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Notícia

O Deus de Marina Silva, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

 

(A conjuntura eleitoral brasileira)

 

opinião

 

[EcoDebate] Em razão da fé que move Marina Silva, ela deve estar se perguntando, de forma absolutamente perplexa, o que afinal Deus quer com ela. Para muitos esse já é um problema de Marina na política.

Outros dirão que é apenas fruto do acaso e, outros ainda, que ela não passa de uma oportunista.

O fato é que Marina, talvez num dos maiores tapetassos da história política brasileira, foi impedida de criar seu partido – a REDE – e assim poder concorrer às eleições presidenciais de 2014.

Então, num gesto surpreendente, ofereceu-se a Campos para uma coligação em cima de um programa ainda a ser totalmente revelado, mas que contem propostas interessantes, como a questão da saída para uma nova matriz energética, baseada em fontes mais limpas e perenes. Para alguns foi um golpe de mestre, para outros um suicídio político. Essa foi a fala de um de seus assessores diretos, Pedro Ivo, no Fórum Mundial de Energia acontecido em Brasília recentemente. Eduardo Campo ainda estava vivo.

O que ninguém poderia prever é que ela, em razão de um acidente trágico, fosse elevada novamente à candidata presidencial, seja pela mão do Deus que ela crê, seja pela mão da fatalidade.

Claro que o cenário político muda totalmente. Marina tem inúmeras contradições como política. Ao mesmo tempo que favoreceu a Transposição do São Francisco como ministra, opôs-se ferrenhamente às mudanças no Código Florestal. A crise da água que atinge todo o território nacional já deu razão àqueles que se opunham a tamanha aberração ambiental.

O povo brasileiro não quer mais o PSDB. Pode ser qual for o candidato. O partido está ligado às privatizações vis, a entregue do patrimônio público ao setor privado, ao arrocho salarial, ao estrangulamento das aposentadorias, assim por diante. O PSDB, representa por excelência o interesse do grande capital, apoiado pela grande mídia. O povo sabe, quer mudanças, mas não voltar atrás.

Quanto ao PT, não há como negar as conquistas dos últimos anos em favor da população mais empobrecida. Nosso povo não pode abrir mão da melhoria do salário mínimo, da expansão da educação, do Mais Médico, da expansão do acesso à água para populações pobres do Nordeste, da expansão do emprego, enfim, da elevação do IDH que aconteceu nos últimos anos. Mesmo o Bolsa Família ainda continua necessário para milhões de pessoas. Porém, as ruas já disseram que o país quer mudar, mas para frente. Entretanto, nenhum candidato da oposição poderá dizer-se contra essas conquistas, até porque, se o disser, perde.

Mas, o PT estacionou na história e permanece com a mesma concepção crescimentista do século XIX e XX. Os sucessivos governos petistas fazem vistas grossas à degradação ambiental que compromete nossas riquezas naturais básicas como água, solos e biodiversidade. Além do mais, não consegue impor limites ao agronegócio que invade territórios indígenas, quilombolas e de comunidades tradicionais. Favorece grandes empreendimentos extremamente duvidosos para o bem do país para agradar com certeza as empreiteiras e financiadores de campanha. Além de tudo, uma parte de seus dirigentes desprezou a dimensão ética da política, que se é uma hipocrisia por parte da elite, para grande parte do povo ainda é importante.

Os pequenos partidos políticos, principalmente os de esquerda, tem nobreza em seus ideais, disposição de luta e defesa de uma justiça mais estrutural no país. Entretanto, quando pesa o fator eleitoral, eles não decidem.

Nesse cenário, com todas as contradições – próximos dela dizem que a aliança com Campo foi praticamente uma decisão unilateral – Marina ainda aparece como diferente. Pode ser que a intuição popular esteja enganada, mas é o que sugere a atual conjuntura política. Para muitos Marina é frágil e inconsistente. O debate eleitoral talvez possa dirimir a dúvida de muita gente.

A história surpreende novamente. A tendência é que haja segundo turno, provavelmente entre Marina e Dilma. Nesse caso, a fatalidade da história será também o funeral político do PSDB.

Roberto Malvezzi (Gogó), Articulista do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.

EcoDebate, 20/08/2014


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Alexa

11 thoughts on “O Deus de Marina Silva, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

  • Matéria totalmente tendenciosa. Não gostei.

  • Finalmente uma análise minimamente isenta e bastante coerente. Parabéns pelo texto. Meu voto? Pouco importa aqui, mas me senti amplamente contemplado pelo texto. E o voto do Gogó? Se nos fiarmos apenas pelo texto dificilmente saberiamos em quem ele vota, mas está bem fácil saber em quem ele não vota. Eu também, rs.

  • Nada como uma análise desapaixonada, lúcida e transparente !

