandes líderes políticos e religiosos, e grandes artistas, intelectuais e cientistas de todo o planeta lançarem esse movimento, há grande possibilidade de que ele obtenha êxito. Se dessa forma não acontecer a tão desejada mudança de ruma da História da espécie humana, que sempre foi marcada por conflitos, guerras, destruição, dominação e escravização da própria espécie, acredito que não haverá alternativa para redenção.
Parabéns pelo excelente trabalho apresentado.
A gente postou na íntegra este texto do Henrique Cortez, pela sua atualidade, sua importância e sua coragem, o que pode ajudar mudanças e avanços na questão ambiental no Brasil, de extrema urgência hoje. Parabéns ao Cortez e ao EcoDebate pelo trabalho cultural e ecológico.