Fome diminui, mas ainda há 805 milhões de pessoas no mundo com desnutrição crônica
Cerca de 805 milhões de pessoas no mundo, uma em cada nove, sofrem de fome, afirma novo relatório das Nações Unidas divulgado nesta terça-feira (16). O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo (SOFI 2014, na sigla em inglês) confirma a tendência positiva de decréscimo global do número de pessoas com fome, que diminuiu em mais de 100 milhões na última década e em mais de 200 milhões desde 1990-1992.
O relatório, publicado anualmente pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA), afirma também que a tendência geral de redução da fome nos países em desenvolvimento significa que o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM), de reduzir pela metade a percentagem de pessoas desnutridas até 2015, pode ser alcançado, “se se intensificarem os esforços apropriados de forma imediata”. Até à data, 63 países em desenvolvimento atingiram a meta dos ODM, e mais seis estão no caminho para alcançá-la em 2015.
“Esta é a prova de que podemos vencer a guerra contra a fome e deve servir como inspiração para os países avançarem, com o apoio da comunidade internacional, naquilo que for necessário”, escrevem no prefácio do relatório os chefes de FAO, FIDA e PMA, José Graziano da Silva, Kanayo F. Nwanze e Ertharin Cousin, respectivamente.
Eles dizem também que “uma redução da fome acelerada, substancial e sustentável é possível com o necessário compromisso político”, e que este “tem que contar com informação suficiente e uma boa compreensão dos problemas nacionais, das opções de política pertinentes, ampla participação e lições de outras experiências”.
O relatório deste ano inclui sete estudos de caso – Bolívia, Brasil, Haiti, Indonésia, Madagascar, Malauí e Iêmen – que destacam algumas das formas que os países utilizam para combater a fome e como os eventos externos podem influenciar a sua capacidade de atingir objetivos de segurança alimentar e nutrição. Estes países foram escolhidos devido à sua diversidade em nível político, econômico, particularmente no sector agrícola, e às suas diferenças culturais.
A Bolívia, por exemplo, criou instituições que permitiram o envolvimento de uma série partes de interessadas, nomeadamente os povos indígenas outrora marginalizados.
O Programa Fome Zero do Brasil, que colocou a segurança alimentar no centro da agenda do governo, é a base do progresso que levou o país a alcançar o ODM. Os atuais programas destinados a erradicar a pobreza extrema no Brasil baseiam-se na abordagem de articulação entre as políticas para a agricultura familiar com a proteção social de forma inclusiva.
O Haiti, onde mais de metade da população sofre de desnutrição crônica, ainda luta para recuperar dos efeitos do devastador terremoto de 2010. O relatório analisa como o país adotou um programa nacional que permitiu fortalecer os meios de subsistência e melhorar a produtividade agrícola, favorecendo o acesso dos pequenos agricultores familiares a fatores de produção e serviços.
A Indonésia adotou estruturas legais e estabeleceu instituições para melhorar a segurança alimentar e nutricional. O seu mecanismo de coordenação de políticas envolve os ministérios, ONGs e líderes comunitários. Estas medidas abordam uma ampla variedade de desafios, desde o crescimento da produtividade agrícola, às dietas nutritivas e seguras.
Madagascar está emergindo de uma crise política e retomando o relacionamento com os parceiros de desenvolvimento internacionais destinados a combater a pobreza e a malnutrição. Estabeleceu também parcerias para promover a resiliência a choques e riscos climatéricos, incluindo ciclones, secas ou pragas de gafanhotos, que muitas vezes afligem a nação insular.
O Malauí atingiu a meta dos ODM sobre a fome, graças a um compromisso sólido e persistente para aumentar a produção de milho. No entanto, a malnutrição continua a ser um desafio: 50% das crianças menores de cinco anos sofre de atrasos no crescimento e 12,8% estão abaixo do peso. Para fazer frente a este problema, o governo está promovendo intervenções nutricionais de base comunitária para diversificar a produção de modo a incluir legumes, leite, a pesca e a aquicultura, para promover dietas mais saudáveis, e para melhorar os rendimentos das famílias.
Conflitos, crises econômicas, baixa produtividade agrícola e pobreza fizeram do Iêmen um dos países com maior insegurança alimentar no mundo. Além de restabelecer a estabilidade política e econômica, o governo pretende reduzir a fome em um terço até 2015 e fazer com que 90% da população tenha segurança alimentar até 2020. Tem ainda como objetivo reduzir os atuais graves índices de malnutrição infantil em pelo menos um ponto percentual por ano.
As conclusões e recomendações do SOFI 2014 serão discutidas pelos governos, sociedade civil e representantes do setor privado na reunião do Comité de Segurança Alimentar Mundial, que vai decorrer de 13 a 18 de outubro, na sede da FAO, em Roma (Itália).
Fonte: ONU Brasil
EcoDebate, 17/09/2014
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