  • Concordo integralmente com o texto, e também com o desejo do autor R. Malvezzi (Gogó) de que houvesse um ”funeral politico” do PSDB, porém, acho que o PSDB não será enterrado, no caso de um segundo turno entre Dilma e Marina. Porque ? Por que as pessoas do bem não conseguem se unir.
    Ou seja, duas candidaturas do porte de grandes mulheres como Dilma e Marina serão importantes para o debate da politica de desenvolvimento do Brasil. No entanto, devido à correlação de forças, devido à falta de unidade de setores de esquerda… a direita ganha espaço.
    É bem provável que as concessões continuem com qualquer uma das duas no governo federal, seja nas concessões já feitas pelo PT, ou considerando a concessão que a Marina também já fez, aceitando a coligação em SP entre PSB e PSDB. O que nos leva a perguntar: Caso a Marina Silva ganhe o governo federal, com qual PSB ela vai governar ?
    Por outro lado, o importante, deveria ser um pacto de unidade, de governabilidade entre as duas candidatas. Acredito que a questão não é de quem vai ser o funeral, mas: Se é possível a esquerda fazer um pacto de Ética pelo Brasil ?

  • Debora Wanderley

    Misturar religião com política de estado nunca deu certo em toda história da humanidade. Diferente do Pastor Evaraldo, que sabendo que não tem chance de ganhar, fala o que pensa calcado em dogmas bíblicos, a candidata Marina Silva esconde o jogo pra não perder votos. Este discurso de sustentabilidade é moderno e alavancou a candidata como alternativa contra o desenvolvimentismo de PT. mas como dizia meu pai “por baixo deste pirão tem caldo”, e este caldo é amargo. Teocracia é tudo de ruim. Sou professora e tenho assistido os professores da vertente evangélica na prática de proselitismo religioso dentro das escolas públicas, sendo o estado laico, imaginem se não fosse. Aqui na Bahia a perseguição´e demonização do candomblé já é caso de polícia. Nas aldeias indígenas os torés se transformaram em danças demoníacas. Para piorar a candidata se acha uma predestinada pela graça divina, já vimos isto com relação á nobreza no mundo e aqui no Brasil. Não vai dar certo, vão ser os ungidos e os outros.

  • Se o eleitorado brasileiro permitir que haja segundo turno nessa eleição presidencial, estará demonstrando a maior incoerência da Historia política deste país, e, talvez, de todos os países do planeta Terra, e, se, no segundo turno, eleger Marina Silva, então já não há mais nada a dizer, além de que a maioria do eleitorado se encontra em estado de total insanidade mental.

  • Concordo com o Autor. Entretanto peca ele quando diz que os empresários estão com o PSDB. As conquistas petistas perante os pobres, que pararam no tempo e nas condições mínimas da atenção social puramente paternalistas – sem saúde e sem educação, consequentemente sem esperança e sem crescimento, se limitaram ao processo eleitoreiro eis que os votos certos vêm desses mesmos pobres. Em paralelo, toda a política é voltada aos mega empresários, a exemplo da JBS (Friboi, Seara, Swift e outras marcas), das empresas de Eike Batista, da Gerdau, da Odebrescht e outras grandes empreiteiras, e, também, das empresas do falecido José de Alencar, hoje substituído pelo seu filho e candidato a senador, Josué. Ou seja, a política do PT passa por vantagens, nem tão grandes e meritórias, concedidas aos pobres, até a concessão de estrondosas benesses concedidas aos mega milionários através dos financiamentos via BNDS e Caixa Econômica Federal, a fundo perdido ou custo mínimo. Vejam, por exemplo, a construção do porto marítimo em Cuba, financiado pelo BNDS e entregue à Odebrescht e outras grandes empresas do setor. E o interesse do povo brasileiro, onde fica nessa história????

  • João Augusto Madeira

    Não sou religioso, mas trabalho na área ambiental. Por isso não quero a continuidade do atual governo, que nessa área é um desastre. Acho curioso é essa celeuma toda pelo fato de Marina Silva se assumir evangélica. Ela não faz disso um ponto de campanha. Muito mais uso dessa questão, fazem alguns políticos que durante a campanha viram “católicos fervorosos”. E ninguém acha isso ruim ou errado. Isso é preconceito. O estado é laico e não me importa a religião de Marina, desde que ela não misture isso com política, como não a vejo fazer.

  • Ah, um adendo ao meu comentarário anterior:
    Não entendo que foi um tapetasso o não registro do partido Rede, mas sim, um julgamento jurídico e tecnico do TSE.
    E que provavelmente foi uma falha (ou incompetencia ?) dos articuladores do partido.

  • Prof. José de Castro Silva - UFV

    Esse triângulo ´(Dilma – Marina – Aécio) é o pior que o das Bermudas. Enigmático, misterioso. Mas existe uma certeza: Dilma e Aécio sabem que ali tudo desaparece, até mesmo as esperanças de um país, de um povo. Esses dois conhecem as profundezas e os olhos do furacão. Não resta alternativa a não ser a Marina provar que é diferente dos dois, que todos conhecemos.
    A história saberá julgar Lula e seus apaniguados. Joaquim Barbosa e alguns poucos sérios não foram capazes de mostrar ao País o que Lula não sabia de nada, ninguém lhe disse nada. Apenas uma certeza: a classe média mudou muito e já sabe quem ele é, que não é tão coitadinho assim.

  • Não dar para titubear. Marina não tem mais identidade com um projeto consistente. Não tem equipe e não oferece confiança e segurança para a população e para os dirigentes dos setores produtivos. Dilma ainda é o caminho, pois o PT consolidou uma serie de politicas que efetivamente melhor a vida do povo.

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