Fazenda vertical pode ser a solução para desafios enfrentados pela agricultura
Escassez de áreas cultiváveis e aquecimento global abrem espaço para o cultivo de vegetais em estufas, dentro de prédios. Modelo aproxima produção do mercado consumidor e economiza água, mas ainda é muito caro.
O conceito de fazendas verticais, ou o cultivo de alimentos em prédios, surgiu com a necessidade de ampliar a produção agrícola perante o crescimento populacional e de adaptar a agricultura para as mudanças climáticas. O modelo, já presente em alguns países, ainda é uma realidade distante no Brasil devido aos elevados custos de construção e produção, que acabam encarecendo o produto final.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), até 2050 a produção mundial de alimentos precisaria aumentar em cerca de 70%, em relação à safra de 2005, para alimentar os mais de 9 bilhões de habitantes que o planeta deverá ter até lá. Mas isso significaria também ampliar a área cultivada.
Segundo o criador do conceito de fazendas verticais, Dickson Despommier, para expandir a produção de alimentos nessa proporção seria necessário ampliar a atual área plantada em uma região quase do tamanho do Brasil. Além da escassez de áreas cultiváveis, a agricultura enfrentará nos próximos anos ainda desafios criados pelas mudanças climáticas.
“O aspecto da vida humana mais afetado pelo aquecimento global é a habilidade de produzir alimentos. Em muitos locais, a agricultura já está falhando em larga escala. Então precisamos de um meio de produzir alimentos que independa das condições climáticas”, afirmou Despommier, que é professor emérito da Universidade Columbia, à DW Brasil.
Série de vantagens
Partindo do conceito de estufas, o modelo desenvolvido por ele prevê o cultivo de alimentos em prédios construídos próximos aos centros urbanos. O cultivo fechado possibilita a produção durante todo o ano, sem depender do clima. Além disso, economiza água, pois a hidroponia requer apenas 30% da quantidade de água necessária na produção convencional.
Esse modelo também reduz a incidência de pragas e o uso de defensivos agrícolas. Mas, nos planos de Despommier, a fazenda vertical ideal vai além. Ela é sustentável e totalmente integrada ao ambiente urbano.
O lixo das cidades seria usado para produzir a energia para a iluminação e manter a temperatura interna. A água para a produção de alimentos viria da reciclagem da chamada água cinza, ou seja, a água residual gerada em casas. O pesquisador afirma também que o modelo permite o cultivo de qualquer tipo de vegetal.
Realidade distante
Para o chefe-adjunto de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Hortaliças Ítalo Guedes, o cultivo de alimentos perto dos centros consumidores é uma das grandes vantagens desse modelo. Isso reduz custos de transporte e perdas na produção, diminuindo o preço final dos produtos. No Brasil, por exemplo, perdas após a colheita chegam a 40% em algumas culturas, afirma Guedes.
O especialista afirma que o modelo, além de economizar água, requer menos espaço, otimiza e maximiza a produção, e no Brasil ainda pode contribuir para reduzir o desmatamento.
Além de sustentáveis, as fazendas verticais também têm um potencial turístico. “Elas podem ser uma excelente ferramenta para o agroturismo urbano, envolvendo políticas sociais de preservação ambiental e valorização da saúde”, disse o especialista em agronegócio Leandro Pessoa de Lucena, da Universidade Federal do Mato Grosso.
Apesar de inovador, os altos custos de construção e produção ainda são as grandes barreiras para a expansão das fazendas verticais. Segundo Lucena, que avaliou o modelo em sua tese de doutorado, as principais desvantagens são o alto consumo de energia, a baixa escala de produção, além da falta de mão de obra especializada e a dificuldade de comercialização da produção, que tem custo mais elevado.
Modelo se propaga no mundo
Apesar das barreiras, aos poucos as fazendas verticais estão conquistando espaço. Já há projetos em Singapura, no Japão, na China, no Oriente Médio e nos Estados Unidos. Para especialistas, o modelo, no entanto, ainda deve demorar para chegar ao Brasil.
“Ainda temos vários passos para caminhar até chegar num ponto em que a fazenda vertical seja uma saída tecnológica viável. Ainda estamos lutamos para convencer a população brasileira a adquirir mais frutas e hortaliças. Não podemos esperar que essas pessoas comprem produtos mais caros, provenientes de fazendas verticais”, diz Guedes.
Lucena concorda que o modelo ainda precisa de muitos estudos para reduzir os custos de produção e assim se tornar acessível.
Mas Despommier diz ter certeza de que as fazendas verticais podem se tornar uma alternativa confiável e barata na produção de alimentos. “A tecnologia inicial é cara, mas se o público realmente a quiser, a indústria encontrará um meio de torná-la acessível. A mesma coisa aconteceu com os primeiros celulares e televisões de plasmas”, afirma.
Matéria de Clarissa Neher, da Deutsche Welle, DW.DE, reproduzida pelo Portal EcoDebate, 30/09/2014
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Note os países onde a tecnologia é usada. Mude “China” para “Hong Kong”, que é onde realmente essa tecnologia é muito usada. Lembre que os EUA sempre tentam usar qualquer tecnologia nova só por usar e para dizer que estão desenvolvendo também (e que as fazendas verticais lá dão preuízo). Veja a nova lista:
Singapura, Japão, Hong Kong, Oriente Médio
O que todos esses lugares têm em comum? Altas densidades populacionais e falta de terras agriculturáveis. Quando há essa combinação, fazendas verticais podem fazer sentido. Mas elas gastam tão mais recursos em relação a uma fazenda normal (uso recursos, não dinheiro, porque não é só uma questão financeira) que só valem à pena se se tem realmente MUITA gente em volta e nenhuma ou quase nenhuma terra.
Como comentou um nova-iorquino quando mais uma fazenda vertical faliu em Nova York: “Comida local? É para isso que existe Nova Jérsey”.
Um cinturão agrícola em torno de grandes metrópolis é bem mais eficiente em produzir comida do que fazendas verticais.
Concordo com você Mariana…
Vale lembrar que aqui no Brasil o desperdício de alimentos é alto devido às condições inadequadas de transporte e de armazenamento.
Há muito o que se melhorar no nosso país em tecnologia no campo visando o aumento a produtividade agrícola e na tecnologia pós-colheita, evitando o desperdício dos alimentos.