O pico do fósforo e o aumento do preço dos alimentos
“There is no alternative to phosphorus and if it runs out
our global food production system would grind to a halt”
James Dyke (07/05/2014)
[EcoDebate] Para alimentar mais de 7 bilhões de habitantes do mundo, a agricultura e a pecuária já desmataram milhões de hectares de florestas e já sacrificaram a biodiversidade em nome da expansão das monoculturas e dos pastos. De um lado crescem os desertos verdes (plantações homogêneas sem biodiversidade) e de outro os desertos provocados pelo esgotamento dos solos, a salinização, a acidificação, a erosão e o abandono. As agressões à natureza devem se intensificar enquanto a população global caminha para a casa dos 9 bilhões de pessoas antes da metade do atual século.
Para alimentar os humanos e os animais domesticados que servem para a alimentação humana, a agricultura utiliza de maneira intensiva os combustíveis fósseis, quer seja nas suas diversas aplicações químicas e na produção de fertilizantes, quer seja para gerar energia e movimentar motores de máquinas e eletricidade. Porém, o pico do petróleo vai aumentar o preço da energia e vai colocar em xeque a agricultura “petroficada”.
Mas outra ameaça à expansão da produção de alimentos vem do pico do fósforo. O elemento fósforo é o ingrediente mais importante dos fertilizantes. Todavia, as reservas de rochas de fosfato do mundo estão acabando. Apenas quatro países – Marrocos, China, África do Sul e Jordânia – controlam 80% das reservas de fosfato utilizável do mundo. O Marrocos é um exportador particularmente importante, pois suas reservas respondem por cerca de 37% dos recursos mundiais.
A demanda por fertilizantes para as plantações e para ração animal cresceu por conta do aumento da população e do aumento do poder aquisitivo de populações como a da China. Este quadro favorece a especulação nos mercados globais. Em 2008, o preço da rocha de fosfato subiu 700%, e depois teve uma queda, mas tem oscilado em níveis elevados. No longo prazo, o esgotamento das reservas de fósforo são como uma bomba-relógio, ameaçando elevar de maneira significativa o preço dos alimentos.
Além disto, a produção de fósforo é altamente poluidora e destruidora do meio ambiente. Redeyef, na Tunísia, representa a decadência social que se segue à degradação ambiental (Pappagallo, 2014).
Diante do pico do fósforo e da poluição gerada na sua produção, a Alemanha estuda maneiras para obter uma reciclagem de fósforo e tenta aproveitar o material bruto das estações de tratamento de esgoto de Berlim. Em palestra no TED, o professor da Universidade de Montreal, Mohamed Hijri, alerta que até 2050 haverá menos fósforo no mundo e a necessidade de produzir mais alimento. A solução para o problema, segundo ele, é um cogumelo microscópico. Hijri estuda fungos micorrízicos arbusculares, buscando compreender a estrutura, evolução e reprodução desses organismos, os quais formam uma relação simbiótica com as raízes das plantas.
O fato é que o mundo tem pouco tempo para descobrir soluções criativas para evitar as consequências do pico do fósforo. Caso isto não aconteça, o aumento do preço dos alimentos será o resultado mais palpável do uso de uma agricultura que é intensiva em recursos não renováveis e altamente poluidora. Num futuro próximo, a segurança alimentar estará ameaçada pelos picos do petróleo e do fósforo.
Referências:
TED Mohamed Hijri: A crise do fósforo
Index Mundi: http://www.indexmundi.com/commodities/?commodity=rock-phosphate&months=180
The Guardian. Scientist urges government to address ‘peak phosphate’ risk. 14 July 2010
James Dyke. Peak Phosphorus Will be a Shortage We Can’t Stomach, University of Southampton, 07/05 /2014
Linda Pappagallo. Tunisia’s phosphate town is dying over our addiction to phosphorus. June 6, 2014
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 30/07/2014
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Uma das maiores fontes de fósforo que poderia ser utilizada é a urina, tanto de animais quanto humana, mas principalmente a humana (numa criação decente de bichos, em que estes tem acesso a área de pastagem em quantidade suficiente, a urina dos animais já aduba a pasatagem).
Hoje em dia, o aproveitamento da urina é praticamente zero. Ao invés disso, o nitrogênio dela é jogado no esgoto. Com sorte o esgoto é coletado, mas muito do esgoto simplesmente volta para os corpos de água, seja jogado em rios, seja por emissários, jogado no mar. Isso fertiliza a água dos rios e dos mares excessivamente, causando aumento das algas, diminuição do oxigênio diluído e mortandade de peixes e outros bichos que dependem da existência de O2 na água.
Enquanto isso, se minera fósforo mineral para se jogar em plantações. Muitas vezes, o fósforo aplicado é excessivo, e é lavado para as águas na próxima chuva. As águas correm para os rios. Vide parágrafo acima.
O fósforo do mundo não está “acabando”. O fosfato mineral está, mas o fósforo tem um ciclo que o recicla naturalmente. SE não ficássemos cutucando esse ciclo e acelerando a ida do fósforo para as águas e saída do fósforo dos solos, a produtividade das plantações não iria cair.
As grandes monoculturas tendem a ficar mais caras com o pico do fosfato mineral. Pescados também, com a eutrofização da água. Mas isso não é um problema sem solução.
Ao contrário, é um problema artificial, criado pela neura de tentar separar os nossos dejetos da nossa comida (mas não da nossa água), quando o correto seria tratar esses dejetos e usá-los como fertilizante. É menos bonitinho que fosfato branquinho tirado de uma pedra? Claro. Muito mais barato, porém, e uma coisa que não falta no mundo é xixi de gente.
Mariana;
legal a sua colocação,posto que os dejetos recolhidos em
banheiros públicos na Roma antiga eram levados pelos
canicolaes(catadores)para a agricultura e com isto contribuindo para sua expanção.