Justiça Federal determina trancamento do caso Riocentro
Foto: Zero Hora
A Justiça Federal determinou o trancamento da ação de julgamento dos militares envolvidos no caso Riocentro, atentado à bomba frustrado, ocorrido em maio de 1981. A decisão foi tomada ontem (2), por maioria, pela 1ª Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2).
A defesa dos acusados, na ação impetrada pelo Ministério Público Federal (MPF), pedia a concessão de habeas corpus e o trancamento da ação, sob alegação de que o julgamento era competência da Justiça Militar, e não da Justiça Federal, e de prescrição do crime.
Votaram a favor da concessão do habeas corpus os desembargadores Abel Gomes e Ivan Athié. Paulo Espírito Santo votou contra.
O representante do MPF, procurador Rogério Nascimento, disse que vai recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao próprio Supremo Tribunal Federal (STF). “Certamente [vamos recorrer]. O Ministério Público está convencido de que os crimes não prescreveram. A ordem [habeas corpus] foi concedida com base no argumento de que os crimes não são contra a humanidade. A maior evidência de que esses crimes contaram com a conivência do Estado é que foram necessários mais de 30 anos para esclarecê-los.” De acordo com Nascimento, os crimes contaram com a conivência do Estado, são crimes contra a humanidade, e o Ministério Público continua convencido de eles não estão prescritos.
Foram denunciados pelo MPF os militares reformados Wilson Luiz Chaves Machado, Claudio Antonio Guerra, Nilton Cerqueira, Newton Cruz, Edson Sá Rocha e Divany Carvalho Barros.
O advogado Rodrigo Roca, que representou os réus, comemorou o resultado do julgamento. “A decisão do tribunal, apesar de ter sido tomada por maioria, foi um resgate do Estado de Direito e um lembrete ao Ministério Público de que o país tem três poderes. Foi muito importante, como precedente, para as ações que ainda virão e para os habeas corpus que, consequentemente, vão repudiá-las. A ação foi bloqueada. Tem que ser arquivada, até que uma decisão de um órgão de jurisdição superior diga o contrário.”
Roca, que também defende os militares denunciados pelo MPF no caso Rubens Paiva (ex-deputado torturado e morto durante o regime militar, mas, dado, durante muito tempo, como desaparecido) disse acreditar que a decisão de hoje do TRF2 seja um precedente. “É uma página virada da história, e o interesse [por ele] agora é meramente histórico. Não há nada mais, do ponto de vista judicial, que se possa fazer.”
O atentado frustrado ao Riocentro, onde se realizava um show comemorativo ao 1º de Maio, deixou um militar morto e outro ferido, quando uma bomba que eles carregavam, dentro de um automóvel Puma, explodiu. O objetivo era causar uma explosão que atingisse o público do show e atribuir a culpa a setores de esquerda. Os acusados pelo atentado pertenciam a um grupo dissidente dentro do regime militar, contrário à abertura política em curso no país. O governo militar já havia decidido redemocratizar o país e devolver o poder aos civis, o que desagradava a facções mais radicais.
Por Vladimir Platonow, da Agência Brasil.
EcoDebate, 03/07/2014
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Lamentável! Sem justiça permanecem as condições para novos Riocentros. Lamentável!!!!
Quando Rui Barbosa, primeiro ministro da Fazenda do Brasil, determinou que todos os documentos relativos à escravidão fossem queimados, tinha um duplo fim: primeiro, proporcionar a integração racial no Brasil, colocando no esquecimento as atrocidades que ocorreram com toda uma raça; em segundo lugar, para evitar processos contra a União, tanto de antigos proprietários de escravos como de descendentes de ex-escravos.
Creio que devemos seguir o exemplo de Rui Barbosa e fazer o mesmo com relação à ditadura de 1964 a 1985: o que ocorreu pertence à História, não aos tribunais.
Foi assim que agiu o ex-presidente Lula, cuja firmeza impediu a deportação de Cesare Batisti para a Itália.
No caso particular do Riocentro, o que ocorreu foi um desespero de certos setores militares, que temiam ser colocados no banco dos réus com a redemocratização. Mais grave do que o Riocentro foi a tentativa de explosão do gasômetro do Rio de Janeiro, somente impedida pela decisiva atuação do Capitão Sérgio, posteriormente incluído entre os “punidos” pelos atos institucionais.
Creio que a guerra fria e seus efeitos, como o período ditatorial no Brasil, pertencem mais à História que aos tribunais. Não vejo motivo para se reabrir processos há muito prescritos.