O abismo de Sêneca e o colapso das civilizações, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
“Tudo é incerto e derradeiro
Tudo é disperso, nada é inteiro.”
Fernando Pessoa
[EcoDebate] O “abismo de Sêneca” (“Seneca Cliff”) é um termo utilizado para descrever a tendência de alguns sistemas de entrar em colapso depois de ter atingido o seu pico máximo. O exemplo clássico foi a queda do Império Romano que pode ser resumido nas palavras do filósofo Sêneca: “Fortune is slow, but ruin is rapid” (A evolução da riqueza é lenta, mas a ruína é rápida). Disse o filósofo Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.):
“Seria um consolo para a nossa fraqueza e os nossos bens se tudo ficasse arruinado com a mesma lentidão com a qual é produzida, mas, em vez disso, o aumento é gradual, a queda vertiginosa”.
Segundo Barbi (2013), a Fundação de Roma remonta a 753 aC e o fim do Império Romano do Ocidente, em geral, é estabelecido como sendo no ano de 476 dC, quando houve o destronamento do último imperador ocidental, Rômulo Augusto. Um intervalo de 1200 anos. O Império ainda era forte e poderoso durante o século 2 dC., no tempo do imperador Trajano (que morreu em 117 dC). Até a época do imperador Marco Aurélio (que morreu em 180 dC), o império não mostrou sinais evidentes de fraqueza. Pode-se considerar o pico como ocorrendo em meados ou finais do século 2 dC. Ou seja, o Império levou cerca de 900 anos para ir desde a fundação de Roma até o pico do século 2. Em seguida, ele levou cerca de 400 anos – provavelmente menos do que isso – para murchar e desaparecer. Uma assimétrica, tipo Sêneca-colapso.
A sociedade urbana-industrial – energizada pelos combustíveis fósseis – teve início no final do século XVIII e deve atingir o seu pico máximo no século XXI. Provavelmente, o mundo vai ter 250 anos de crescimento inigualável da riqueza humana. Mas o planeta Terra é finito e os recursos naturais são escassos. O pico civilizatório de ampliação da riqueza material pode não estar muito distante, se a marcha da insensatez ecológica prosseguir.
A questão é saber se depois do pico do petróleo e do pico de vários recursos naturais virá um período de estabilização com mudança dos padrões de produção e consumo ou se a civilização industrial dos combustíveis fósseis vai repetir a experiência do Império Romano e cair no “Abismo de Sêneca”.
Referências:
UGO BARDI. The Seneca effect: why decline is faster than growth, August 28, 2011
UGO BARDI. The punctuated collapse of the Roman Empire. Jul 15, 2013
ALVES, JED. Ascensão e queda da civilização dos combustíveis fósseis. EcoDebate, RJ, 02/04/2014
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 10/09/2014
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Como se disse antes, o capitalismo é um ser absolutamente irracional.