Mudando a História, artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] A História do Brasil começa um novo capítulo no dia 5 de outubro, data da eleição presidencial, seja com reeleição ou com uma nova pessoa na Presidência. Mas o curioso é que os debates sobre modelo de desenvolvimento entre Dilma e Marina (as duas primeiras colocadas em todas as pesquisas) já estão registrados em livro de História do Brasil, no capítulo sobre o segundo mandato de Lula, iniciado em 2006.
Bóris Fausto, professor da USP, é o autor dessa História do Brasil de 680 páginas, dedicada a “alunos do ensino médio e vestibulandos” e atualiza os principais acontecimentos até 2010. Nas últimas 40 páginas o livro passa a abordar o modelo de desenvolvimento e registra (na página 543 e seguintes) que “nesse embate, sobressaíram Marina Silva (ministra do Meio Ambiente) e Dilma Roussef, ministra de Minas e Energia e depois da Casa Civil”. Descreve os temas polêmicos e conclui que “entrechoques sucessivos levaram Marina Silva a demitir-se do cargo em 2008”.
Num capítulo posterior (página 556), sobre a sucessão de Lula e a polarização PT-PSDB, este livro de História avalia as tendências para o futuro: “Resta saber se a votação expressiva de Marina Silva representa ou não uma tendência de mudança nesse quadro de bipolaridade que tem marcado a disputa pelo poder federal no Brasil”. Na verdade, desde os anos 90 algumas tentativas de uma “terceira via” de candidatura presidencial chegaram a se tornar relativamente conhecidas, como é o caso de Ciro Gomes em 1998 e em 2002, ano em que o terceiro foi Garotinho, e também de Heloísa Helena e Cristovam Buarque em 2006, mas nenhum deles chegou a superar a dicotomia das últimas duas décadas.
Agora em 2014, quando nenhum analista político previu o acirramento da disputa, nem foi capaz de explicar adequadamente o novo fenômeno, é no livro de Bóris Fausto que encontramos as análises que melhor explicam a realidade atual. Fausto não se limitou a compreender o passado, mas principalmente a detectar tendências atuais e para o futuro. Os capítulos finais são dedicados a temas centrais que incluem o modelo de desenvolvimento econômico, o pré-sal, a democracia e a crise política, mas vão além como podemos ver em títulos tais como “A Controvérsia da Sustentabilidade”, “A posição do Brasil nas negociações sobre o Clima”, “A identidade da Política Externa”, “Controvérsias em torno da proliferação nuclear”.
A abordagem de Fausto também não é meramente descritiva, ele analisa em profundidade dilemas econômicos e as críticas “à utilização de recursos subsidiados do Tesouro para, através do BNDES, oferecer empréstimos subsidiados a um grupo restrito de empresas”. E também que, “na infraestrutura, os gargalos se estreitaram, com o crescimento econômico, levando portos e aeroportos à saturação, em meio a hesitações do governo sobre a conveniência de ampliar a participação do capital privado nestes setores”. Cientista social da USP, onde se dão os mais elevados debates científicos sobre o país, Fausto é colega de André Singer que, dispondo dos mesmos dados, explicou as escolhas do atual governo em seu livro sobre o lulismo.
O ambiente acadêmico da USP é, de fato, de onde saíram vários dos intelectuais cujas análises influenciaram o rumo do país nessa transição do século XX para o século XXI, cientistas sociais dos quais o PSDB e o PT se valeram para governar o Brasil e promover a democracia e a inclusão social desde então. Natural que seja também da USP a melhor explicação para os dilemas, as polêmicas e as mudanças do cenário político em curso agora, na História do Brasil.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.
EcoDebate, 03/09/2014
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