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Artigo

Projeções da população mundial e regiões na hipótese de fecundidade constante, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

população mundial e projeções 2005-2100

 

[EcoDebate] A Divisão de População da ONU atualiza periodicamente 4 projeções para os países, as regiões e o mundo. Além da projeção média, existem as projeções alta e baixa que levam em consideração as perspectivas de queda da fecundidade e aumento da esperança de vida. Para os países e regiões também se considera as projeções sobre migração. Ainda são apresentadas as projeções para o caso das taxas de fecundidade permanecerem constantes.

Na última revisão (de 2012 publicada em 2013) as estimativas da ONU para a população mundial em 2100 foram: projeção média: 10,9 bilhões de habitantes; projeção baixa: 6,8 bilhões de habitantes; e projeção alta: 16,6 bilhões de habitantes.

Contudo, a ONU também divulga a projeção caso as taxas de fecundidade permaneçam constantes no nível do quinquênio 2005-2010. Neste caso, a população mundial chegaria a 28,6 bilhões de habitantes em 2100, pois a taxa de fecundidade total estava em torno de 2,53 filhos por mulher.

Para os países desenvolvidos (More developed regions) que tinham uma população de 1,241 bilhão de habitantes em 2010, haveria uma pequena queda para 1,153 bilhão em 2100. Os países menos desenvolvidos (Less developed regions) que tinham uma população de 4,836 bilhões de habitantes em 2010, haveria um aumento para 13,904 bilhões de habitantes. Para os países muito menos desenvolvidos (Least developed countries), que tinham uma população de 839 milhões de habitantes em 2010, haveria um aumento para 13,590 bilhões de habitantes (16 vezes maior).

Projeção feita por demógrafos do International Institute for Applied Systems Analysis (IIASA)mostra que se a taxa de fecundidade permanecer constante em torno de 2,5 filhos por mulher a população mundial chegaria a 71 bilhões de habitantes em 2300. Provavelmente, o mundo nunca irá chegar ao um volume tão grande de população, pois a pressão sobre os recursos naturais e a falta de bases econômicas forçaria uma queda das taxas de fecundidade ou o aumento das taxas de mortalidade.

A hipótese de fecundidade constante é apenas um exercício didático para mostrar qual seria a dinâmica demográfica caso o número médio de filhos ficasse inalterado. Historicamente as taxas de fecundidade do mundo caíram de 5 filhos por mulheres em 1950 para 2,5 filhos por mulher atualmente. A perspectiva é que continuem caindo, mas ninguém tem certeza qual será o ritmo de diminuição. As pesquisas sobre o tamanho ideal do número de filhos que os casais desejam é de 2 (dois), geralmente um menino e uma menina.

Mas existem mais de 200 milhões de mulheres sem acesso aos métodos contraceptivos no mundo, especialmente em países pobres. Além disto existem diversas forças políticas que são contra a queda da fecundidade, como o fundamentalismo de mercado, o fundamentalismo religioso, o conservadorismo moral e as forças pronatalistas que se amparam em um discurso anti-neomalthusiano.

Desta forma, o que os dados mostram é que se a taxa de fecundidade ficar em torno de 2,5 filhos por mulher, como atualmente, a população chegaria a 71 bilhões de habitantes em 2300. Se a taxa de fecundidade ficar em torno de 2,0 filhos por mulher a população mundial se estabilizaria em torno de 9 bilhões de habitantes em 2300. Mas se a taxa de fecundidade cair para 1,5 filhos por mulher a população mundial entraria em ritmo acelerado de decrescimento e chegaria a 720 milhões de habitantes em 2300.

O fato é que as taxas de fecundidade devem continuar a cair nas próximas décadas, embora ninguém saiba dizer se haverá estabilização e em qual nível. Nos atuais padrões de produção e consumo, a humanidade já ultrapassou as fronteiras planetárias e o mundo vive uma situação de déficit ecológico. Manter um ritmo acelerado de crescimento populacional só serviria para incentivar o ritmo continuo de crescimento econômico, o que dificultaria muito o avanço da qualidade de vida e a preservação dos ecossistemas e da biodiversidade.

