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Artigo

Força sedutora do 4G, artigo de Bruno Peron

 

opinião

 

[EcoDebate] Os serviços de Internet através de telefones móveis aprimoram-se. Investidores sempre encontram uma maneira de ganhar dinheiro com o potencial consumidor de brasileiros, ainda que aqui a burocracia e os custos sociais atravanquem negócios. Alguns deles são os cabeamentos horríveis que se penduram nos postes das ruas em vez de deixá-los subterrâneos nas cidades, e o risco de furto e roubo de aparelhos eletrônicos por aqueles que não podem comprá-los e importunam aqueles que os têm.

Para aqueles que podem acompanhar esses avanços tecnológicos, a expansão da telefonia móvel 4G é promissora no Brasil. Discutiu-se sua viabilidade ao longo de 2012 para que, em 2013, algumas cidades grandes como Brasília e Curitiba oferecessem o serviço. A vantagem da tecnologia 4G em relação à anterior 3G é que aquela oferece acesso muito mais rápido à Internet e permite, assim, interação maior dos usuários com aplicativos, músicas e vídeos enquanto estiverem em vias públicas.

Tudo começou no Brasil com o leilão da faixa de 2,5 GHz pela Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) em junho de 2012 para a implantação da tecnologia 4G. Entretanto, não existe um padrão de frequência da tecnologia 4G que seja aceito no mundo todo. Por isso, a ANATEL também pretende leiloar em setembro de 2014 a faixa de 700 MHz para uso da tecnologia 4G. Com isso, a frequência de 700 MHz complementaria a de 2,5 GHz, além de que ela tem a vantagem do sinal mais abrangente que a segunda e usa-se em países como Argentina e Estados Unidos.

Antes que a frequência de 700 MHz seja usada pela telefonia móvel, contudo, houve um acordo para que emissoras de televisão analógica mudem de faixa. Além disso, é importante destacar que o governo brasileiro terá uma receita inicial de aproximadamente R$ 8 bilhões com a concessão da faixa de 700 MHz e que o procedimento não se deve confundir com privatização. No entanto, espera-se que esses recursos financeiros não se convertam em leite que verta em mamadores compulsivos do governo federal.

Minha preocupação deve-se às oscilações de qualidade em gestão de dinheiro para fins públicos, já que decisões do governo envolvem várias pessoas. Há uma boa recepção a tecnologias novas no Brasil, desde que os sinais das operadoras de telefonia móvel ao menos funcionem e garantam operação mínima dos serviços contratados. Foi mais ou menos com esta disposição que a ANATEL obrigou que, desde junho de 2014, operadoras de telefonia móvel de cidades com mais de 500 mil habitantes disponibilizassem acesso em 4G. O imperativo da lei tem força, embora a oferta do serviço seja também de interesse destas empresas. Aproximadamente 2,5 milhões de pessoas acessam atualmente a telefonia 4G no Brasil em 106 cidades.

É bom que tecnologias avançadas (fibra ótica, 4G, etc.) cheguem também ao Brasil, embora elas sejam mais caras e mais seletivas que em países da vanguarda industrial. Redes de comunicação pavimentam um caminho irreversível na medida em que abrem janelas com que consumidores de vários níveis econômicos e sociais apenas sonhavam. É possível ter acesso a transmissões gratuitas de televisão digital, programas de países longínquos, videoconferências e mensagens instantâneas.

Creio que ninguém contrarie os benefícios que essas tecnologias trazem em qualquer lugar, embora algumas críticas mereçam atenção. Faço algumas: a da publicidade excessiva que transforma o lazer numa prorrogação do sistema produtivo através da televisão; a do compartilhamento de dados pessoais nos cadastros em websites e nas redes sociais da Internet; e a dos smart phones que se transformam num membro dos nossos corpos. Sobre um panorama nacional, agrego que o Brasil integra-se pelas tecnologias de comunicação (sobretudo a televisão), mas se desintegra nos espaços públicos mais tradicionais (as ruas, os bairros, as cidades e as regiões).

A tecnologia 4G é mais um serviço que provoca sedução.

Infelizmente, sua força sedutora evidenciará as margens.

* Colaboração de Bruno Peron Loureiro, mestre em Estudos Latino-americanos pela Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM), para o EcoDebate, 18/09/2014


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