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Artigo

Mortes por Ebola e o ‘choque malthusiano’ na Libéria, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

esperança de vida, nascimentos e óbitos na Libéria

 

[EcoDebate] A Libéria é uma república presidencialista localizada na África Ocidental, fazendo fronteira com Serra Leoa, Guiné e Costa do Marfim. Foi fundada e colonizada por escravos americanos libertos com a ajuda de uma organização privada chamada American Colonization Society, entre 1821 e 1822. A capital do país é Monróvia (homenagem a James Monroe, o quinto presidente dos Estados Unidos). O nome Libéria significa “liberdade”.

Embora a Libéria não tenha sofrido os traumas da escravidão e da colonização europeia, é um país pobre, com renda per capita de US$ 700,00 (em poder de paridade de compra), com 80% das pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza e apresenta um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de somente 0,412, um dos mais baixos do mundo (175º em 187 países). Segundo a Divisão de População da ONU a população da Libéria era de 930 mil habitantes em 1950, passou para 4 milhões em 2010 e está projetada para 9,4 milhões de habitantes em 2050. A densidade demográfica era de 8 habitantes por quilômetro quadrado (hab/km2) em 1950 e pode chegar a 84 hab/km2 em 2050.

No quinquênio 2010-15, o número anual de nascimentos está estimado em 151 mil bebês e o número de óbitos em 38 mil. Portanto, a Libéria apresenta um crescimento vegetativo de 113 mil pessoas por ano. A esperança de vida ao nascer era de 33 anos no quinquênio 1950-55 e chegou a 58 anos em 2005-10. A projeção da ONU indica uma esperança de vida de 71 anos em 2045-50.

Contudo, a epidemia de Ebola pode mudar o cenário demográfico desenhado pela ONU. Até o momento, a Libéria é o país onde foram registrados os maiores números de mortes por causa do ebola. Na primeira semana de setembro, a OMS (Organização Mundial da Saúde) advertiu que o vírus ebola estava se espalhando “exponencialmente” na Libéria e que “milhares” de novos casos estavam sendo esperados nas próximas três semanas.

O surto de Ebola atinge, além da Libéria, Guiné, Serra Leoa e Nigéria. Apenas na Libéria, até a primeira semana de setembro, 1.089 pessoas de um total de 1.871 diagnosticadas já morreram, um índice de mortalidade de 58%. Ou seja, o vírus do Ebola é extremamente fatal.

Se a epidemia não for controlada a Libéria pode ver, dentro de pouco tempo, as taxas de óbitos superarem as taxas de nascimentos, criando uma situação de “choque malthusiano”. A expressão “choque malthusiano” é utilizada para descrever uma situação em que o crescimento populacional é interrompido, não pela queda da fecundidade, mas pelo aumento das taxas de mortalidade.

Thomas Malthus (1766-1834) considerava que a tríade: “guerra-miséria-epidemia”, funcionava como um “freio positivo” para interromper o crescimento desregrado da população. O salário de subsistência era a solução que ele propunha para evitar que a população crescesse acima do ritmo da economia. Malthus, como pastor da Igreja Anglicana, era contra os métodos contraceptivos, a esterilização e o aborto.

Poucos países passaram por esta situação das mortes superarem os nascimentos, desde que o reverendo Malthus escreveu seus escritos pessimistas. A Revolução Industrial e Energética viabilizou um grande crescimento da economia mundial e todos os países passaram pela transição da mortalidade e a transição epidemiológica. Nunca as taxas brutas de mortalidade foram tão baixas no mundo quanto atualmente. Nunca a esperança de vida global foi tão alta.

Mas enquanto o mundo apresenta ganhos demográficos, a Libéria pode entrar numa situação de pesadelo. Para a OMS, é preciso triplicar ou multiplicar várias vezes os esforços no país e em outras nações africanas para enfrentar de forma adequada a doença. Os táxis usados para transportar os pacientes infectados pelo vírus parecem ser uma fonte da transmissão do Ebola. O vírus se espalha pelo contato direto com sangue contaminado, fluidos corporais ou órgãos, e também indiretamente, pelo contato com ambientes contaminados.

O ministro da Defesa da Libéria disse ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, de acordo com reportagem da Revista Exame, que: “A existência nacional da Libéria está seriamente ameaçada pelo vírus mortal do Ebola, que está se espalhando como fogo e devorando tudo em seu caminho. A Libéria está enfrentando uma ameaça séria à sua existência nacional. O vírus Ebola causou uma interrupção no funcionamento normal de nosso Estado. Agora ele está se espalhando como fogo e devorando tudo em seu caminho. A infraestrutura já frágil do sistema de saúde do país foi sobrecarregada”.

O espectro do choque malthusiano ronda a Libéria e pode migrar para outros países da região e outras regiões do mundo. Esta é uma notícia que vai na contramão da transição demográfica e da transição epidemiológica. O mundo precisa de unir para prestar solidariedade e evitar que a elevação das taxas de mortalidade se tornem uma realidade no século XXI.

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

 

EcoDebate, 17/09/2014


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One thought on “Mortes por Ebola e o ‘choque malthusiano’ na Libéria, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

  • José Rodrigues Filho

    Não creio que essa sinistra previsão se realizará. É preciso cautela na entrega de recursos a esses países, pois a corrupção grassa nos meios governamentais dessas nações. As populações, em toda a África, necessitam de apoio da comunidade mundial, embora os responsáveis pela miséria, que assola esse continente, haja sido os colonialistas ingleses, franceses, alemães, belgas, holandeses, entre outros.
    A teoria de Malthus já foi desmistificada. O vírus será contido.

Fechado para comentários.