Referência:
STUART BASTEN, WOLFGANG LUTZ, SERGEI SCHERBOV. Very long range global population scenarios to 2300 and the implications of sustained low fertility. Demographic Research, V. 28, Art 39, 2013, p. 1145-1166

ALVES, JED. Explosão, implosão ou divisão demográfica? EcoDebate, RJ, 25/09/2013

ALVES, JED. Novas projeções da população mundial até 2100. EcoDebate, RJ, 12/07/2013

ALVES, JED. Projeções para a população mundial 2000-2300: o futuro está aberto. EcoDebate, RJ, 04/10/2013

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

 

EcoDebate, 05/09/2014


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3 thoughts on “Projeções da população mundial e regiões na hipótese de fecundidade constante, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

  • MUITO PREOCUPANTE !!! Enquanto o direito de ter filhos for tido como algo inquestionável, caminharemos para esse estado gravíssimo. E enquanto isso, “sobram” menos de 10% das terras emersas para as outras milhões de espécies. Essa é a milenar arrogância antropocêntrica: achar que podemos lotar o planeta até a exaustão.

  • Torcendo pela taxa de 1,5 filhos por mulher. Que chegue logo. Faço a minha parte com 0 filhos biológicos.

  • Se através de centenas de milhares de anos – ou até mesmo, milhões de anos – a sobrevivência da espécie teve uma evolução biológica e se transformou na espécie humana que existe atualmente, todo esse processo foi conduzido por meio de muita luta contra as adversidades climáticas e do meio ambiente, e contra os outros animais, e, até mesmo, e, talvez, principalmente, contra grupos da própria espécie, conforme nos mostra a História, no pequenino período de alguns milhares de anos que ela cobre.
    Somente após o período conhecido como Idade Média, e, especialmente, após a Revolução Industrial, iniciada na segunda metade do século XIX, a Ciência e a Tecnologia obtiveram desenvolvimentos significativos, e foi a partir de então que a espécie humana, apesar das muitas guerras ocorridas, conseguiu crescer, e, teoricamente, afastar o meda da extinção da espécie.
    Mas, na prática, não foi isto que aconteceu.
    Em seu processo de evolução biológica, a espécie humana foi privilegiada com o desenvolvimento incomum da inteligência, comparando-se com as outras espécies animais, e esse grande desenvolvimento da inteligência, associado aos medos instintivos, necessários, principalmente, à defesa da vida de cada indivíduo, e, também, à defesa da existência da espécie, foi responsável pela criação de várias crenças religiosas, em diversas localidades do planeta Terra, pois, ao tempo em que a espécie tinha a sua inteligência em desenvolvimento, levada pela luta pela sobrevivência, ela se espalhava por toda a Terra.
    O grande desenvolvimento da inteligência humana e a expansão da espécie por todo o planeta Terra, na sua luta pela sobrevivência, é um fenômeno fantástico, mas, lamentavelmente, a inteligência não foi capaz de racionalizar o medo instintivo, e os grupos humanos travaram muitas guerras e escravizaram outros grupos.
    Como resultado, temos, hoje, uma população humana superpoderosa científica e tecnologicamente, mas que se encontra dividida em grupos – países – os quais vivem em constante combate – são os chamados acordos comerciais – e que muitas vezes descambam para guerras. Quanto às religiões politeístas, criadas no período que chamamos, aqui, de infância da espécie humana, foram transformadas, há cerca de quatro mil anos- a primeira – em religiões monoteístas, isto é, de um único Deus.
    Essa prevalência do medo instintivo da morte, que levou à criação, primeiro, de varias religiões, cada uma delas composta por várias divindades, e, depois, à criação de religiões monoteístas que ainda prevalecem, também gerou muitas guerras, e, também, é responsável pelo crescimento descontrolado da população humana, pois os poderes constituídos promovem o crescimento da população para beneficiar a parte privilegiada dela, mesmo assistindo à destruição das condições de vida do planeta Terra, que já se encontra em estágio final.

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