A importância e a ruptura do ciclo das águas, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)
[EcoDebate] Quando éramos crianças e estávamos no ensino médio, nos ensinavam o ciclo das águas. Parece uma descrição abestalhada, como se diz aqui pelo Nordeste, mas é fundamental nos dias de hoje.
A professora nos ensinava que o sol aquece os oceanos e outros corpos d’água, o calor a muda para vapor de água (estado gasoso), que sobe para a atmosfera, que é empurrado pelos ventos para os continentes, que depois vai cair em forma sólida (granizo, neve, etc.) ou líquida, as chuvas.
Uma parte se perde por evaporação. Outra escorre alimentando os corpos de água de superfície, para os rios, daí para o mar. Outra parte penetra na terra, formando os reservatórios subterrâneos.
Um estudo pouco mais elaborado vai nos dizer que, se as chuvas caem em terreno coberto por vegetação (florestas), as árvores ajudam a amortecer o impacto da precipitação nos solos. Ela ainda retém o fluxo das águas, desacelerando-o. Quando é assim, o solo sendo poroso, cerca de 60% dessas águas podem penetrar e ficarem armazenadas no subsolo. São essas águas que depois vão alimentar a chamada vazão de base, que garante a perenidade de alguns corpos d’água de superfície.
Se o solo é compacto então cerca de 80% escorre rapidamente para as partes mais baixas, causando inundações repentinas. Essa água que se perde depois vai fazer falta para alimentar nossos rios.
Mesmo tendo cobertura vegetal, se o subsolo não for favorável, como o cristalino aqui do Semiárido, então a água pouco penetra. É por isso que não temos rios perenes nascidos aqui na região, a não ser o Parnaíba, exatamente porque ali está uma parte de solo poroso, que forma o aquífero do Gurguéia.
Temos pequenas nascentes em partes altas, nos chamados “Brejos de Altitude”. Por isso temos que armazenar água em açudes artificiais, de superfície, além das cisternas caseiras, barreiros, barragens subterrâneas e tantas outras tecnologias sociais criadas pelo povo e aperfeiçoadas na luta pela convivência com o Semiárido.
O ciclo das águas desperta ainda o “cio da Terra”. Em regiões como aqui no Semiárido, a caatinga que parecia morta reverdece, ressurgem nuvens de insetos, as flores se espalham de forma belíssima, os animais parecem sair do nada, como se fosse uma verdadeira ressurreição.
Meus amigos criadores de bode dizem que até as cabras entram no cio.
Portanto, sem o ciclo das águas a vida não reacontece, os reservatórios não se reabastecem e o que era cheio de vida pode se transformar num deserto.
O problema maior do Brasil nesse momento de diminuição das chuvas reside exatamente aí: para muitos especialistas estamos causando a “ruptura no ciclo de nossas águas”. Por um detalhe que merece atenção, isto é, parte do nosso ciclo de águas se origina na floresta amazônica, não só nos oceanos. Então, uma vez derrubada a floresta, diminui automaticamente a produção de vapor de água.
Outro elemento fundamental é que o Cerrado, ocupando a parte central do país, fazia o papel de armazenador de nossas águas, depois distribuindo-as para várias bacias brasileiras. Com a derrubada da vegetação, mais compactado, ele está perdendo capacidade de armazenar águas e depois alimentar os rios perenes, como é o caso do São Francisco.
Causa espanto que tantos peritos em água só falem em expandir seu consumo, ou ir busca-la mais longe para abastecer grandes centros, como São Paulo. O raciocínio é feito pela metade, sem capacidade de olhar sistemicamente nossos ciclos das águas e está nos conduzindo ao caos. Está apenas adiando a solução e causando problemas futuros em mananciais que também irão se esgotar se não forem preservados.
O Prof. Antonio Nobre (INPE) afirma que precisaríamos de um esforço de guerra para recuperarmos a eficiência de nosso ciclo das águas, replantando em áreas de encostas, margens de rios, quem sabe em trechos inteiros de bacias hidrográficas. Precisaríamos ainda, não só deter o desmatamento amazônico, mas começar a recuperação da floresta enquanto há tempo. Já para o Prof. Altair Salles (PUC Goiânia), o Cerrado não tem mais recuperação. Para o Prof. José Alves (UNIVASF) o São Francisco está inexoravelmente condenado à morte.
Mas, nada parece comover aqueles que impõem a destruição para satisfazer seus interesses imediatos. Retomando a metáfora do Titanic, a classe A dança e ouve orquestra enquanto o navio afunda.
Roberto Malvezzi (Gogó), Articulista do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.
Publicado no Portal EcoDebate, 03/12/2014
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Um estudo conservador do ciclo hidrológico diz que o maior percentual de água que cai na superfície é proveniente de evaporação da água dos oceanos. Essa água alimenta os lençóis freáticos, que alimentam os rios, que despejam água no mar. E, assim, o ciclo hidrológico permanece indefinidamente.
Isso é o ensinado no segundo grau. No entanto, um aluno mais curioso vai perguntar: – Por que a água que evapora no mar cai na terra e não no mar?
Então teremos que aprofundar o estudo. Teremos que estudar o regime de ventos e, como fez o Gogó, a cobertura vegetal.
Proposição para salvar as condições de vida no planeta Terra.
Os atuais Estados-nações são produto da viciosa evolução social da espécie humana, e vivem em constantes conflitos, cada um tentando obter vantagens sobre os demais.
Como resultado dessa competição e da busca pelo desenvolvimento econômico constante e cada vez maior, o meio ambiente de todo o Planeta tem sido castigado, e já se encontra em avançado estágio de destruição, no qual muitas espécies animais e vegetais já foram extintas, e muitas se encontram na linha de extinção, enquanto grande parte da espécie humana sofre dificuldades enormes de sobrevivência, e toda a espécie aguarda o final da sua jornada de destruição, sem qualquer perspectiva de ser salva.
Se o relacionamento entre os Estados é conflituoso e conduz à destruição, poder-se-ia pensar na promoção de uma campanha planetária, desenvolvida pela intelectualidade e por grandes líderes políticos, econômicos e religiosos, que sejam capazes de renunciar a seus privilégios imediatos, e a suas ideologias e credos originários – essa é uma tarefa para gigantes – e defender o equilíbrio do sistema Terra, através da instituição de uma administração planetária única, que cuide dos interesses da espécie humana de forma unitária, abandonando a ideia de desenvolvimento econômico e abolindo os Estados-nações existentes.
A partir da instituição de uma administração planetária única, se implantaria um controle urgente da reprodução humana, que fosse capaz de fazer retrair, em pequeno espaço de tempo, a população planetária a 10% da que existe na atualidade.
Está aí a nossa proposição de salvação das condições de vida no planeta Terra. Falta ver quem será capaz de dar os primeiros passos no sentido de as implementar, e, caso isso aconteça, vamos torcer para que o grande objetivo, que é a salvação das condições de vida no planeta Terra, seja alcançado.